O globo, n. 30958, 11/05/2018. Economia, p. 19

 

Incentivo ao corte de juros

Gabriel Martins

11/05/2018

 

 

Inflação abaixo do esperado em abril reforça aposta de analistas de que Selic cairá a 6,25%

A inflação de abril ficou abaixo das expectativas do mercado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,22%, abaixo das projeções de analistas, que esperavam 0,28% no mês, segundo sondagem da Bloomberg. O resultado do índice oficial de inflação reforçou as previsões de que o Banco Central deve reduzir a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 6,5% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para estimular a economia. A expectativa é de uma redução para 6,25% ao ano.

— Os resultados da inflação de abril abaixo do esperado reforçam a ideia de que existe espaço para a redução de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária — indicou Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.

Nos quatro primeiros meses do ano, a inflação chegou a 0,92%, a menor taxa para o período desde o Plano Real. Já o resultado acumulado em 12 meses ficou em 2,76% em abril, frente a 2,68% em março, após desacelerar por três meses seguidos. Mesmo assim, a taxa é inferior à registrada no mesmo período do ano passado (4,57%) e bem abaixo da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central (BC) de 4,5% este ano.

 

SINAIS DE DEMANDA FRACA

Luciano Rostagno, estrategista do banco Mizuho, tem avaliação similar. “A despeito da aceleração do IPCA (que passou de 0,09% em março para 0,22% em abril), os dados continuam mostrando cenário muito benigno de inflação, o que deve levar o BC a cortar a Selic na próxima semana para mínima recorde de 6,25%“, escreveu, em nota a clientes.

Em relatório, Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, afirma que o desempenho do IPCA vai encorajar o Copom a fazer um último corte nos juros. Ele pondera, porém, que a recente alta do dólar e a turbulência nos mercados internacionais devem levar o Copom a sinalizar que o ciclo de corte nos juros chegou ao fim.

Num sinal de que a atividade econômica ainda está fraca no país, os preços de serviços ficaram estagnados em abril, com alta de apenas 0,03%. Vários itens tiveram ficaram mais baratos, como alimentação fora de casa (-0,22%) e aluguel residencial (-0,36%), informou o IBGE.

Com isso, em 12 meses, a inflação de serviços acumula alta de 3,46%. Essa taxa está em queda há pelo menos 12 meses e costuma ser acompanhada pelos economistas como um termômetro da demanda dos consumidores, já que os preços dos serviços são muito afetados pela renda dos trabalhadores.

Para os analistas, a menos que haja uma recuperação do mercado de trabalho, não há risco de maior pressão inflacionária. Para Leal, o contingente de desempregados — de 13,7 milhões — contribui para que os indicadores econômicos divulgados recentemente, como a inflação e a produção industrial do mês passado, apresentem tendência de queda, com resultados abaixo da expectativa do mercado:

— Quando você observa os números dos índices que estão sendo divulgados, o que está surpreendendo negativamente é o desempenho do mercado de trabalho. Com esse quadro, o consumo piora, e a produção industrial, também.

A demanda fraca é um dos fatores que explicam o desempenho da inflação em abril, segundo Mauro Rochlin, professor da FGV-Rio:

— Com a recessão e com a grande quantidade de desempregados, há uma demanda que não exerce pressão maior sobre os preços.

A economista Maria Andreia Parente Lameiras, do Ipea, a questão do desemprego não pode ser apontada como única explicação para o resultado da inflação abaixo do esperado:

— O desemprego está caindo. Pode não ser na velocidade esperada, mas está caindo. A massa salarial está voltando a crescer e, quando ela cresce, teoricamente é esperado que a demanda das famílias comece a voltar.

De acordo com Maria Andreia, outras variáveis podem contribuir para segurar a inflação.

— Uma das causas para esse índice abaixo do esperado, realmente, pode ser a demanda. Entretanto, vale destacar a redução dos custos. Por exemplo, o reajuste do salário mínimo foi baixo, e o preço dos aluguéis também seguiu tendência de queda. O custo do setor de serviços está um pouco mais baixo, e isso ajuda a segurar o aumento de preços — completa.

 

REMÉDIOS E PLANO DE SAÚDE EM ALTA

Remédios e planos de saúde tiveram o maior peso na inflação em abril. Os primeiros tiveram alta de 1,52%, devido ao reajuste anual que entrou em vigor em 31 de março, enquanto os planos avançaram 1,06%. A alta nos planos de saúde, segundo Fernando Gonçalves, coordenador do índice de preços do IBGE, ainda é reflexo do reajuste de 13% autorizado no ano passado para contratos individuais. O índice é aplicado no mês de aniversário do contrato. Como o IPCA está muito baixo, em abril os planos de saúde acabaram tendo peso maior:

— O reajuste dos planos de saúde individuais, no ano passado, foi de 13%. Além disso, ele tem um peso de cerca de 4% no no índice.