Título: Arrocho de mais R$ 368 mi
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2012, Economia, p. 12

Para facilitar o trabalho do Copom na redução da taxa básica de juros, o Planejamento amplia os cortes no Orçamento

O governo federal deu ontem mais uma demonstração de que está disposta a cumprir a promessa de ajustar as contas públicas. Na revisão bimestral de receitas e despesas da União, o Ministério do Planejamento anunciou um bloqueio extra de R$ 368,6 milhões no Orçamento deste ano. A decisão da equipe econômica busca facilitar a trabalho do Banco Central no combate a inflação e permitir que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza a taxa básica de juros (Selic) dos atuais 9,75% para 9% ao ano na reunião do próximo mês.

O corte anunciado em fevereiro era de R$ 55 bilhões, a que sacrificou até mesmo as áreas de saúde e educação, consideradas vitais pela presidente Dilma Rousseff. Agora, o governo foi obrigado a fazer uma reavaliação das receitas e despesas e, como não queria passar para o mercado a impressão de que não conseguiria colocar o ajuste em prática, a ministra Miriam Belchior ampliou a valor para R$ 55,07 bilhões. A tesourada maior foi nas chamadas despesas não obrigatórias, cujo bloqueio passou de R$ 35,01 bilhões para R$ 35,4 bilhões.

Com o esforço, a equipe econômica quer atingir a meta cheia de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública), sem abater os gastos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Este ano, ela é de 3,1 % do Produto Interno Bruto (PIB) ou R$ 139,8 bilhões. Para alcançar esse resultado, o governo continua apostando em um avanço da atividade de 4,5% e em uma inflação de 4,7% em 2012.

Na avaliação de economistas, embora não tenha impacto relevante no mercado financeiro, o novo corte reforça a tendência de controle das contas públicas. "O número em si não quer dizer muita coisa. Mas ratifica o compromisso do governo com a sustentabilidade das finanças públicas", afirmou Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management. Para Felipe Queiroz, analista da Austin Rating, apesar de estar em uma trajetória de ajuste fiscal, o governo não dá importância a setores estratégicos. "Ele ainda carta muito investimento. Embora gastos com educação e infraestrutura, por exemplo, não deem retorno a curto prazo, têm efeito positivo a médio e a longo", observou.