Título: Família questiona polícia de Sydney
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 21/03/2012, Mundo, p. 17

Família questiona polícia de Sydney

Testemunhas contradizem a versão oficial do incidente. Amigos organizam protesto A investigação na Austrália sobre a morte do brasileiro Roberto Laudisio, 21 anos, será acompanhada por uma comissão independente. O governo de Nova Gales do Sul, estado onde fica a cidade de Sydney, nomeou um ouvidor para verificar como foi a atuação da polícia. Laudisio voltava para casa de uma festa, na madrugada de domingo, quando foi perseguido por agentes, que o imobilizaram com uma arma de choque, conhecida como taser. Os disparos mataram o rapaz. Uma irmã e um tio de Laudisio chegaram a Sydney na noite de segunda-feira para buscar mais informações sobre o incidente. Outra irmã do brasileiro já mora na cidade.

A identidade do jovem só foi confirmada na noite de ontem (horário local) pelo Consulado-Geral do Brasil em Sydney. O secretário da representação, André Costa, disse que há poucas informações sobre o que ocorreu e restam muitas perguntas. "Há versões conflitantes. A polícia tem guardado reserva, e esse silêncio só contribui para que haja mais especulação", criticou, em entrevista ao Correio. O Itamaraty divulgou nota na qual "deplora a notícia da morte" e cobra esclarecimentos das autoridades.

Na falta de explicações convincentes, surgem novos relatos sobre o que pode ter acontecido. Segundo André Costa, amigos de Laudisio na Austrália afirmam que ele não é o homem que aparece fugindo de policiais em um vídeo divulgado pela imprensa local. Outra informação conflitante é a de que o estudante vestia uma camiseta branca, conforme o relato da polícia. Uma testemunha ouvida pelo jornal The Sydney Morning Herald disse ter visto Laudisio correndo sem camisa, gritando por socorro.

"Vamos monitorar o trabalho das autoridades e prestar assistência à família", garantiu o secretário do consulado brasileiro. "Os amigos acreditam que ele tenha sido confundido, e ainda não há o vídeo do interior da loja para ajudar a esclarecer isso", lembra o cônsul André Costa. Não há prazo para o fim das investigações e a família ainda não anunciou uma decisão sobre o enterro.

Falando à reportagem por telefone, Domingos Laudisio, outro tio do rapaz, reclamou das contradições. "Tudo o que eu sei é o que está sendo divulgado pela imprensa", disse. Domingos afirmou que o jovem estava em situação legal na Austrália e pretendia terminar a faculdade por lá. Ele estava no primeiro ano de administração na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e morava em Sydney desde junho do ano passado. "Simplesmente, não tenho palavras. Estamos abalados", desabafou.

Indignação Pelas redes sociais, amigos manifestaram revolta com as circunstâncias da morte de Laudisio. Eles criaram um cartaz no qual o rosto do jovem, em preto e branco, aparece acompanhado das palavras "luto" e "justiça". Está prevista para 30 de março uma grande manifestação em frente ao Consulado-Geral da Austrália, em São Paulo. Os amigos convocaram mais de 5 mil pessoas a levarem ao local um pacote de biscoitos, em referência à alegação da polícia australiana de que Laudisio teria roubado a mercadoria de uma loja de conveniência. Uma amiga do rapaz disse que a data do protesto ainda não está confirmada, à espera de uma posição da família.