O globo, n. 30957, 10/05/2018. País, p. 5

 

Efeito Barbosa

Sérgio Roxo

10/05/2018

 

 

Desistência de ex-ministro do STF pode ajudar a desbloquear debate sobre ‘Plano B’ do PT

A saída do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa da embolada corrida presidencial deste ano pode gerar impactos até nas discussões internas do PT. As movimentações na centro-esquerda, geradas a partir da saída de Barbosa do xadrez eleitoral, podem forçar os petistas a destravar as discussões sobre os rumos que o partido deve tomar diante da possibilidade de o ex-presidente Lula ser impedido de concorrer ao Planalto — o petista teve uma condenação por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá confirmada em segunda instância. Segundo a lei eleitoral, isso o torna ficha-suja.

Com a desistência de Barbosa, o PSB ficou sem um candidato natural e mais próximo de se juntar à campanha de Ciro Gomes (PDT). O casamento entre as duas siglas reuniria, de cara, dois dos três maiores partidos de centro-esquerda. A expectativa é que o PCdoB, que hoje mantém a pré-candidatura da deputada estadual Manuela d´Ávila, seria facilmente atraído para essa união, o que deixaria o PT sozinho. Com as três legendas, a chapa teria um tempo de televisão semelhante ao do PT e uma quantia razoável de recursos dos fundos Eleitoral e Partidário.

Somados, o isolamento do PT e a força da chapa formada pelos três dos seus antigos aliados seria um importante argumento para lideranças petistas que têm defendido a discussão sobre caminhos alternativos à candidatura de Lula, como o ex-prefeito Fernando Haddad e o ex-ministro Jaques Wagner, driblarem a patrulha que têm enfrentado e iniciem o debate sob o risco de ficar tarde demais. Hoje, a ordem dentro da sigla é não discutir qualquer “plano B”.

E são justamente os dois nomes apontados como possíveis substitutos de Lula na urna, Wagner e Haddad, os que mais têm sofrido com a vigilância petista.

Comandados pela presidente da legenda, a senadora Gleisi Hoffmann, os dirigentes petistas interditaram qualquer discussão interna sobre os rumos na disputa presidencial. Quem ousa apontar outra solução que não seja o ex-presidente é rotulado de “traidor de Lula". No plano traçado pelos caciques, o petista será registrado como candidato no dia 15 de agosto, mesmo que continue preso até lá. É nessa data que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) avaliará se aceita ou não o registro da candidatura

Há quem defenda até que, caso o TSE aplique a Lei da Ficha Limpa, barrando a candidatura de Lula, o partido boicote as eleições. A ala mais moderada dos petistas, porém, considera esse caminho quase suicida e argumenta que o mais importante é trabalhar para que um candidato de centro-esquerda, independentemente do partido, chegue ao Palácio do Planalto.

Reunidos anteontem logo depois do anúncio da desistência de Barbosa, os dirigentes petistas decidiram que voltarão a procurar o PSB para tentar convencer o partido a apoiar Lula. Mas até socialistas próximos ao PT, como o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, entendem que é preciso “encarar a realidade" de que o ex-presidente não será candidato e mudar o foco do debate.

De qualquer forma, o efeito Barbosa pode facilitar o caminho dos petistas que querem se juntar a Ciro. Eles se livrariam do trabalho de costurar uma aliança entre os partidos de centro-esquerda. Involuntariamente, o exministro do Supremo pode fazer com que isso se resolva como uma certa facilidade. Bastaria ao PT pular no barco dos antigos aliados já preparados para a travessia eleitoral.