O globo, n. 30957, 10/05/2018. País, p. 7
IML: Restos mortais são de três vítimas
10/05/2018
Fragmentos retirados de escombro em SP seriam de um adulto e duas crianças
-SÃO PAULO- Os restos mortais encontrados nos últimos dias nos escombros do prédio que desabou no centro de São Paulo no último dia 1º têm características compatíveis com um adulto e duas crianças, segundo análise feita pelo Instituto Médico Legal (IML) e divulgada ontem à noite. Ainda não foi possível determinar o sexo e a estatura das vítimas, de acordo com a polícia.
Por enquanto, apenas duas crianças estão sendo procuradas oficialmente: os gêmeos Werner e Wendell, de 9 anos, filhos da catadora Selma de Almeida Silva, de 41, também desaparecida. Um irmão de Selma que mora no interior da Bahia viajou a São Paulo e procurou a polícia para ceder material genético que possa ajudar na identificação. A análise será feita nos próximos dias.
Além de Selma e seus filhos, os bombeiros também procuram o casal Eva Barbosa Lima, de 42 anos, e Walmir Sousa Santos, de 47.
HOMEM PROCURADO VIVE EM MINAS
Ontem, a polícia civil informou que o nome de Arthur Hector de Paula foi retirado da lista de moradores da ocupação desaparecidos. Uma tia dele prestou depoimento e confirmou que ele está vivendo em Minas Gerais.
Até o momento, a única vítima identificada foi Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, que morreu no desabamento do prédio, instantes antes de ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros.
Também ontem, a Polícia Civil ouviu o depoimento da mulher que foi apontada por moradores da ocupação como responsável por recolher os aluguéis. Nireudes de Jesus Oliveira, conhecida como irmã Nil, disse à polícia que era apenas uma moradora do prédio e que havia cobrança de alugueis.
No dia seguinte ao incêndio, os semteto relataram que pagavam até R$ 400 por mês para o Movimento Luta Social por Moradia (MLSM). Nil negou que houvesse uma cobrança tão alta e disse que, no máximo, os moradores pagavam uma taxa de manutenção.
Nil afirmou que, no dia do incêndio, estava no mezanino do edifício, um andar acima do nível da rua. Ela relatou que acordou assustada, saiu correndo, bateu a cabeça e desmaiou. Segundo Nil, ela só soube do desabamento no dia seguinte.
— Tinha um grupo de mulheres que se sentava e falava a respeito da taxa. Era para manutenção de banheiro, chuveiro e uma pia. Era uma contribuição para nós comprarmos o material para os banheiros — afirmou.
Outras pessoas apontadas como líderes do MLSM já haviam negado à polícia a cobrança de aluguel.
Movimentos de moradia fizeram ontem uma manifestação no centro de São Paulo. O “Ato em defesa das ocupações e contra a criminalização dos movimentos de moradia” contou com a presença de pré-candidatos, como Guilherme Boulos, que concorre à Presidência pelo PSOL, e Luiz Marinho, que tenta ser governador de São Paulo pelo PT.
Os organizadores do movimento estimaram em 10 mil os presentes ao ato. A Polícia Militar não deu números.
Boulos cobrou o poder público por ações efetivas em relação aos ex-moradores do prédio, políticas públicas para habitação e criticou o uso político do desabamento, mencionando desmoralização de movimentos.
— Nós não vamos aceitar que se use a tragédia para criminalizar os movimentos sociais nesse país. Se tem algum criminoso nesse país é o MDB do Michel Temer — disse Boulos.
Marinho focou as críticas no ex-prefeito João Doria, que deverá enfrentá-lo nas urnas em outubro.