O globo, n. 30957, 10/05/2018. Rio, p. 9

 

Siciliano diz que está indignado com a denúncia

Bruno Alfano

10/05/2018

 

 

Vereador nega conhecer miliciano e afirma que ficou surpreso ao saber de depoimento

O vereador Marcello Siciliano (PHS) voltou a negar, em uma entrevista coletiva concedida ontem pela manhã num condomínio do Recreio, qualquer ligação com a morte de Marielle Franco (PSOL) e Anderson Gomes. O político disse que está indignado com o fato de a testemunha ter contado à polícia que ele e o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, queriam a morte da parlamentar. A denúncia está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios do Rio. Siciliano já havia prestado depoimento na especializada como testemunha, assim como outros integrantes do Legislativo municipal.

— Gostaria de falar, antes de mais nada, sobre a minha surpresa em relação ao que aconteceu ontem (anteontem), sobre a minha indignação como ser humano. Minha relação era muito boa (com Marielle Franco), tinha um carinho muito grande por ela. Agora, mais do que nunca, faço questão de que esse crime seja esclarecido mais rápido do que nunca — afirmou o vereador, que também negou desavenças políticas com a vítima.

Siciliano contou que está sendo “massacrado nas redes sociais por algo que foi supostamente dito por uma pessoa que a gente nem sabe a credibilidade que tem”. Ele disse que não deveria estar sendo investigado e que as informações do delator deveriam ter ficado sob sigilo. Na entrevista, o vereador afirmou que está à disposição da polícia para prestar esclarecimentos.

 

“ESSE ENCONTRO NUNCA EXISTIU”

A nova testemunha do caso contou ter presenciado quatro encontros de Siciliano com Orlando de Curicica. Segundo ela, numa dessas ocasiões, os dois teriam conversado sobre o fato de Marielle estar contrariando os interesses de um grupo paramilitar de Jacarepaguá. Questionado se conhece o miliciano, o vereador respondeu que, quando visita uma comunidade carente, é sempre recebido por dezenas de pessoas:

— Eu não me encontrei com ele. Posso ter me encontrado com diversas pessoas em comunidades, onde eu caminho. Vou a diversas comunidades. Aonde me chamam, eu vou. Muito difícil eu saber os nomes de todas as pessoas com que eu interagi. Nego ter me encontrado com ele em um restaurante. Esse encontro nunca existiu.

O vereador disse ainda que questões sobre o tráfico e a milícia não deveriam ser tema da pauta de políticos.

— Eu acho que a gente transforma a cidade dando direito a oportunidades. O resto, milícia, tráfico, é problema de polícia. E não de política. O meu reduto está nas Vargens. O direito à cidadania é pelo que eu luto. Eu sou totalmente contra qualquer tipo de poder paralelo. A polícia esta aí para me proteger. Que vá lá e faça o trabalho dela. Eu nunca fui interpelado — afirmou.

Siciliano também se pronunciou sobre um outro nome citado no depoimento da testemunha. Ela identificou como Thiago Macaco o homem que teria sido encarregado, pelo grupo paramilitar ligado a Orlando de Curicica, de fazer um levantamento sobre a rotina da vereadora.

— Não conheço Thiago Macaco. Mas é muito complicado dizer os nomes das pessoas com quem a gente interage. Estou na região das Vargens desde 1998, quando comecei minha trajetória política. Ali, sim, pode dizer que é meu coração. Ali é meu reduto eleitoral. Eu estou perplexo com isso. Sou pai de família. É uma mentira grosseira.

Sobre possíveis desavenças com Marielle, inclusive no campo político, Siciliano foi categórico:

— Nunca tive problema algum. Defendi um projeto dela sobre LGBTs. Sempre tive relação muito boa com ela. Tinha muito carinho, ótima relação. Nunca tive problema com direita, esquerda. Ela se sentava na minha frente, e a gente conversava muito. Cada vereador defende uma bandeira, isso é legítimo de cada um.