Título: Combate e prevenção
Autor: Araújo , Saulo
Fonte: Correio Braziliense, 01/04/2012, Cidades, p. 28

Nunca se falou tanto em combate à epidemia de drogas no Brasil como nos últimos quatro anos. No Distrito Federal, o GDF anunciou programas, reorganizou o policiamento ostensivo, mas ainda é possível ver pessoas como zumbis a vagar pelas ruas da capital federal por conta dos efeitos do crack. O Plano de Enfrentamento ao entorpecente, por exemplo, saiu do papel em agosto de 2011. O orçamento de R$ 65 milhões deveria ser aplicado nas áreas de saúde, assistência social, educação e segurança. Sete meses depois, o cenário pouco mudou.

Os traficantes continuam em ação. Estatísticas da Secretaria de Segurança Pública mostram que as apreensões de pedras subiram 20% no passado, em relação a 2010. Passou de 52kg para 66kg em 2011. No mesmo período, as polícias Civil e Militar também recolheram mais maconha: saltou de 1.020kg para 1.224kg. O chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar, coronel José Carlos Neves Ribeiro, classifica o trabalho desenvolvido até agora como "satisfatório" (leia entrevista na página 29). "Lançamos a Operação Marco Zero, conseguimos limpar a área central de Brasília e, agora, vamos expandir o projeto para outras cidades, pois, até agora ela se concentrou em Ceilândia, em Taguatinga e no Plano Piloto."

No entanto, o programa, que envolve 15 secretarias do GDF, ainda não conseguiu devolver a tranquilidade aos moradores de muitas regiões. Na QNN 3 de Ceilândia Norte, viciados se concentram na maior cracolândia do Distrito Federal. A qualquer hora do dia ou da noite, é possível assistir a dezenas de homens, mulheres, jovens e crianças entrando nas galerias de esgoto para fumar pedras da droga. O Correio denunciou o caso em várias reportagens. O local ganhou o nome de Bueiro do Crack.

Risco O subsecretário de Políticas sobre Drogas no DF, Mauro Gil Guimarães, acredita que a situação tende a mudar em médio prazo. "Em 2007, quando o governo federal lançou um programa de políticas sobre drogas, os trabalhos deixaram de ter foco na repressão e passaram a ter um caráter preventivo, no sentido de evitar que crianças e adolescentes caiam no submundo das drogas", disse.

Segundo ele, o órgão, ligado à Secretaria de Justiça (Sejus), pela primeira vez desenvolve trabalhos com crianças de 1 a 5 anos matriculadas na rede pública de ensino. "Fazemos algo bem lúdico, com apresentações teatrais, tudo voltado para esclarecer sobre os malefícios das drogas", explicou.

A situação dos moradores de rua do DF também preocupa. Antes de o crack invadir a cidade, os mendigos viviam de pedir esmolas. Os que alimentavam algum vício se valiam do álcool, do tabaco e, esporadicamente, da maconha. Com a chegada da droga mortal e barata, essa população passou a oferecer mais riscos, pois muitos passaram a roubar e a furtar para sustentar a dependência. A educadora do Núcleo de Abordagem Social em Espaços Públicos da Secretaria de Ação Social e Transferência de Renda Marcela Alcântara disse que houve um avanço nessa situação no último ano. "Temos a promessa de inauguração de dois centros de referência para a população em situação de risco."