O Estado de São Paulo, n. 45432, 27/02/2018. Política, p. A4

 

Operação da PF dificulta 'Plano B' do PT ao Planalto

27/02/2018

 

 

Cartão Vermelho. Ex-governador da Bahia Jaques Wagner, considerado alternativa a Lula, é indiciado por corrupção em inquérito que investiga desvios em estádio da Copa

A operação da Polícia Federal que atingiu ontem o ex-governador da Bahia Jaques Wagner impôs mais dificuldades para o PT ter candidato próprio ao Palácio do Planalto. Cotado como possível opção petista na eleição presidencial caso Luiz Inácio Lula da Silva seja mesmo enquadrado na Lei da Ficha Limpa e fique impedido de disputar, Wagner foi indiciado. Ele é apontado em inquérito como destinatário de R$ 82 milhões, em propinas e caixa 2, desviados da obra de reconstrução do estádio da Fonte Nova, em Salvador .

A ação da PF, que chegou a pedir a prisão temporária do exgovernador – não acolhida pela Justiça – e fez busca e apreensão no apartamento dele, deu fôlego novo para o discurso de vitimização do PT. A cúpula petista classificou a Operação Cartão Vermelho como mais um episódio de “perseguição política” ao partido. Nome de maior destaque da legenda no Nordeste – principal reduto eleitoral do partido – Wagner, para alguns petistas, passou a ser considerado carta fora do baralho na disputa pela Presidência.

Diante de um revés atrás do outro, a cúpula do PT ainda não sabe o caminho a seguir. Com o aval de Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad iniciou um movimento para construir a unidade da centro-esquerda na eleição. Coordenador do programa de governo do petista, Haddad jantou recentemente com o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes.

O discurso oficial é de que a aliança teria apenas o objetivo de montar projetos de desenvolvimento para o País, mas, na prática, o que uma ala do PT começa a discutir é a viabilidade de uma frente de centro-esquerda sem candidato próprio do partido. Essa ideia, porém, nem de longe conta com a maioria do PT.

Haddad foi criticado por se reunir com Ciro, na casa do exdeputado Gabriel Chalita (PDT). Em conversas reservadas, dirigentes do PT dizem que o ex-prefeito age para ser vice do pedetista.

As articulações do ex-prefeito, no entanto, têm sido chanceladas pelo próprio Lula. Em conversas reservadas, amigos do expresidente já avaliam que ele corre grande risco de ser preso. Não querem, no entanto, que o candidato seja de outro partido. Muito menos que seja Ciro, considerado um “falastrão”.

 

‘Estranhar’. Wagner também vinculou a operação da PF às eleições. “É no mínimo de se estranhar. Quando a gente chega no ano eleitoral, efetivamente eu sou citado como plano B, acontece o mesmo que ocorreu com o Fernando Haddad, também tido como plano B e também foi aberto inquérito contra ele (Haddad foi indiciado por caixa 2 na campanha à Prefeitura de São Paulo em 2012)”, disse.

O ex-governador baiano já resistia à ideia de substituir Lula na chapa. O seu plano sempre foi o de concorrer ao Senado. Nos bastidores, Wagner chegou a dizer que não poderia perder de jeito nenhum essa eleição. Teme ficar sem cargo e sem foro privilegiado.

O comando do PT ainda diz que inscreverá a candidatura de Lula no dia 15 de agosto, mesmo se ele estiver preso. Trata-se de uma estratégia para fazer a defesa política do ex-presidente e do partido. A avaliação na sigla, no entanto, é de que se Lula for preso não terá chance de reverter o quadro para concorrer. É por isso que o Plano B continua sendo tão importante.

Não há acordo, no entanto, sobre o que fazer e a desorientação é geral. Haddad não tem apoio da cúpula para ser o “herdeiro” de Lula, mas o partido pode ser obrigado a bancar a candidatura dele ou a apoiar um nome de fora, mesmo a contragosto.

“Estrategicamente não seria bom para o PT abrir mão de candidatura presidencial própria. Certamente, o modus operandi das eleições de 2014, os escândalos de corrupção e o processo de impeachment serão temas a serem retomados no debate eleitoral em 2018 pelos adversários do partido”, disse o cientista político e professor da FGV-SP, Marco Antonio Carvalho Teixeira.

Para o historiador Lincoln Secco, professor da Universidade de São Paulo (USP), a ação contra Wagner não enfraquece o PT no Nordeste já que o atual governador da Bahia, Rui Costa, sucessor de Wagner, é quem comanda a máquina estadual e Lula tem capital político próprio na região. “Wagner era mesmo um nome pronto para substituir Lula”, avaliou o historiador. / VERA ROSA, RICARDO GALHARDO e HELIANA FRAZÃO, ESPECIAL PARA O ESTADO

 

Defesa. Jaques Wagner durante entrevista coletiva no Centro Administrativo da Bahia, em Salvador, após operação da PF

Operação Cartão Vermelho​ - Edifício onde mora Jaques Wagner, em Salvador, alvo de buscas e apreensão da Polícia Federal.

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Partido vê ‘perseguição’ e acusa ‘setores’ da Justiça

27/02/22018

 

 

A cúpula do PT classificou as buscas da Polícia Federal no apartamento do ex-governador da Bahia Jaques Wagner, em Salvador, como “mais um episódio da campanha de perseguição” contra o partido e acusou abuso de autoridade de “setores” do Judiciário. Wagner era um nome cotado para ser candidato do PT ao Planalto, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa.

“A escalada do arbítrio está diretamente relacionada ao crescimento da pré-candidatura do ex-presidente Lula nas pesquisas, nas manifestações populares, nas caravanas de Lula pelo Brasil”, disse a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), em nota. “Quanto mais Lula avança, mais tentam nos atingir com mentiras e operações midiáticas.”

No texto, Gleisi chamou de “invasão” as buscas no endereço de Wagner. “A sociedade brasileira está cada vez mais consciente de que setores do sistema judicial abusam da autoridade para tentar criminalizar o PT e até os advogados que defendem nossas lideranças e denunciam a politização do Judiciário”, escreveu ela.

Os líderes das bancadas da legenda na Câmara, Paulo Pimenta (RS), e no Senado, Lindbergh Farias (RJ), também criticaram a atuação da PF.

“A nova ação da Polícia Federal não deixa qualquer dúvida sobre o caráter persecutório e totalmente antirrepublicano do atual processo judicial em curso. Em mais um passo da escalada, evidenciam um planejamento de alvos a serem atingidos sob o falso, argumento do ‘combate à corrupção’. Enquanto processos envolvendo políticos de outros partidos ‘prescrevem’, lideranças do PT são objeto de sistemáticos ataques da parceria jurídica-midiática”, escreveram os dois parlamentares. / V.R.