O Estado de São Paulo, n. 45423, 27/02/2018. Política, p. A6

 

Wagner recebeu R$ 82 milhões, diz PF

Julia Affonso

27/02/2018

 

 

Segundo investigação, valor é relativo a propina e caixa 2 e teve origem no superfaturamento de obras da Arena Fonte Nova, em Salvador

O ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) foi indiciado ontem pela Polícia Federal por suspeita de ter recebido R$ 82 milhões em propina e caixa 2 para campanhas eleitorais. Segundo a investigação, o dinheiro foi desviado das obras da Arena Fonte Nova, estádio construído em Salvador para a Copa do Mundo de 2014. Em nota, a PF disse que o inquérito aberto apura fraude a licitações, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro.

Wagner, que governou o Estado entre 2007 e 2014, foi alvo, ontem, de mandado de busca e apreensão na Operação Cartão Vermelho. A investigação apura irregularidades na contratação dos serviços de demolição, reconstrução e gestão do estádio. Em entrevista coletiva, o petista afirmou que nunca recebeu pagamentos indevidos em toda a sua vida pública (mais informações nesta página).

De acordo com a PF, a licitação do estádio foi direcionada para beneficiar o consórcio Fonte Nova Participações (FNP), formado pelas empresas Odebrecht e OAS. “Verificamos que, de fato, o então governador recebeu uma boa parte do valor desviado do superfaturamento para pagamento de campanha eleitoral e de propina”, afirmou a delegada.

A PF pediu a prisão preventiva do ex-governador, o que foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1). Inicialmente, os investigadores queriam a condução coercitiva de Wagner, mas a medida está suspensa desde dezembro por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a delegada da Polícia Federal Luciana Matutino Caires, em 2009, o superfaturamento das obras ultrapassava os R$ 200 milhões. O valor atualizado, afirmou, está em cerca de R$ 450 milhões. Os R$ 82 milhões que Wagner recebeu, segundo a PF, vieram desse superfaturamento da obra.

Além de Wagner, foram alvo da operação o secretário da Casa Civil do Estado, Bruno Dauster, e um empresário próximo ao ex-governador. Ao todo, a Cartão Vermelho cumpriu sete mandados de busca e apreensão em Salvador. Houve buscas e apreensão no gabinete de Wagner, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo do Estado, pasta comandada pelo petista, e também em sua residência.

Na casa de Wagner, a PF apreendeu 15 “relógios de luxo”, mídias, computadores e documentos. “É sabido que ele tem interesse em relógios. Hoje (ontem) foram apreendidos 15 relógios de luxo. A gente ainda vai analisar o valor desses relógios, porque vai ser submetido à perícia técnica para calcular o valor”, afirmou a delegada.

 

Casa da mãe. Após deflagrar a operação, a PF afirmou que a Odebrecht entregou dinheiro na casa da mãe do ex-governador, no Rio. “A maioria das vezes em espécie”, disse a delegada. “Através de prepostos, não era o sr. Jaques Wagner que recebia de forma direta. A exceção foi feita na casa da mãe do sr. Jaques Wagner, no Rio de Janeiro”, declarou.

Segundo o superintendente Daniel Justo Madruga, da PF na Bahia, a entrega do dinheiro na casa da mãe do ex-governador ocorreu porque, segundo ele, doleiros em Salvador não tinham

capacidade de entregar a quantia desviada.

Ainda de acordo com a investigação da PF, os demais pagamentos direcionados ao ex-governador foram feitos por meio de intermediários. “A maior parte através de doações de campanha. Isso conforme as delações e alguns outros elementos de prova que temos nos autos”, afirmou Madruga.

 

OPERAÇÃO CARTÃO VERMELHO​. Investigação apura irregularidades na contratação dos serviços de demolição, reconstrução e gestão do estádio Arena Fonte Nova, em Salvador

 

Arena Fonte Nova

Irregularidades apontadas. Fraude à licitação, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro

Consórcio Fonte ​. Nova Participações (FNP), formado pela Odebrecht e OAS

Ordens judiciais ​. 7 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Salvador

R$ 450 milhões​. Obra teve valores superfaturados e “grande parte desviada para o pagamento de propina e o financiamento de campanhas eleitorais”, segundo investigações

 

Indiciados

Jaques Wagner (PT)

EX-GOVERNADOR DA BAHIA (2007-2014)

82 R$ milhões

Recebeu em propina e caixa 2, segundo a PF

A PF apreendeu 15 “relógios de luxo” na casa do ex-governador da Bahia

Bruno Dauster​ - SECRETÁRIO DA CASA CIVIL DA BAHIA

 

Caminhos do dinheiro

1 Odebrecht entregou dinheiro, segundo delatores, na casa da mãe de Jaques Wagner

2 Pagamentos também foram feitos por meio de intermediários

3 Outra parte dos repasses a Wagner foi via doações de campanha

 

 

FONTE: POLÍCIA FEDERAL INFOGRÁFICO/ESTADÃO