O Estado de São Paulo, n. 45423, 27/02/2018. Economia, p. B1

 

Recuperação se espalha e chega a mais de 60% dos setores da indústria

Daniela Amorim e Vinicius Neder

27/02/2018

 

 

Produção industrial. Levantamento do Iedi mostra que o crescimento do setor no ano passado começou a se disseminar para além da indústria automotiva, que foi a principal responsável pelo avanço; Dos 93 segmentos, 58 apresentaram resultados positivos

A indústria brasileira – que em 2017 voltou a crescer depois de três anos de queda – está vendo a recuperação se disseminar. O crescimento da produção industrial, no ano passado, foi além do setor automotivo, principal responsável pela retomada da indústria. Segundo estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados do IBGE, 58 dos 93 segmentos – 62% do total – apresentaram resultados positivos.

O movimento foi maior no quarto trimestre, quando 66 ramos avançaram em ritmo superior ao registrado no mesmo período de 2016. A disseminação do crescimento tem relação com o encadeamento entre setores, alavancado especialmente pelo setor automotivo.

A produção de veículos respondeu por metade da alta de 2,5% registrada pela indústria no ano passado. O bom desempenho acaba se refletindo em outros segmentos, como o de equipamentos de áudio e vídeo, borracha e plástico, têxteis e metalurgia. “O sinal é positivo e disseminado. Há um conjunto de desdobramentos e de relações intersetoriais que vão além do que a gente identifica como setor automotivo”, diz o economistachefe do Iedi, Rafael Cagnin.

Mas não é só a cadeia em torno da produção de veículos que tem se beneficiado. Fabricantes de equipamentos de informática, por exemplo, ou de comunicação também cresceram no ano passado . Na zona sul de São Paulo, uma fabricante de leitores de código de barras registrou um faturamento 20% maior em janeiro deste ano, na comparação com 2016. “Se continuar assim, vamos precisar rever o planejamento para o ano”, diz Marcos Canola, sócio e diretor comercial da Nonus. Isso não significa, no entanto, expansão nem contratação de funcionários, porque ainda há capacidade ociosa. Durante a crise, a empresa reduziu a equipe pela metade, para 40 pessoas, cortou investimentos, fechou um depósito e segurou reajustes. Com a melhora dos resultados, que começou a aparecer no fim do ano passado, Canola está um pouco mais animado. Em abril, a Nonus participará de uma feira de negócios na China, depois de quatro anos de fora. “Não é para engatar uma quinta marcha, mas não dá para ficar parado”, diz o empresário.

Os movimentos conservadores da indústria têm o objetivo de se preparar caso a recuperação seja maior. Os dados do Índice de Confiança da Indústria (ICI), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que o otimismo dos industriais ainda avança muito devagar. A prévia do índice de fevereiro, divulgado sexta-feira, aponta avanço de 0,2 ponto, para 99,6 pontos. Se confirmado, será o maior patamar desde outubro de 2013. “Essa recuperação é gradual, embora tenha ganhado tração. Não dá ainda para dizer que o setor está otimista nem muito confiante”, diz a coordenadora da Sondagem da Indústria da FGV, Tabi Thuler Santos.

Retomada. 2,5%​ foi o crescimento registrado pela indústria brasileira no ano passado, depois de três anos de queda; Em 2016, o recuo foi de 6,4%. No ano anterior, tinha sido de 8,3% e em 2014, de 3%