Título: O vaivém de Pagot, o lobista dos Transportes
Autor: Amando, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 01/04/2012, Política, p. 3

Pelos corredores do Ministério dos Transportes, Luiz Antonio Pagot ainda é saudado como "Doutor Pagot". Pivô da crise que levou a presidente Dilma Rousseff a demitir toda a cúpula da pasta, em julho do ano passado, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ainda é figurinha fácil no ministério, por onde circula com liberdade, com acesso inclusive ao ministro Paulo Sérgio Passos. Só entra pelo acesso privativo, cumprimenta os vigias e avisa que "vai ao gabinete".

O vaivém pelos andares do Ministério dos Transportes — cobiçado até hoje por seu partido, o PR — tem a ver com a nova atividade de Pagot. Antes todo-poderoso do setor de transportes, ele agora atua como consultor de empresas do segmento hidroviário. Leva clientes à pasta, faz o meio de campo entre políticos e o ministro, e troca informações sobre a rotina do órgão. O lobby ocorre num momento em que o governo decidiu entregar a manutenção de algumas hidrovias à iniciativa privada, com a promessa de crescimento do setor. Ponto para Pagot.

O Correio presenciou um desses encontros, em 15 de fevereiro, quando Pagot foi ao ministério para uma reunião técnica na Secretaria Executiva e um encontro em que apresentaria Riano Valente, presidente da empresa Companhia Docas de Santana, ao ministro. Entretanto, por meio da assessoria, Paulo Sérgio nega ter tido reuniões com Pagot, diz que nunca teve conhecmento das idas do ex-diretor ao edifício e tampouco menciona a intermediação feita por Pagot para marcar seu encontro com Riano.

O principal interesse de Pagot em ir ao ministério é para obter informações privilegiadas e fazer pedidos relacionados aos projetos em que atua como consultor. Desde dezembro, quando terminou a quarentena obrigatória após a exoneração do governo, o ex-diretor do Dnit criou com um sobrinho a empresa Peroto Pagot, com a finalidade de prestar consultoria na área de logística de transportes. Na mesma época, começou a negociar com um grupo de empresários de Mato Grosso um projeto de R$ 300 milhões, de integração de rodovias, hidrovias e portos para escoar a produção agrícola da região pelo porto de Santana (AP). Uma vez implantada, a ideia vai encurtar de 2,3 mil para 1,2 mil quilômetros a distância percorrida pela carga até a exportação, hoje feita pelo porto de Santos.

Trânsito livre Funcionários do prédio admitem que Pagot ainda tem trânsito livre nos Transportes. Nunca entra pelo acesso convencional, onde deveria mostrar a Carteira de Identidade e registrar a entrada. Usa a portaria privativa ao ministro e autoridades. Como os seguranças o conhecem dos tempos de Dnit, apenas o cumprimentam. "Vou ao gabinete", costuma informar.

No último 9 de novembro, foi isso que fez ao comandar um grupo de políticos que pediu audiência com Paulo Sérgio Passos para tratar de melhorias que precisavam ser feitas na BR-163, que liga o Sul ao Norte do país. "O Paulo Sérgio nos atendeu gentilmente e fizemos um cronograma de ações. O ministro cumpriu ipsis litteris. A obra na BR-163 é parte do projeto que estou implantando para a Cianport", contou Pagot. Foi com essa empresa, do empresário Cláudio Zancanaro, que a Peroto Pagot assinou contrato para prestar consultoria.

"Contratamos ele por causa da experiência que tem no setor", justificou Zancanaro, negando que tenha contratado o ex-diretor do Dnit por seus contatos no setor de transportes. No entanto, o próprio cliente de Pagot admite que as idas ao ministério foram motivadas por razões ligadas ao projeto que eles tocam juntos. "Eu acredito que (a visita de Pagot ao ministério) tenha sido para tirar informações do andamento da BR-163", afirmou o empresário.

O curioso é que a relação de Pagot com o Ministério dos Transportes é de mão dupla. O ex-diretor do Dnit diz que também costuma ser consultado pelo governo sobre atividades rotineiras da pasta (veja quadro abaixo). "Faço isso por pura satisfação e por ter expertise", diz.