O Estado de São Paulo, n. 45424, 28/02/2018. Política, p. A6

‘Candidato de mercado vai perder', diz FHC

28/02/2018

Ex-presidente afirma que País não é composto só do setor financeiro e defende um nome ‘que mostre que a vida será melhor e mais segura’

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato que se colocar como representante do mercado financeiro não terá chances na eleição presidencial deste ano. “O País não é composto de mercado só. Quem for o candidato de mercado vai perder”, disse ontem o tucano durante o primeiro Fórum Estadão – A Reconstrução do Brasil, série de seis eventos organizados pelo Estado à luz das eleições de outubro.

A declaração de FHC se deu no contexto da necessidade de as forças políticas do centro se aglutinarem em torno de uma candidatura. Hoje, além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), outros nomes surgem como opção, como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, visto como “homem do mercado”, e o próprio presidente Michel Temer. Uma aliança entre os dois também não é descartada pelo MDB, partido de Temer, em busca de uma candidatura que defenda o legado de seu governo.

Segundo o tucano, é desejável que se alcance um polo democrata e progressista nesse campo político, mas não tendo como foco um aceno apenas ao mercado. “É preciso um candidato que mostre (às pessoas) que a vida será melhor e mais segura. É preciso ter discurso, mas não é só discurso que convence. O povo não sentiu melhorias no governo Temer”, disse. Para FHC, ideias não faltam, o que faltam são líderes.

Ao comentar as chances dos presidenciáveis colocados até aqui, FHC disse que Alckmin tem chances de se tornar esse líder e vencer a eleição, já que a “incerteza é tanta que um pouco de certeza pode ser positivo”, em referência à fama de austero e previsível do governador de São Paulo.

‘Reacionário’. Sobre o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), vice-líder nas pesquisas de intenção de voto, FHC afirmou que ele não é um liberal como tenta parecer, mas um “reacionário”. “Bolsonaro simboliza o autoritarismo que cresce em função da violência. Ele aparece como força que quer ordem, mas não tem pensamento liberal, não sei se tem pensamento.” O ex-presidente disse ainda duvidar de que um “candidato reacionário” tenha votos suficientes para ser eleito. Para FHC, o sucesso eleitoral depende de força política, rede de apoio formada por prefeitos e governadores e tempo de TV.

O presidenciável do PDT, Ciro Gomes, foi classificado pelo tucano como “impetuoso”, mas sem “um rumo definido”. “É um pouco zigue-zague”, afirmou, ao criticar o fato de Ciro ter mudado muitas vezes de partido. “Não vejo isso com bons olhos.” O pré-candidato já foi filiado ao PDS, MDB, PSDB, PPS, PSB e PROS, além da atual sigla. De acordo com o ex-presidente, “Ciro cresceu sendo iconoclasta, mas não há nada de desabonador contra ele”.

O tucano não tratou diretamente de uma eventual candidatura Temer nem comentou as intenções do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Aos jornalistas do Estado Sonia Racy, Vera Magalhães e José Fucs, FHC ainda afirmou nunca ter lançado a candidatura do apresentador Luciano Huck e arrancou risos da plateia ao dizer que o ex-prefeito Fernando Haddad é seu “candidato no PT”. / ADRIANA FERRAZ, GILBERTO AMENDOLA, ALEXANDRA MARTINS, DANIEL WETERMAN e MARCELO OSAKABE

Fórum​. Ex-presidente Fernando Henrique é entrevistado pelas colunistas do Estado Vera Magalhães e Sonia Racy e pelo repórter José Fucs

Disputa. Os presidenciáveis, por Fernando Henrique Cardoso:

“Ciro é impetuoso, mas não tem um rumo definido. É um pouco zigue-zague.” - SOBRE O EX-MINISTRO CIRO GOMES (PDT-CE)

“Jair Bolsonaro simboliza o autoritarismo. Não tem pensamento liberal.” - SOBRE O DEPUTADO JAIR BOLSONARO (PSC-RJ)

“Uma pessoa como o Alckmin tem mais chance de ganhar. Um pouco de certeza pode ser positivo. - SOBRE O GOVERNADOR GERALDO ALCKMIN (PSDB)

“Eu não lancei o Fernando Haddad. Ele é o meu candidato no PT.” - SOBRE O EX-PREFEITO FERNANDO HADDAD (PT)

“Não acho que o Joaquim Barbosa será candidato. - SOBRE O EX-PRESIDENTE DO STF JOAQUIM BARBOSA

“Gosto da Marina Silva como gosto do Luciano Huck.” - SOBRE A EX-MINISTRA  MARINA SILVA (REDE)