O Estado de São Paulo, n. 45424, 28/02/2018. Internacional, p. A12

 

Itamaraty investiga uso de passaporte brasileiro por Kim Jong-Un e seu pai

28/02/2018

 

 

Turistas acidentais. Agência “Reuters” cita cinco fontes de segurança da Europa e divulga imagem de documentos que teriam sido obtidos de maneira fraudulenta pela cúpula do governo norte—coreano para obter vistos de países ocidentais nos anos 90

 

LONDRES

Falsificações. Cópias de passaportes usados pelos Kim mostram que documentos teriam sido emitidos por Embaixada do Brasil em Praga, em 1996

 

O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e seu pai, Kim Jong-il, usaram passaportes brasileiros com nomes falsos na década de 1990. Nos documentos, com fotos verdadeiras dos dois, consta que ambos são naturais de São Paulo. Os passaportes foram usados para tentar obter visto em pelo menos dois países. O Itamaraty investiga o caso.

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un e seu pai, Kim Jong-il, que morreu em 2011, usaram passaportes brasileiros com nomes falsos para pedir vistos de entrada em países ocidentais na década de 90, disseram cinco fontes de segurança de países europeus à agência ‘Reuters’. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que está investigando o caso.

Embora seja conhecido que a família dos líderes supremos da Coreia do Norte viajasse com passaportes falsos, são raros os exemplos de quais documentos ele usavam. Cópias de passaportes brasileiros emitidos nos anos 90 foram obtidos pela Reuters, que não conseguiu comprovar se os documentos originais foram alterados em algum momento.

“Eles usaram passaportes brasileiros, com fotos de Kim Jongun e de Kim Jong-il para obter vistos em embaixadas estrangeiras”, afirmou uma das fontes, que não revelou como os passaportes foram descobertos. “Isso mostra, além da vontade de viajar, possíveis rotas de escape da família Kim.” Uma fonte do governo brasileiro disse que os passaportes emitidos por embaixadas são tão legítimos quanto os confeccionados no País.

Os passaportes divulgados pela Reuters mostram fotos dos dois líderes norte-coreanos. Kim Jong-il foi identificado como

Ijong Tchoi e o atual ditador, na época um adolescente, como Josef Pwag. Nos documentos, os dois são registrados como naturais de São Paulo – cidade com grande colônia de imigrantes sul-coreanos. As imagens revelam que os passaportes, emitidos em 1996, tinham validade de dez anos.

No documento brasileiro atribuído ao atual ditador, sua data de nascimento é 1.º de fevereiro de 1983. Pouco se sabe sobre a real idade de Kim Jong-un, mas especula-se que ele tenha nascido no começo dos anos 80. Seu pai nasceu em 1941, mas, no documento, a data de nascimento é 4 de abril de 1940.

Ambos os documentos foram usados para obter vistos em ao menos dois países, mas a agência não conseguiu confirmar se os vistos foram de fato concedidos.

Em 2002, o filho mais velho de Kin Jong-il, Kim Jong-nam, conhecido como o “Pequeno General”, decidiu levar o filho de 4 anos para visitar a Disney World no Japão. Para passar incógnito, muniu-se de um passaporte falso da República Dominicana e foi pego no aeroporto de Tóquio. Antes de ser deportado, ele teve de admitir que não havia tentado fugir da Coreia do Norte e queria apenas conhecer a atração.

Quando era adolescente, Kim Jong-un teria estudado na Suíça, mas pouco se sabe a respeito do período. Há a suspeita de que pai e filho tenham viajado para Brasil, Japão e Hong Kong. A embaixada da Coreia do Norte em Brasília não se pronunciou.

 

A força da dinastia

100 ​testes de mísseis balísticos foram realizados pela Coreia do Norte desde 2011, quando Kim Jong-un assumiu o poder

2 milhões​ de vítimas, apenas em Tóquio e Seul, causaria um eventual ataque nuclear norte-coreano. Cerca de 28 mil soldados dos EUA na Coreia do Sul estariam vulneráveis em caso de guerra

 

PONTOS-CHAVE

Ditadores diziam ser de São Paulo

Viagens​. Fontes afirmaram à agência ‘Reuters’ que Kim Jong-un e seu pai, Kim Jong-il, usavam passaportes brasileiros com nomes falsos para viajar por países ocidentais

‘Paulistanos’​. Identificados como Ijong Tchoi (pai) e Josef Pwag (filho), eles eram registrados como descendentes de sul-coreanos nascicos em São Paulo

Vistos​. Os documentos teriam sido usados para autorizar a entrada em pelo menos dois países. A embaixada norte-coreana em Brasília não se pronunciou