Título: Rio mais 20 deve responder às ruas
Autor: Furtado, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 07/04/2012, Opinião, p. 17

A Rio+20 ocorre num momento complexo. O mundo está mais inseguro devido às crises econômicas, sociais e políticas que varrem a Europa, as Américas, o Oriente Médio e a Ásia.

Enquanto Davos promove uma reforma no sistema atual, o Fórum Social Mundial pede uma revolução estrutural. Mas há acordo em apenas um ponto: o sistema econômico atual está falido e faltam visão e liderança para desenvolver um novo modelo.

A juventude está indignada com a desigualdade, a falta de oportunidade e a ausência de perspectiva de um futuro sustentável. Praças e ruas estão sendo ocupadas mundo afora. Brasil, Índia e China são lembrados de que com o poder vem a responsabilidade.

A Rio+20 deve ser pautada pelo engajamento público para mudar o curso insustentável do planeta. O resultado não deve ser apenas a repactuação de promessas acordadas anteriormente, mas a ação.

O Marco Zero, documento com as primeiras diretrizes do encontro, foi um balde de água fria. Se observarmos o que foi feito na Rio-92 e na Rio+10, em 2002, veremos que 20 anos se passaram e os governos não fizeram o dever de casa. Os temas apresentados são os mesmos e as metas foram apenas postergadas.

Em 2012, o Brasil passou a ser a sexta maior economia do mundo, mas segue entre os cinco maiores poluidores do planeta. O país permanece desigual e injusto. Logrou a 84ª posição no mais recente ranking global de desenvolvimento humano da ONU.

Possui um governo forte, uma oposição anêmica, corporações poderosas e uma sociedade civil debilitada. Ou seja, trata-se de um país sem pesos e contrapesos suficientes para garantir o balanço de forças no debate democrático e pela sustentabilidade.

O debate do Código Florestal demonstrou um grande fosso entre a vontade do parlamento e a da população. O projeto do novo Código, que promove anistia aos desmatadores e libera as motosserras para cortarem ainda mais nossas florestas, passou praticamente sem obstruções no Congresso Nacional. Entretanto, a maioria dos brasileiros (80%), segundo pesquisa do Datafolha (junho 2011), defende a proteção das florestas e dos rios, e 79% apoiam o veto pela presidente Dilma Rousseff.

A proposta inicial da Câmara dos Deputados foi modificada no Senado, mas ainda contém graves prejuízos às florestas. E ainda assim, segue em negociação entre o governo e os parlamentares, podendo ser ainda mais deformada.

Para os brasileiros que não querem esse retrocesso ambiental, o Greenpeace acaba de lançar, em conjunto com várias organizações, uma proposta de lei de iniciativa popular pelo fim do desmatamento. O objetivo é chegar a 1,4 milhão de assinaturas, que também estão sendo coletadas pelo site.