O Estado de São Paulo, n. 45433, 09/03/2018. Política, p. A4
Eleição presidencial já tem 11 pré-candidatos
09/03/2018
Corrida eleitoral. Para analistas, incerteza do cenário e possível impedimento de Lula estimulam postulantes ao Planalto; ontem, DEM lançou Maia e PDT apresentou Ciro
A cinco meses para o início do registro das candidaturas, a corrida eleitoral deste ano começa a ganhar forma e já reúne pelo menos 11 postulantes ao Palácio do Planalto colocados oficialmente. Ontem, os nomes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) foram lançados por seus partidos.
Analistas apontam o cenário de incerteza na disputa presidencial, reflexo da crise política, e o fim do financiamento empresarial como determinantes para a proliferação de candidaturas. A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), até agora líder nas pesquisas de intenção de voto, ficar impedido de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa também é considerada um fator para a pulverização de candidatos.
Algumas dessas candidaturas, porém, são vistas como tentativa de os partidos se cacifarem nas negociações de alianças eleitorais, como a do próprio Maia. No evento em que “estreou” como pré-candidato à Presidência, o deputado foi reverenciado por líderes de siglas do Centrão e até por tucanos, que já têm no governador Geraldo Alckmin (PSDB) seu pré-candidato. Eles ainda tentam atrair o DEM para a chapa presidencial.
A exemplo da candidatura do DEM, considerada de centro, no campo da esquerda a postulação da deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB) também é vista com ceticismo. Historicamente, o partido tem se colocado como linha auxiliar do PT e aliados dizem ter dúvidas se ela a manterá até o fim.
“O quadro está aberto. Partido grande não tem candidato forte, candidato mais forte está em partido fraco. O primeiro colocado nas pesquisas está impedido e o outsider saiu. O governo é bom nos resultados econômicos e pessimamente avaliado. Isso tudo dá muita insegurança para se apostar em coligações agora”, afirmou o cientista político Rubens Figueiredo.
A fragmentação vista no campo de centro, que reúne, além de Maia e Alckmin, o senador Álvaro Dias (Podemos), pode ficar ainda maior caso o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), concorra. Ele negocia filiação ao MDB, mas dirigentes da sigla têm dito que a prioridade, em caso de candidatura própria, é do presidente Michel Temer – que diz não ter a pretensão de disputar a reeleição.
“Vemos a pré-candidatura do Maia com o mesmo respeito com que vemos a do Meirelles. E inclusive alguma do MDB que possa ser lançada”, disse ontem o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Fator Lula. Na esquerda, a indefinição sobre Lula incentiva a fragmentação. Além do petista e de Ciro, o PSOL lança amanhã o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, como pré-candidato. Embora considerada mais ao centro, a ex-ministra Marina Silva (Rede) – oficializada como pré-candidata em dezembro – disputa o mesmo eleitorado.
No outro extremo, o PSL filiou anteontem o deputado Jair Bolsonaro (RJ), 2.º colocado nas sondagens eleitorais. O empresário João Amoêdo foi lançado pelo Novo em novembro.
Para o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, uma das medidas do que chama de “desestruturação” de sistema político é o número de candidaturas. Para ele, já é possível projetar 18 nomes. “Nosso recorde foi em 1989, quando 22 candidatos se lançaram. A diferença é que em 1989 a descoordenação era reflexo da inauguração do regime, já 2018 é retrato de sua desconstrução.” Vitorioso na primeira eleição após a redemocratização, o senador Fernando Collor (AL) é pré-candidato pelo PTC.
O Estado adotou o critério de desconsiderar pré-candidaturas não citadas nos principais institutos de pesquisa, como a da ex-apresentadora Valéria Monteiro, lançada pelo PMN.
“Com a crise e a ausência de candidatos com poder de aglutinação, todos os partidos resolveram se aventurar”, afirmou o cientista político Carlos Melo, do Insper. A consequência, disse, pode ser um 2.º turno entre nomes com poucos votos. Para Marchetti, “uma candidatura que consiga 20% dos votos no 1.º turno terá grande chance de sair vitoriosa”. / IGOR GADELHA, ISADORA PERON, CARLA ARAÚJO, VALMAR HUPSEL FILHO e PEDRO VENCESLAU
Financiamento. Para Rubens Figueiredo, o atual cenário está ligado ao aumento de recursos públicos nas campanhas. “O partido, para sobreviver, precisa de dinheiro e, para ter dinheiro, precisa de deputado.”
Disputa - Os nomes da corrida presidencial até agora
Ciro Gomes (PDT), Partido lançou ontem em Brasília a pré-candidatura do ex-governador do Ceará e ex-ministro
ESQUERDA
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Mesmo condenado, ex-presidente se apresenta como nome do partido para disputar mais um mandato
Manuela D'Ávila (PCdoB), Partido lançou em novembro a pré-candidatura da deputada estadual gaúcha; é a primeira vez desde a redemocratização que a sigla apresenta um nome
Guilherme Boulos (PSOL), O coordenador do MTST se filiou nesta semana à legenda e sua pré-candidatura será oficializada em conferência amanhã
CENTRO
Álvaro Dias (Podemos), Senador anunciou a pré-candidatura à Presidência da República em novembro, durante evento do Podemos no Rio
Fernando Collor (PTC), Em janeiro, senador anunciou que é pré-candidato à Presidência e se apresentou como nome “progressista e liberal”
Geraldo Alckmin (PSDB), Com a desistência do prefeito Arthur Virgílio de disputar prévias, governador de São Paulo é o único pré-candidato tucano ao Planalto
Marina Silva (Rede),Partido lançou em dezembro a ex-ministra como pré-candidata à Presidência da República
DIREITA
Jair Bolsonaro (PSL), Recém-filiado ao partido, o deputado fluminense afirmou que “a bancada da bala, chamada assim de forma jocosa, vai se transformar na bancada da metralhadora”
Rodrigo Maia (DEM), Partido lançou ontem o nome do presidente da Câmara dos Deputados na disputa ao Planalto; presidente nacional do DEM, ACM Neto disse que Maia “não será candidato do governo”
João Amoêdo (Novo), Partido anunciou em novembro o nome do empresário para a disputa; Ex-banqueiro, Amoêdo é um dos fundadores da legenda
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Ciro faz aceno ao PT e Maia diz ser a ‘renovação’
09/03/2018
O PDT oficializou ontem, em evento em Brasília, a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes ao Palácio do Planalto. O presidente da legenda, Carlos Lupi, disse que a candidatura é “irreversível” e que gostaria de ter o PT na mesma chapa.
Ciro é considerado um dos candidatos a herdar o eleitorado petista caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja impedido de entrar na disputa. O pré-candidato admitiu que o ex-prefeito Fernando Haddad é um quadro respeitável e seria um vice dos sonhos, mas lembrou que ele é do PT e seria desrespeitoso querê-lo como vice se seu partido terá candidato.
Maia. Também ontem, o DEM lançou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), como précandidato. O parlamentar disse ter certeza de que estará no segundo turno da disputa pelo Planalto. “Vou construir alianças para ser, também, candidato de muitos dos partidos aliados. Quero ser o candidato dos que compreendem a necessidade da renovação política”, afirmou Maia. / DAIENE CARDOSO, I.G. e I.P.