O Estado de São Paulo, n. 45433, 09/03/2018. Política, p. A8

 

MST invade parque gráfico de "O Globo" e faz ato no TRF-4

09/03/2018

 

 

Durante ocupação no jornal, manifestantes ateiam fogo a pneus e picham instalações; ANJ classifica protesto como ‘inadmissível’

Um grupo com cerca de 500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) invadiu ontem o parque gráfico do jornal O Globo, em Duque de Caxias, no Rio. Os manifestantes picharam paredes, vidros e móveis do local. Eles também tentaram atear fogo a um totem com o nome do jornal, que não chegou a ser danificado. A ação foi gravada e divulgada nas redes sociais do grupo.

De acordo com o MST, a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra reuniu integrantes do Levante Popular da Juventude, do Movimento dos Atingidos por Barragens e do Movimento dos Pequenos Agricultores. Além da invasão do parque gráfico do jornal, houve protesto em frente a uma fábrica da Riachuelo em Natal e passeatas em Brasília e em Porto Alegre (RS), onde os manifestantes pararam diante da sede do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos e 1 mês de prisão na Lava Jato.

Os manifestantes chegaram ao Globo em dez ônibus e algumas pessoas portavam facões. Em nota, o grupo repudiou a invasão, que classificou de ataque à imprensa livre.

“Picharam a portaria, tumultuaram os trabalhos e só não entraram na área de máquinas porque foram contidos. O ataque a um jornal é um ataque à imprensa livre, pilar da democracia. É uma clara tentativa de intimidação, um ato que atropela a legalidade e o estado de direito democrático”, diz a nota.

‘Inadmissível’. Também em nota conjunta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiaram o protesto do MST. De acordo com as entidades, “é inadmissível que um grupo, que se diz defensor das causas sociais, ameace e ataque profissionais e meios de comunicação que cumprem a missão de informar a sociedade sobre assuntos de interesse público”.

O texto diz ainda que “atos criminosos como este são próprios de grupos extremistas, incapazes de conviver em ambiente democrático, e não pautarão os veículos de comunicação brasileiros”.

Para a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a ocupação das instalações industriais do jornal “por grupos armados com foices e facões não representa apenas uma ameaça à liberdade de imprensa e de expressão, mas uma agressão ao próprio estado democrático de Direito”.

Segundo Ester Hoffmann, da direção nacional do MST, a jornada das mulheres teve um “caráter de luta pela democracia”. “As mulheres denunciam através das mobilizações o momento de golpe no Brasil, que tem gerado perda de direitos e rompimento democrático, trazendo piores condições de vida para os pobres e, sobretudo, para as mulheres”, afirmou ela.

Riachuelo. O protesto em frente à fábrica da Riachuelo em Natal reuniu cerca de 800 pessoas, segundo os organizadores. Eles tentaram impedir a entrada de funcionários, que conseguiram furar o bloqueio. A manifestação durou cerca de duas horas. Presidente do grupo empresarial, Flávio Rocha chamou o grupo de “terroristas” e “vagabundos” e disse que não vai se intimidar com o ato.

“Quero dar um recado a esse grupo de vagabundos que tentam me intimidar, que não vão conseguir. Só aumentam minha disposição para continuar lutando para que o Brasil tenha um presidente, tenham autoridades que fecham a torneira de dinheiro público para esse grupo de terroristas, de bandidos”, disse o empresário, em vídeo publicado em suas redes sociais. Rocha passou a ter forte atividade política depois do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, e é visto como um postulante às eleições de outubro.

Defesa de Lula. Em Porto Alegre, os manifestantes marcharam pelas ruas centrais da capital e pararam em frente à sede do TRF-4. A marcha foi acompanhada pela Brigada Militar. “Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”, dizia uma das faixas.

Já em Brasília, o protesto reuniu 700 pessoas, que foram do Museu da República até o Congresso, onde se concentraram aos gritos de “Fora, Temer”. Manifestantes do PT e do MST carregavam cartazes a favor da candidatura de Lula à Presidência. Eles também protestaram contra a desigualdade de gênero, o programa Escola Sem Partido e a criminalização do aborto.

 

“Quero dar recado a esse grupo de vagabundos que tentam me intimidar: não vão conseguir.” - Flávio Rocha, empresário