Correio braziliense, n. 20070, 03/05/2018. Política, p. 5

 

Delegado da PF rebate críticas de Temer

Letícia Cotta

03/05/2018

 

 

INVESTIGAÇÃO » Para dirigente da ADPF, dizer que a acusação é perseguição faz parte da estratégia de defesa do presidente, mas ameaçar o investigador é pressão acima do normal contra a Polícia Federal

Alvo de investigações, o presidente Michel Temer (MDB) tem feito duras críticas à Polícia Federal, em que diz ser alvo de perseguição política. “É preciso responsabilidade no cargo para não ameaçar o exercício dos investigadores”, disse o presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, em entrevista ao CB.Poder, uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília.

Segundo Paiva, a pressão que o presidente exerce se assemelha a uma ameaça. “Quando ele faz acusações tão fortes, inclusive dizendo que seriam punidos os delegados que investigam o caso, ele exerce uma pressão acima do normal na Polícia Federal”, disse. “Para mim, soa como ameaça.”

Os questionamentos de Temer poderiam ser protocolados aos autos, de “maneira natural”, segundo o dirigente da ADPF. “O presidente tem  advogados”, disse.

Temer alega que, se houvesse indícios fortes, já estaria indiciado, daí ele se dizer vítima de perseguição. Para Paiva, faz parte da narrativa de defesa do presidente “dizer que a investigação não dará em nada e que é perseguição. O que não faz parte é ameaçar o delegado responsável e gerar constrangimentos. O Brasil quer saber se o presidente tem envolvimento ou não, e a PF dará a resposta”, assegurou.

A parte mais difícil de investigar casos de corrupção, segundo o presidente da ADPF, é a caneta. “Investigar quem tem o dinheiro e a caneta é muito difícil. A corrupção existe em muitos lugares, inclusive na Noruega. O que os diferencia é se as instituições são fortes e funcionam”, afirmou.