O Estado de São Paulo, n. 45433, 09/03/2018. Internacional, p. A9
Trump aceita convite de Kim Jong-un para discutir programa nuclear em maio
09/03/2018
Avanço. Assessores de Segurança Nacional da Coreia do Sul levam ao presidente americano proposta do ditador norte—coreano, que também disse estar comprometido com a desnuclearização do país e prometeu suspender todos os testes atômicos e de mísseis
O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, convidou Donald Trump para uma reunião e o presidente americano aceitou. O anúncio foi feito ontem pelo conselheiro de Segurança Nacional da Coreia do Sul, Chung Eui-yong, que leu uma carta em frente à Casa Branca. Segundo ele, o encontro – o primeiro entre um presidente americano e um líder norte-coreano – ocorrerá em maio.
Após o anúncio, o governo americano confirmou o encontro. “O presidente Trump aceitará o convite para se encontrar com Kim Jogn-un em lugar e momento a serem determinados”, disse a Casa Branca, em comunicado. “Estamos ansiosos pela desnuclearização da Coreia do Norte. Enquanto isso, as sanções devem continuar.”
Chung também disse que o regime norte-coreano está comprometido com a desnuclearização e disposto a suspender os testes nucelares e de mísseis. De acordo com o funcionário sul-coreano, Kim Jong-un disse entender que os exercícios militares que EUA e Coreia do Sul realizam rotineiramente precisam continuar.
Um ano após a Coreia do Norte testar um míssil balístico intercontinental capaz de atingir os EUA e uma bomba que, segundo especialistas, seria de hidrogênio, uma moratória é bem-vinda pelos americanos e pela comunidade internacional. Um encontro entre Kim e Trump, cujos insultos no ano passado provocaram o temor de uma guerra, marcará uma dramática reviravolta nos esforços para resolver o tenso impasse com relação à Coreia do Norte.
Delegações de alto nível da Coreia do Sul e da Coreia do Norte mantiveram um histórico encontro, em 24 de fevereiro, em Pyongyang, e preparam uma reunião para o fim de abril no vilarejo de Panmunjom, na chamada Zona Desmilitarizada, entre o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e Kim Jong-un.
Após a visita a Pyongyang, Chung, que liderou a delegação sul-coreana, disse que a Coreia do Norte deixou claro que não precisaria manter armas nucleares se as ameaças militares contra o país cessassem e recebesse uma garantia de segurança.
No dia seguinte à reunião, Trump saudou a iniciativa e disse que os EUA estavam dispostos a conversar com o regime da Coreia do Norte, mas apenas “sob as condições adequadas”, que ele não especificou.
Em um sinal de falta de sincronia dentro do governo americano, o secretário de Estado, Rex Tillerson, havia declarado horas antes do anúncio do encontro que uma possível conversação com o regime de Pyongyang estava longe, pois “os EUA precisavam determinar primeiro a seriedade da Coreia do Norte sobre sua intenção de abrir mão de seu programa nuclear”.
O presidente da Coreia do Sul fez o possível para usar os Jogos Olímpicos de Inverno, que ocorreram no mês passado na cidade sul-coreana de Pyeongchang, como forma de reduzir a tensão entre as duas Coreias e obter uma aproximação.
A convite da Coreia do Sul, o regime de Pyongyang enviou atletas em uma tentativa de mostrar uma face mais simpática e as equipes dos dois países desfilaram juntas na cerimônia de abertura. O líder norte-coreano também enviou sua irmã, Kim Yo-jong, para o evento. Durante os Jogos, ela convidou uma delegação sul-coreana para visitar Pyongyang.
Reações. O ministro de Defesa japonês, Itsumori Onodera, declarou na manhã de hoje (horário local) que a Coreia do Norte deve se comprometer em abandonar completamente o desenvolvimento de tecnologia nuclear, para que negociações significativas ocorram com Pyongyang.
Segundo analistas, quem também sairia ganhando com a diminuição das tensões na região é a China. Nas últimas semanas, Pequim vinha pedindo aos dois governos que negociassem de maneira direita o mais rápido possível. / AFP, REUTERS e EFE
Surpresa
“O presidente Trump disse que se reunirá com Kim Jong-un em maio para obter a desnuclearização” - Chung Eui-yong, CONSELHEIRO DE SEGURANÇA NACIONAL DA COREIA DO SUL