O Estado de São Paulo, n. 45432, 08/03/2018. Política, p. A6

 

Bolsonaro projeta criar a “bancada da metralhadora”

Leonencio Nossa

08/03/2018

 

 

Na cerimônia de filiação ao PSL, pré-candidato à Presidência diz que vai se empenhar para levar o maior número de militares ao Congresso

Ao se filiar ao nanico PSL, o deputado e pré-candidato ao Planalto Jair Bolsonaro (RJ) disse ontem que vai se empenhar em eleger o maior número de parlamentares para endurecer leis penais, evitar o desarmamento e garantir maioria no Legislativo.

Interrompido por gritos de “mito”, “messias” e “presidente”, ele disse a uma plateia de militantes que lotou um auditório da Câmara que tentará levar um maior número de policiais e integrantes das Forças Armadas para o Congresso. “A bancada da bala, chamada assim de forma jocosa, vai se transformar na bancada da metralhadora.”

Bolsonaro ainda afirmou que, caso eleito, deverá nomear para seu ministério o general Augusto Heleno Ribeiro (Defesa), o ex-astronauta Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e o economista Paulo Guedes (Fazenda). Ele também disse que pretende fundir as pastas da Agricultura e do Meio Ambiente.

Ao falar de sua equipe ideal de governo, Bolsonaro aproveitou para criticar a atual gestão. “O ministro de Ciência e Tecnologia hoje não sabe diferenciar gravidez de gravidade”, afirmou numa crítica ao ministro Gilberto Kassab. “Eu não sou bom, mas os outros são muito ruins”, disse.

Cerca de 15 deputados e um senador, Magno Malta (PR-ES), chamado de “vice” pelos militantes, compareceram a um auditório da Câmara para a filiação de Bolsonaro ao partido presidido pelo deputado Luciano Bivar (PE). Em seu discurso, o pré-candidato focou os ataques nas demandas LGBT, à esquerda e ao governo Michel Temer. “As malas dos porões do Jaburu, digo isso no duplo sentido, não podem continuar imperando no Brasil.”

Ele reagiu à entrada de concorrentes diretos e do governo Michel Temer no debate da segurança pública, sua principal bandeira. Ele chegou a chamar o atual o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, de “comunista” e “desarmamentista”. Mas evitou ataques diretos à intervenção militar no Rio.

Para quem esperava que Bolsonaro fizesse um discurso mais light, voltado à classe média, o pré-candidato se preocupou em enfatizar suas principais bandeiras. Inclusive a defesa da quebra do monopólio na indústria de armas no País. “A violência se combate com energia ou mais violência”, afirmou. Na questão de gênero, ele disse que “todo mundo tem um amigo gay”, mas criticou supostos incentivos nas escolas à mudanças de sexo. “É uma maldade com as criancinhas”, disse.

Bolsonaro fez, em diversos momentos do seu discurso, referências a “Deus” e às “mulheres”, numa estratégia discutida com aliados para atrair votos dos evangélicos e do público feminino, após polêmicas. Magno Malta, a pedido de Bolsonaro, chegou a rezar um Pai Nosso. O hino nacional foi cantado no evento e Bolsonaro demonstrou emoção ao lembrar os pais e a infância, que, segundo ele, foi de pobreza no interior de São Paulo. Na economia, o précandidato disse que, na primeira semana de governo, extinguirá um terço das estatais.

Pela estimativa dos aliados mais próximos de Bolsonaro, pelo menos sete deputados federais devem se filiar ao PSL nos próximos dias. O pré-candidato já levou para seu novo partido os filhos Eduardo, deputado federal por São Paulo, e Flávio, deputado estadual pelo Rio.

Durante a tarde, um grupo de apoiadores do deputado inflou um boneco de cerca de 12 metros em frente ao Congresso.

 

Representação

“A bancada da bala, chamada assim de forma jocosa, vai se transformar na bancada da metralhadora.” - Jair Bolsonaro (PSL-RJ)​, DEPUTADO FEDERAL

 

PARA LEMBRAR

PSC, ‘namoro’ com PEN e PSL

Março de 2016

Pré-candidatura

Em ato na Câmara, o PSC anuncia a filiação do deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), então no PP. No evento, o parlamentar fluminense é apresentado como précandidato ao Palácio do Planalto em 2018.

 

Julho de 2017

Partido ecológico

Auxiliares de Bolsonaro confirmam que ele vai trocar o PSC pelo PEN. Presidente do PEN, Adilson Barroso diz que está “99,9%” fechado. “O noivado vai de vento em popa e só falta assinar o contrato de casamento.”

 

Agosto de 2017

‘Noivado’ suspenso

Bolsonaro anuncia a suspensão de seu processo de filiação ao PEN. Ele diz não concordar com ação ajuizada pela sigla contra decisão do STF sobre prisão em segunda instância. “Deve dar casamento, mas ainda é um noivado”, afirma Bolsonaro.

 

Outubro de 2017

Mudança de estatuto

O Estado mostra que, na expectativa de atrair Bolsonaro para a legenda e sua candidatura à Presidência da República, o PEN decide apagar a causa ambiental de seu estatuto e passa a defender uma guinada à direita.

 

Janeiro de 2018

Liberais

Bolsonaro e o presidente do PSL, o também deputado Luciano Bivar (PE), fecham acordo para lançar o parlamentar fluminense na disputa ao Planalto. Após a assinatura do termo de compromisso, o movimento Livres deixa a legenda.

 

‘Aliviado’

O presidente do PEN-Patriota, Adilson Barroso, se diz “aliviado” com a desistência de Bolsonaro de ser candidato por sua legenda. “Você não pode ser convidado para entrar em uma casa e depois querer tomar ela inteira para você”, afirma.

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Para Ciro, eleição será decidida entre ele e Alckmin

Daiene Cardoso

08/03/2018

 

 

Ex-ministro, que deve ser confirmado hoje como pré-candidato do PDT à Presidência, ironiza as chances de Temer

Pré-candidato do PDT à Presidência da República, o ex-ministro Ciro Gomes disse ontem duvidar da possível candidatura à reeleição do presidente Michel Temer e afirmou que a disputa em outubro ficará entre ele e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

O PDT lançará a pré-candidatura de Ciro hoje em evento na sede do partido, em Brasília.

Ciro é considerado um dos candidatos a herdar o eleitorado petista sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa. Segundo pesquisa Ibope de janeiro, o pré-candidato do PDT sairia de 6% para 13% nas intenções de voto no primeiro turno num cenário sem a candidatura do ex-presidente.

Após participar de reunião da bancada do PDT na Câmara, ontem, Ciro disse que, além dele, há outros quatro pré-candidatos com chances de crescimento nas pesquisas de intenção de voto, caso Lula fique mesmo impedido de concorrer: o próprio Alckmin, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) – os três no mesmo campo – e a exministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede).

“Parece que a disputa será entre nós (grupo de Ciro) e Alckmin”, afirmou o pré-candidato do PDT. Sobre as chances de Temer entrar na disputa eleitoral deste ano, Ciro ironizou. “Eu duvido bastante, por indigência eleitoral aguda”, disse.

Em um afago público a Lula, o presidenciável declarou que o ex-presidente segue na frente das pesquisas por merecimento, é o único a liderar uma candidatura hegemônica e não deixará de ser ouvido em qualquer circunstância.

Ciro disse que sempre esteve próximo do ex-presidente nos últimos anos. “Faz 16 anos que ajudo Lula. Melhor que qualquer retórica é o testemunho de vida”, afirmou. “Se isso não falar por si, é porque há muita intriga tentando desfazer uma realidade de vida.”