O Estado de São Paulo, n. 45432, 08/03/2018. Economia, p. B4

 

Reforma e abertura podem tirar seis milhões da pobreza

Lu Aiko Otta

08/03/2018

 

 

 Recorte capturado

Relatório do Banco Mundial mostra que ganho viria se País abrisse a sua economia e investisse mais em aumento de produtividade

 

Perto de seis milhões de brasileiros poderiam sair da linha da pobreza se o Brasil abrisse mais sua economia e, a partir daí, disparasse um processo de reformas para aumentar a produtividade dos trabalhadores nas empresas. O Produto Interno Bruto (PIB) poderia ter um incremento de 1% e seriam abertas aproximadamente 400.000 novas vagas de trabalho. Esse é o resultado de uma simulação incluída no relatório “Emprego e Crescimento: A Agenda da Produtividade”, divulgado ontem pelo Banco Mundial.

Coordenador do relatório, o economista-chefe de Macroeconomia, Finança e Investimento do organismo, Mark Dutz, disse que um compromisso firme de abertura comercial, que fosse anunciado com antecedência e com um cronograma, poderia funcionar como uma espécie de âncora para governo e empresas adotarem mudanças para viver num ambiente de maior competição. Esse sinal ajudaria a vencer resistências, acredita ele.

No caso, ele calculou os efeitos de um corte de 50% nas tarifas de importação de produtos de fora do Mercosul e a eliminação das barreiras ao comércio dentro do próprio bloco. Com isso, as exportações teriam um incremento de 7,5% e as importações, de 6,6%.

O problema é que, para dar suporte a essa abertura, seria necessário implantar toda uma agenda de reformas voltadas ao aumento da produtividade que o País vem adiando há décadas: simplificar radicalmente o sistema tributário, rever incentivos fiscais, cortar subsídios, aumentar a competição na economia e no sistema financeiro, melhorar a educação e a formação de trabalhadores, melhorar a gestão do aparelho estatal. Ao mesmo tempo, as empresas precisariam tornar-se mais produtivas, adotar novas tecnologias e buscar integração nas cadeias globais de valor – como faz, por exemplo, a Embraer.

 

Emprego. O relatório admite que a abertura, aliada ao impacto das novas tecnologias, pode resultar na perda de empregos em alguns setores, empresas e regiões. Trabalhadores precisariam ser treinados e realocados. No agregado, porém, não haveria aumento de desemprego e desigualdade. Pelo contrário, a expectativa é que sejam criados novos empregos, compensando aqueles que serão perdidos.

A alternativa a não implementar essa agenda é pior. O relatório mostra que, se nada for feito, o potencial de crescimento da economia brasileira será decrescente ao longo do tempo. De perto de 2% este ano, ele encolherá para 1,3% em 2030. Os ganhos sociais vistos no início deste século seriam revertidos.

Isso se explica pelo fim do chamado bônus demográfico, que impulsionou o ingresso de novos trabalhadores no mercado. Esse processo respondeu por dois terços do crescimento econômico dos últimos anos. No entanto, a população brasileira envelheceu e esse benefício está próximo do fim.

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Hélio Zylberstain

Márcia De Chiara

08/03/2018

 

 

‘O investimento em educação é uma tristeza’ - Hélio Zylberstain, economista da FEA/USP

O economista Hélio Zylberstajn, da FEA/USP, acredita que a saída para mudar o quadro de falta de oportunidade de mercado de trabalho para os jovens no Brasil é investir em ensino profissionalizante. “O investimento em educação é uma tristeza, porque a educação que temos na cabeça é acadêmica e não investimos na profissional.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

 

O sr. concorda com a constatação do Banco Mundial?

É evidente que o nosso sistema educacional compromete o crescimento da produtividade. Olhando para a oferta de trabalho o quadro é realmente esse que eles estão retratando. Para completar esse quadro temos de olhar para a demanda de trabalho também. Se o Brasil conseguir passar pelas dificuldades que temos hoje na área política, fiscal e retomarmos o vigor no investimento, principalmente em infraestrutura, vamos ter uma expansão do mercado de trabalho de vagas de baixa qualificação. Isso representaria oportunidades para esse exército de jovens pouco quali- ficados.

 

Mas como reverter essa situação para empregos mais qualificados e que aumentem a produtividade da economia?

Educação, educação e educação. Inovação, inovação e inovação. O investimento em educação é uma tristeza, porque a educação que temos na cabeça é acadêmica e não investimos na profissionalização. Países que deram certo têm um sistema básico educacional profissionalizante. Alemanha e Coreia são exemplos. Eles acoplaram o sistema educacional ao produtivo.