O Estado de São Paulo, n. 45435, 12/03/2018. Política, p. A6

 

Interesses regionais esfriam ida de Barbosa para o PSB

Pedro Venceslau e Eduardo Kattah

12/03/2018

 

 

A pouco menos de um mês para o fim do prazo de filiação partidária, ex-presidente do STF e legenda vivem impasse sobre a candidatura

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa ainda espera um sinal mais consistente do PSB sobre sua eventual candidatura ao Palácio do Planalto para decidir se ingressa na legenda. O partido, por outro lado, insiste que Barbosa precisa primeiro se filiar e, depois, viabilizar seu nome para a disputa presidencial. O impasse esfriou a negociação da sigla com o ex-ministro do STF.

Aliados que estiveram recentemente com Barbosa avaliam que ele aceita assinar a ficha de filiação dentro do prazo legal, dia 7 de abril, mesmo sem ter a garantia de candidatura. Mas não tomará a iniciativa sem uma “segurança mínima”.

Há mais de um mês, porém, a cúpula do PSB não o procura. O ex-ministro tem acompanhado pela imprensa os movimentos da legenda, que em sua convenção recuperou as diretrizes de centro-esquerda.

A executiva do PSB abandonou a ideia de subir no futuro palanque do governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, e ainda mantém a porta aberta para ter uma candidatura própria. Segundo o Estado apurou, no entanto, a posição majoritária da legenda hoje é ficar neutra na disputa pelo Planalto para facilitar a construção de alianças regionais, considerada a prioridade total.

A “opção Barbosa” esbarrou nos interesses do PSB em Pernambuco, no Distrito Federal e em outros Estados.

Parecer. Com residência fixada no Rio, Barbosa passa também temporadas em Brasília e em São Paulo por causa de seu trabalho como advogado parecerista, ofício que passou a exercer após se aposentar e deixar o Supremo.

Num estilo adequado à sua personalidade, o ex-ministro tem adotado uma postura bastante discreta nas conversas políticas. Segundo um interlocutor próximo, ele não quer “fazer barulho” sobre sua pretensão por ora. Também oscila entre o ceticismo em relação ao projeto presidencial com o PSB e a desconfiança sobre a capacidade do partido de se unir e ter uma estrutura competitiva para a eleição.

O deputado federal Júlio Delgado (MG), líder do PSB na Câmara, reconhece que a executiva pessebista esfriou o diálogo com o ex-ministro do STF. “Não desistimos do Barbosa, mas ele está se sentindo como aquele que foi convidado para jantar, mas não recebeu o endereço”, disse ao Estado. Segundo o parlamentar, a última conversa pessoalmente com Barbosa foi antes do carnaval. Depois disso, eles se comunicaram mais duas vezes por meio do WhatsApp.

Delgado relatou que na convenção do PSB a juventude do partido queria puxar um “grito de guerra” em defesa da candidatura de Barbosa e ele cogitou apresentar uma moção nesse sentido, mas o movimento foi barrado pela cúpula.

Para o líder do PSB, Barbosa precisa tomar a iniciativa e se filiar à legenda mesmo sem ter garantias. “O jogador só pode jogar a Copa do Mundo se estiver inscrito. Não se trata de uma filiação de risco. Se ele se filiar, tenho certeza de que esse gesto por si só vai viabilizá-lo.”

Segundo Delgado, o ex-ministro não precisa se preocupar com a possibilidade de disputar prévias. “Não existe isso no PSB”, afirmou.

Comitiva. Em dezembro do ano passado, uma comitiva de deputados federais do partido visitou o ex-ministro no escritório dele no Itaim-Bibi, na zona oeste da capital paulista. Na ocasião o ex-presidente do Supremo disse que estava “atento aos prazos eleitorais” e também fez consultas sobre o “campo de alianças” da sigla.

Os parlamentares deixaram o encontro convencidos de que Barbosa estava construindo uma “pauta de presidenciável” e acompanhando de perto os principais temas nacionais. Os deputados relataram a ele a crença de que uma candidatura de “alguém de fora da política” teria “muito êxito” na próxima disputa presidencial.

Mas, desde então, a opção Barbosa perdeu força no PSB por pressão principalmente dos governadores Rodrigo Rollemberg (Distrito Federal), Paulo Câmara (Pernambuco) e Ricardo Coutinho (Paraíba), que pregam neutralidade na disputa nacional. Isso facilitaria a construção das candidaturas regionais.

“Joaquim Barbosa teve contato com o partido, provavelmente, por iniciativa dele. Foi dito a ele que se filiasse e se submetesse ao ritual. O partido tem uma dinâmica. Não é uma decisão de cúpula. Decisão será em junho”, disse o exprefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda, pré-candidato do PSB ao governo de Minas Gerais.

 

Ceticismo

Ex-ministro adotou uma postura discreta nas conversas e desconfia da capacidade do partido de se unir

 

Endereço

“Não desistimos do Barbosa, mas ele está se sentindo como aquele que foi convidado para jantar, mas não recebeu o endereço.” - Júlio Delgado​, LÍDER DO PSB NA CÂMARA

“Joaquim Barbosa teve contato com o partido, provavelmente, por iniciativa dele. Foi dito a ele que se filiasse e se submetesse ao ritual. O partido tem uma dinâmica.” - Marcio Lacerda​, EX-PREFEITO DE BELO HORIZONTE

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Desgastado, MDB fluminense perde deputados para o DEM

Igor Gadelha

12/03/2018

 

 

Bancada emedebista na Câmara deve encolher para menos da metade; maioria deve ir para o partido de Rodrigo Maia

Com a imagem desgastada pelos desdobramentos da Operação Lava Jato no Estado, o MDB do Rio verá sua bancada na Câmara dos Deputados, que já foi a maior do partido, encolher para menos da metade durante a chamada janela partidária, período que permite parlamentares mudarem de legenda sem risco de perda de mandato.

Metade desses dissidentes emedebistas deve migrar para o DEM, partido do presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ). Maia tenta herdar o espólio político deixado pelo MDB no Estado para fortalecer sua pré-candidatura à Presidência da República, lançada oficialmente na semana passada, e ainda alavancar o pai, o ex-prefeito Cesar Maia, na disputa ao governo do Rio.

Desde que o MDB fluminense viu seus principais líderes serem presos – o ex-governador Sérgio Cabral, o deputado federal cassado Eduardo Cunha e o presidente afastado da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani –, o partido tem perdido espaço político no Estado.

Apenas nos primeiros dias da janela partidária, que começou na semana passada e vai até o dia 7 de abril, quatro dos oito deputados do MDB do Rio que estavam no exercício do mandato já se desfiliaram ou comunicaram que vão deixar a legenda. Dois deles anunciaram filiação ao DEM: Laura Carneiro e Zé Augusto Nalin. Já o deputado Altineu Côrtes informou que retornará para o PR, enquanto Celso Pansera se filiou ao PT.

Outros dois deputados do MDB fluminense também negociam filiação ao DEM: Alexandre Serfiotis e Soraya Santos. “Hoje, quem é o do MDB quer sair. E a tendência é ir para um partido que também tem força no governo federal. E o DEM é o melhor caminho”, afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).

Cavalcante foi escalado por Maia para negociar a filiação de novos parlamentares no Rio. Segundo o parlamentar, o fato de o presidente da Câmara ser do DEM tem servido como um “atrativo” para filiar os dissidentes emedebistas.

A ofensiva, no entanto, é criticada por dirigentes do MDB. Em reservado, eles acusam Maia de usar o cargo para tentar atrair os dissidentes. De acordo com emedebistas, o presidente da Câmara prometeu acelerar a substituição do deputado Celso Jacob (MDB-RJ), que está preso desde junho, para favorecer Nalin. O parlamentar já está no exercício do mandato, mas poderá voltar para a suplência quando o ministro do Esporte, Leonardo Picciani (MDB-RJ), retornar para a Câmara, no início de abril.

“Não teve esta promessa. O caso do Celso Jacob precisa esperar decisão de recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça), acho eu. Este tempo eu não comando”, afirmou Maia. Ele também negou que o DEM esteja atuando para esvaziar a bancada do MDB do Rio. “Os deputados estão saindo do MDB por decisão própria”, disse.

Ofensiva. Além do MDB, o DEM também faz uma ofensiva para atrair deputados fluminenses de outros partidos: já acertou a filiação de Sérgio Zveiter (Podemos) e negocia com Deley (PTB). Caso todas as filiações se confirmem, o partido de Maia verá a bancada do DEM, até então de quatro parlamentares, mais do que dobrar e se tornar a maior do Estado.

O líder do MDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), minimizou a debandada de parlamentares do partido na bancada do Rio. Segundo ele, a legenda deve “empatar” entre perdas e novas filiações durante a janela partidária. “No fim das contas, vamos perder oito e ganhar oito”, disse. Picciani seguiu a mesma linha. “Fica ou sai do partido quem quiser”, afirmou o ministro.

 

Detido

Jorge Picciani em novembro, quando foi preso alvo da Operação Cadeia Velha

 

Janela

“Hoje, quem é o do MDB quer sair. E a tendência é ir para um partido que também tem força no governo federal. E o DEM é o melhor caminho.” - Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ)​, DEPUTADO FEDERAL

 

“Os deputados estão saindo do MDB por decisão própria.” - Rodrigo Maia (DEM-RJ)​, PRESIDENTE DA CÂMARA