O Estado de São Paulo, n.45444 , 20/03/2018. ECONOMIA, p.B1

CAIXA VAI RETER TODO O LUCRO DE 2017 PARA REFORÇAR CAPITAL E EMPRESTAR MAIS

Fernando Nakagawa

 

 

Estratégia. Banco vai divulgar nos próximos dias um lucro de mais de R$ 10 bi, que será retido para evitar o descumprimento de regras internacionais que limitam a concessão de novos empréstimos; volume de crédito ficou praticamente estável no ano passado

 

Depois de perder a liderança para concorrentes em áreas como a de financiamento imobiliário, a Caixa deve ficar com todo o lucro de 2017 – mais de R$ 10 bilhões – para retomar o fôlego no mercado de crédito. Por lei, o banco tem de repassar 25% do resultado para o Tesouro Nacional, mas será liberado dessa obrigação neste ano. Segundo informações preliminares do balanço da Caixa obtidas pelo ‘Estadão/Broadcast’, o volume de empréstimos, que já cresceu a um ritmo de 40% ao ano, deve fechar 2017 bem perto do mesmo patamar do ano anterior.

Embora esteja prestes a divulgar, nos próximos dias, um lucro recorde, o banco estatal enfrenta uma limitação para ampliar os empréstimos, porque está perto de descumprir normas internacionais que exigem mais capital próprio para fazer frente ao risco de perdas nas operações de crédito. A direção do banco está encarando o resultado do ano passado como uma boia de salvação para equacionar o problema da falta de capital. O resultado será superior ao recorde anterior, de R$ 7,3 bilhões em 2015.

Mesmo tendo lucro nos últimos anos, a Caixa sempre repassou boa parte dele ao Tesouro Nacional na forma de dividendos. Em 2016, por exemplo, foram transferidos R$ 4,1 bilhões. Mas, diante da necessidade de capital, o banco pediu para ficar com a totalidade do resultado, como antecipou o Estadão/Broadcast. O governo agora sinaliza que abrirá mão dos dividendos. Nessa operação, a Caixa deve transferir 25% do lucro ao governo que devolveria em seguida em uma operação de capitalização.

Para solucionar o problema de capital, a instituição tentou tomar R$ 15 bilhões emprestados em polêmica operação com o FGTS. A operação foi abortada e, sem capital novo, o banco empresta cada vez menos.

Em um evento no Rio de Janeiro ontem, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, prometeu que o banco reduzirá o juro do financiamento habitacional ainda este mês. A iniciativa já faz parte do plano de reação, cujo principal ponto é ter mais dinheiro para emprestar. Occhi disse que o banco terá R$ 82,1 bilhões para o setor imobiliário neste ano. O valor é um pouco superior ao do ano passado (R$ 80,9 bilhões), mas bem inferior ao de 2016 (R$ 93,7 bilhões).

Longe da liderança. A Caixa quer reverter uma situação inédita: com a crise, o banco já não é mais líder no financiamento imobiliário. Em dezembro de 2017, a Caixa ocupou um modesto quarto lugar no ranking dos que mais financiaram imóveis com recursos da poupança. Foram R$ 470,4 milhões, 85% menos que um ano antes.

Com esse tombo, a Caixa ficou com um terço do tamanho do Itaú Unibanco naquele mês, que financiou R$ 1,2 bilhão e liderou o ranking da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Em janeiro de 2018, o tombo da Caixa foi um pouco menos dolorido: foram financiados R$ 749,7 milhões, queda de 31% na comparação com 2017. Com a queda um pouco menor, o banco federal ficou em terceiro lugar no ranking dos maiores do crédito imobiliário. No mês, Bradesco liderou o volume de crédito e foi seguido pelo Santander. Procurada, a Caixa Econômica Federal informou que o resultado do banco será divulgado nos próximos dias e não comenta planos sobre a capitalização da instituição. /IGOR GADELHA COLABOROU

 

Ranking

No ano passado, a Caixa ocupou um modesto quarto lugar no ranking dos bancos que mais financiaram imóveis com recursos da poupança. Foram R$ 470,4 milhões, 85% menos que um ano antes.

 

PARA LEMBRAR

A Caixa chegou a conseguir que o Congresso aprovasse uma lei que permitia o em- préstimo de R$ 15 bilhões do FGTS, desde que a operação fosse aprovada pelo conselho curador do fundo. No entanto, o TCU ainda vai julgar, sem data definida, a legalidade dessa operação. Para o procurador do Ministério Público junto ao TCU, Júlio Marcelo de Oliveira, o empréstimo configura desvios de finalidade do FGTS e abuso de poder do banco.