Título: Intervenção e controle
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 21/04/2012, Economia, p. 20

Ministro da Fazenda dirá ao FMI em reunião hoje que o governo brasileiro não deixará o real se valorizar e pedirá apoio às medidas defensivas que os países emergentes vêm adotando

Com o câmbio quase no almejado patamar de R$ 1,90, o governo vai manter na manga as duas cartas para que o real não volte a se valorizar: as intervenções no mercado de câmbio, com a compra da moeda norte-americana, e o controle de capital estrangeiro, para conter o excesso de entrada de dólares resultante das políticas expansionistas dos países europeus e dos Estados Unidos. Esse será o recado que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dará ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no encontro de hoje, em Washington. Ontem, a cotação recuou depois de cinco dias de alta e fechou cotada a R$ 1,869 na venda, com queda de 0,64%. Na quinta, tinha encerrado o dia a R$ 1,882.

Mantega pedirá ao FMI apoio às medidas "defensivas" recentemente tomadas pelas economias emergentes, da mesma forma que o Fundo endossou as políticas de flexibilização monetária dos países desenvolvidos. "As políticas de administração da conta de capital ainda têm de ser plenamente aceitas pelo Fundo como uma parte normal do instrumental de política econômica", afirmará Mantega hoje ao comitê dirigente do FMI, de acordo com uma cópia do discurso que ele fará no encontro.

No Brasil, dirá ele, o governo continuará fazendo "o que julgar necessário para conter os ingressos de capital excessivos e voláteis por meio de uma combinação de intervenção nos mercados de câmbio à vista e futuro, medidas macroprudenciais e controles de capital". Mantega não especificará quais controles de capital o governo pode adotar.

Nos últimos meses, o governo aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente nas captações externas e atuou sistematicamente nos mercados de câmbio com leilões promovidos pelo Banco Central (BC). Até o Tesouro Nacional realizou emissão de dívida soberana em real e recomprou parte desses títulos. As medidas foram bem-sucedidas para enfraquecer o real em relação ao dólar. A cotação saiu de cerca de R$ 1,70, no final de fevereiro, para seu nível atual de cerca de R$ 1,86.

Leilão Um dia após ter subido sozinho e ficado próximo de R$ 1,90, sem intervenção do BC, que vinha fazendo dois leilões diários de compra, o dólar recuou ontem. Apesar de ter iniciado amanhã em alta, a moeda norte-americana passou praticamente todo o dia no terreno negativo. O BC acabou realizando um leilão quando a cotação estava a R$ 1,87, para impedir que a queda, que chegou a 1%, fosse maior. Mesmo assim, o dólar encerrou o dia com desvalorização de 0,64%. Essa oscilação ocorre porque o mercado fica testando qual o piso que o governo não deixará passar. Atualmente, os operadores das mesas de câmbio trabalham com essa cotação entre R$ 1,87 e R$ 1,89.

Mesmo com a queda de ontem, a moeda norte-americana acumula valorização de 1,6% na semana e de 2,37% em abril. Em março, a alta tinha sido de 6,17%. No ano, a valorização acumulada é bem menor, de 0,05%, pois encerrou dezembro cotada a R$ 1,86.