O Estado de São Paulo, n. 45452, 28/03/2018. Economia, p. B7

 

BC indica nova queda do juro básico em maio

Fernando Nakagawa e Eduardo Rodrigues

28/03/2018

 

 

Inflação menor do que o esperado sustenta a perspectiva de redução da Selic para 6,25%

O Banco Central confirmou ontem a perspectiva de que, diante da inflação mais baixa que o esperado, o juro básico da economia deve cair novamente 0,25 ponto em maio, para o inédito patamar de 6,25%. Apesar do tom assertivo, o Comitê de Política Monetária (Copom) frisou que há “condicionalidades” e, se o quadro mudar, o plano pode ser cancelado. A ata do mais recente encontro do Comitê deixou claro ainda que, após maio, não há chance de nova redução da Selic.

O documento divulgado ontem diz que nas últimas semanas ficou clara a “necessidade de ajuste da política monetária em relação ao movimento que havia sido sinalizado como mais provável”. Inicialmente, o BC sinalizara que os cortes de juro terminariam em março, com juro em 6,50% – o atual patamar.

A necessidade de corrigir esse rumo é resultado da evolução da inflação desde fevereiro. A partir daí, cresceu o risco de atraso na convergência dos índices de preço com a meta e a previsão oficial do BC para o IPCA neste ano caiu de 4,2% para 3,8% nesse período. Ou seja, mesmo com o juro no piso histórico, a expectativa para a inflação desacelerou e se afastou da meta de 4,5%.

Diante desse cenário, diretores do BC concordaram com a “necessidade de tornar a política monetária um pouco mais estimulativa” e defenderam que a “flexibilização adicional se mostra adequada sob a ótica atual”.

A ata ressalta, porém, que o novo corte pode ser cancelado caso haja, até a reunião em 16 de maio, mudança de cenário e a inflação mostre números mais elevados. O argumento foi repetido duas vezes para lembrar que os próximos passos do comitê estão sujeitos a mudança. Os diretores do BC dizem que explicitar essa possibilidade “transmite a racionalidade econômica que guia suas decisões”. Para além de maio, o BC deixou claro que não há espaço para nenhum movimento extra. “Deverá se mostrar apropriado interromper o processo de flexibilização monetária”, cita a ata, que defende que o BC vai “precisar de algum tempo” para avaliar o impacto do juro baixo sobre a economia.

O ex-presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, concorda com a previsão de corte de 0,25 ponto em maio. Ele não descarta, porém, a hipótese de manutenção do juro em 6,50% caso haja aumento dos riscos e cita especialmente a eleição. “Acho que o que pode atingir é o cenário eleitoral, que de alguma maneira levaria a uma instabilidade no câmbio e aumento do prêmio de risco”, disse Loyola. O ex-BC cita ainda que há chance de piora externa causada pela política monetária e comercial dos Estados Unidos, o que poderia provocar aumento do risco e desvalorizar moedas de emergentes. /  COLABORARAM MARIA REGINA SILVA E THAÍS BARCELLOS

 

Cenário

“Acho que o que pode atingir é o cenário eleitoral, que de alguma maneira levaria a uma instabilidade no câmbio e aumento do prêmio de risco.”

Gustavo Loyola​, EX-PRESIDENTE DO BC E SÓCIO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA