O Estado de São Paulo, n. 45453, 29/03/2018. Política, p. A8
Bolsonaro e aliados de Lula trocam acusações durante atos em Curitiba
29/03/2018
Deputado federal e ex-presidente participam de manifestações no mesmo dia na capital paranaense em meio aos ataques à caravana petista
Oencerramento da caravana organizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Estados da Região Sul do País, ontem à noite, em Curitiba, foi marcado por troca de acusações entre o deputado e presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e aliados do petista, que também se coloca na disputa ao Palácio do Planalto em outubro. Bolsonaro atribuiu os tiros que atingiram a caravana de Lula anteontem, no interior do Paraná, aos próprios petistas. Em reação, o ex-presidente, os pré-candidatos do PSOL, Guilherme Boulos, e do PCdoB, Manuela D’Ávila, além do ex-prefeito Fernando Haddad, falaram em “fascismo” e discursaram contra o que chamaram de escalada de violência no processo eleitoral.
Acusado por petistas por incentivar os ataques, Bolsonaro negou qualquer responsabilidade e sugeriu que os tiros, na verdade, teriam sido disparados por integrantes da própria comitiva. “Está na cara que alguém deles deu os tiros. A perícia deverá ficar pronta entre hoje (ontem) e amanhã (hoje) e vai apontar a verdade”, disse o deputado no início da noite de ontem em Ponta Grossa.
“Estão mais para fascistas e nazistas do que para democratas”, afirmou Lula ao comentar os protestos enfrentados pela comitiva petista no Sul – como na passagem por Bagé (RS), onde o grupo foi atacado por pedras. “Alguns (manifestantes) eu não sei quem são. Não vou avisar se é do (Sérgio) Moro, do MBL, usineiros, arrozeiros, porque não sei quem são”, declarou o ex-presidente. Enquanto ele discursava, manifestantes contrários ao petista batiam panelas nos prédios em volta do palanque.
O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, afirmou que o ato de ontem marcou o compromisso da esquerda com sua unidade e defesa da democracia. Em quase dez dias de trajeto pelo Sul, a comitiva de Lula enfrentou diversas manifestações – estradas foram fechadas e carros da caravana, atingidos por pedras e ovos.
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29/03/2018
Pré-candidato pelo PSL nega ter incentivado simpatizantes a atacar comitiva de Lula por interior do Paraná
O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência, negou que tenha incentivado ataques à caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sugeriu que os tiros que atingiram dois ônibus da comitiva, anteontem, no interior do Paraná, teriam partido dos próprios petistas.
“É tudo mentira. Está na cara que alguém deles deu os tiros. A perícia deverá ficar pronta entre hoje (ontem) e amanhã (hoje) e vai apontar a verdade”, disse o deputado no fim do dia, em Ponta Grossa (PR).
Não foi a única menção do presidenciável do PSL ao episódio. Pela manhã, logo depois de desembarcar no aeroporto de Curitiba, Bolsonaro já havia ironizado os ataques. “Lula quis transformar o Brasil num galinheiro, agora está por aí colhendo ovos por onde passa”, disse, discursando em cima de um carro de som.
Bolsonaro também ironizou a possibilidade de prisão de Lula, condenado em segunda instância na Lava Jato. “Não quero ele na cadeia. Quero ele em cana. Ele não gosta tanto de cana, vai levar cana.” O pré-candidato foi carregado nos braços pelos manifestantes da área de desembarque até o carro de som que o aguardava na porta do aeroporto. Durante este trajeto, ele recebeu um boneco do ex-presidente, contra o qual ele simulou agressões.
Bolsonaro passou por Curitiba no mesmo dia em que Lula encerrou, também na cidade, sua caravana por Estados do Sul. Os dois pré-candidatos ao Palácio do Planalto, no entanto, não se encontraram.
Protesto. No início da noite, cerca de 200 manifestantes contrários à presença de Lula em Curitiba realizaram um protesto pelas ruas da cidade. O grupo caminhou até encontrar uma barreira policial ao lado da Praça Santos Andrade, onde o expresidente faria o seu discurso.
A maior parte do grupo, formado por pessoas ligadas a grupos como Movimento Brasil Livre (MBL), Endireita Paraná e Amigos da Lava Jato, se dispersou antes mesmo do início do discurso de Lula. Cerca de 50 pessoas permaneceram no local gritando palavras de ordem como “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”. Uma bandeira do PT foi queimada.
Acusação
Para pré-candidato, Lula está ‘colhendo ovos’ e ‘perícia vai apontar a verdade’
Simulação
“Está na cara que alguém deles deu os tiros (contra os ônibus). A perícia vai apontar a verdade.”
Jair Bolsonaro, DEPUTADO FEDERAL (PSL—RJ)
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Ricardo Galhardo
Presidenciáveis do PCdoB e PSOL e ex-prefeito participam do ato de Lula em Curitiba e prestam solidariedade ao petista
O ataque a tiros a ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Paraná fez com que o ato de encerramento da viagem, ontem à noite, em Curitiba, fosse transformado em uma celebração de unidade da esquerda. Pré-candidatos à Presidência falaram em “fascismo” e discursaram contra o que chamaram de escalada de violência no processo eleitoral.
“Nós que amamos o Brasil e o povo brasileiro precisamos nos unir para derrotar o fascismo”, disse a presidenciável do PCdoB, Manuela D’Ávila. “Temos que responsabilizar o senhor Jair Bolsonaro, bandido, criminoso, sem vergonha, que está semeando o fascismo no Brasil”, afirmou o pré-candidato pelo PSOL, Guilherme Boulos.
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, um dos mais aplaudidos, disse que o ato de encerramento da caravana deveria ser o início de uma “campanha” contra “fascistas”. “Não me sinto no encerramento da caravana do ex-presidente Lula, mas no início de uma nova campanha para derrotar os fascistas”, afirmou Haddad.
Além de líderes do PT, participaram do evento – realizado em uma praça no centro de Curitiba – representantes do PSOL, PCdoB, PSB e até o senador Roberto Requião, do MDB.
Lula destoou do discurso de união da esquerda e falou como pré-candidato à Presidência. Ao comentar os ataques dos quais foi alvo no Sul, o ex-presidente disse que esses manifestantes “estão mais para fascistas e nazistas do que para democratas”.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) comparou a caravana à Coluna Prestes, também iniciada no Rio Grande do Sul. “É muito épica também. Não conseguiram parar a caravana. Lula se impôs”, disse o senador petista.
Bandeiras. Presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros sugeriu a criação de uma frente de esquerda para, segundo ele, barrar a escalada de violência na campanha eleitoral deste ano. “Hoje (ontem) é o dia em que a esquerda deixa de lado suas diferenças para reafirmar seu compromisso com a democracia”, disse o dirigente, em discurso no ato.
Medeiros citou ainda o assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco, no Rio, como um desses episódios do que chamou de “escalada de violência política”.
Apoio
Lula é recebido por militantes do PT no último ano da caravana em Curitiba
'Fascistas'
“Não me sinto no encerramento da caravana, mas no início de campanha para derrotar os fascistas.”
Fernando Haddad, EX-PREFEITO DE SÃO PAULO