Título: Parceira perfeita no esquema
Autor: Mello, Alessandra; Prates, Maria Clara
Fonte: Correio Braziliense, 22/04/2012, Política, p. 5
AProcuradoria da República de Goiás e Polícia Federal estão, aos poucos, desvendando as ligações entre empresas e colaboradores do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com a Delta Construções. Um e-mail, interceptado pelos federais, mostra o total de 13 depósitos da Delta Construções S/A na conta da empresa Ideal Segurança que, entre março e julho, somaram R$ 209,8 mil.
De acordo com as investigações, a Ideal Segurança tem o delegado federal Deuselino Valadares, conhecido como Neguinho dentro da organização criminosa, como sócio oculto de Cachoeira e de Cláudio Abreu, ex-diretor regional da Delta no Distrito Federal e Centro-Oeste. A movimentação financeira está registrada em planilha assinada pelo gerente financeiro da Ideal, Marcelo Vieira, datada de 10 de agosto do ano passado. Para o Ministério Público Federal (MPF), a Ideal, na verdade, é uma empresa fantasma, criada apenas para a lavagem do dinheiro ilícito da jogatina.
Em trecho de seu relatório, o MPF analisa: "Merece um capitulo à parte a aquisição da empresa Ideal Segurança. Entraram como sócios ostensivos a esposa de Deuselino, Luana Bastos Pires Valadares, detentora de 50% das cotas, e Edson Coelho dos Santos, vulgo Cupim. Por trás, ditando as regras, estariam Cláudio Abreu, o próprio Cachoeira, Rossine Aires Guimarães e Deuselino". Rossine é empresário com negócios em Goiás, Tocantins e Mato Grosso. Em 2010, ele doou R$ 800 mil ao PSDB de Goiás durante a campanha que elegeu o governador Marconi Perillo, que também teria ligações com o contraventor, segundo a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que prendeu Cachoeira em fevereiro deste ano.
Segundo o inquérito da PF, em diálogo interceptado em 17 de agosto do ano passado, Cachoeira conversa com Gleyb Cruz, uma espécie de gerente financeiro da organização, e cobra dele o repasse de recursos da Delta para o pagamento de despesas da Ideal. "Quem é que está faltando pagar? É a Delta que está faltando pagar para vocês?"
Em outro trecho, Gleyb informa: "A Delta falou que só paga depois que o INSS estiver pago. O INSS para pagar é R$ 18 mil. Então, a Delta tem que pagar uns cento e tantos mil. E já pagaria a folha e já pagaria tudo. O que eu preciso é só de um respiro aqui para pôr em dia de caixa, aguentar os prazos de recebimento da Delta para pagar", completou Gleyb.
Para conseguir lavar todo o dinheiro do jogo, Cachoeira usou, além da Ideal, as empresas fantasmas Alberto&Pantoja e Brava Construções. Outros dois funcionários da Delta Construções também trabalham para o contraventor. André Teixeira Jorge, o Deca, segundo a PF, está registrado na Previdência Social como funcionário da Delta, mas atua mesmo como "laranja" e secretário do contraventor, de acordo com o MPF.
As investigações apuraram que ele foi funcionário da Vitapan, empresa de propriedade de Cachoeira, entre 2000 e 2006, sendo que em 2010 foi admitido na empreiteira. No emaranhado dos sócios e empresas do bicheiro, a procuradoria identificou mais um colaborador em comum entre a Delta e a Ideal: Eney Curado Brom Filho, que apareceu como dono da Ideal, depois que a empresa deixou de pertencer ao delegado da PF Deuselino, que advoga para a Delta.
Dicionário o crime
Códigos usados pelos integrantes da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira em diálogos gravados pela Polícia Federal
O homem — Carlos Cachoeira
Pizzaria, igreja e farmácia — Casa de jogos, cassino ou bingo
Barca — Viatura policial
Salada — Propina
Assistência social — Termo usado nos relatórios de contabilidade para descrever o dinheiro pago a policiais
Meninas, copinha e geladeira — Máquinas de caça-níquel