O Estado de São Paulo, n.45455 , 31/03/2018. Política, p.A8

JUÍZES DEFENDEM PRISÃO EM 2ª INSTÂNCIA

Fausto Macedo

 

 
Abaixo assinado apoiado por mais de 1.000 magistrados será entregue aos ministros do STF que, no dia 4, julgam habeas corpus de Lula

Representantes dos Ministérios Públicos e da magistratura de todo o País planejam entregar um abaixo-assinado pela defesa da prisão após segunda instância aos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima segunda-feira, antevéspera do julgamento do habeas corpus preventivo solicitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista foi condenado a 12 anos e um mês no caso triplex do Guarujá, alvo da Operação Lava Jato.

Mais de 1.000 promotores, procuradores e juízes já haviam assinado o documento até a noite de ontem. Esta é a maior ofensiva de juristas pela execução de pena após segunda instância. Entre os signatários está o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa de Curitiba do Ministério Público Federal.

“Nada justifica que o STF revise o que vem decidindo no sentido de que, juridicamente adequado à Constituição da República, o início do cumprimento da sanção penal se dá a partir da decisão condenatória de segunda instância. A mudança da jurisprudência, nesse caso, implicará a liberação de inúmeros condenados, seja por crimes de corrupção, seja por delitos violentos, tais como estupro, roubo, homicídio etc”, diz trecho do abaixo-assinado, sem citar nominalmente o caso do ex-presidente Lula.

Na dia 4, quarta-feira, o plenário da Corte analisará o mérito do pedido de Lula, que espera receber o aval para aguardar em liberdade a análise de todos os recursos que serão apresentados às instâncias superiores, entre elas o próprio STF. Há nove dias, por seis votos favoráveis e cinco contrários, o Supremo concedeu uma liminar assegurando a liberdade do ex-presidente até o julgamento de seu habeas corpus.

Considerada incógnita no julgamento, a ministra Rosa Weber foi quem abriu a votação a favor de suspender eventual ordem de prisão até que o Supremo julgue o mérito do habeas corpus. Seguiram a ministra Marco Aurélio, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Negaram Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia.

 

TRF-4. Em 24 de janeiro, Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). Foi a segunda condenação do petista – a primeira, determinada pelo juiz federal Sérgio Moro, era mais branda: nove anos e meio de prisão.

A liminar concedida pelo STF impediu com que Moro expedisse ordem de prisão contra o petista, já que a condenação em segunda instância foi confirmada pelos magistrados do TRF-4 em 26 de março. Nessa data, a Corte de apelação da Lava Jato rejeitou o embargo de declaração apresentado pelos advogados do ex-presidente.

Pelo entendimento firmado pelo Supremo em 2016, Lula poderia ser preso após a condenação em segunda instância. É justamente essa garantia que os magistrados participantes do abaixo-assinado querem ver mantida.

Apesar de o julgamento do habeas corpus, em tese, não abrir precedente, o temor é que uma decisão favorável a Lula possa indicar uma tendência do Supremo em rever definitivamente a autorização da prisão em

segunda instância.

Há duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adis), sob a relatoria do ministro Marco Aurélio Mello, prontas para serem pautadas sobre a questão no Supremo.

 

Ameaça

“A mudança da jurisprudência, nesse caso, implicará a liberação de inúmeros condenados, seja por crimes de corrupção, seja por delitos violentos, tais como estupro, roubo, homicídio etc.”

TRECHO DO ABAIXO-ASSINADO DOS MAGISTRADOS E PROCURADORES

 

PONTO-CHAVE

Decisão de 2016 expôs divisão na Corte

Jurisprudência

Em 2016, o STF decidiu que réus condenados em 2.ª instância poderiam cumprir pena em regime fechado, antes do esgotamento de todos os recursos.

 

Divisão

O novo entendimento expôs um divisão no Supremo. Foram seis os ministros favoráveis ao cumprimento da pena após 2.ª instância (e cinco contrários).

 

Habeas Corpus

Ministros contrários a prisão após condenação em 2.º grau passaram a conceder habeas corpus em decisões monocráticas, reacendendo a polêmica.

 

O caso Lula

Condenado em 2.ª instância, o ex-presidente Lula entrou com habeas corpus preventivo para evitar possível prisão. O caso será julgado pelo plenário.