O Estado de São Paulo, n. 45485, 30/04/2018. Política, p. A4
Sarney volta ao Maranhão e tenta retomar o poder
Ricardo Galhardo
30/04/2018
Eleição. Após 28 anos domiciliado eleitoralmente no Amapá, ex-presidente transfere título para terra natal para fortalecer clã e impedir reeleição de governador do PCdoB
Após 28 anos disputando eleições pelo Amapá, o ex-presidente José Sarney transferiu o título de eleitor de volta para o Maranhão, sua terra natal e berço político. Sarney alega motivos pessoais para o retorno, mas, segundo amigos e colaboradores, o ex-presidente só fala em duas coisas: evitar o esfacelamento de seu grupo político e tirar do Palácio dos Leões o governador Flávio Dino (PCdoB).
Depois de 28 anos domiciliado eleitoralmente no Amapá, o ex-presidente José Sarney transferiu o título de eleitor de volta para o Maranhão, sua terra natal e berço político. Sarney alega motivos pessoais para o retorno, mas, segundo amigos e colaboradores, o ex-presidente só fala em duas coisas: evitar o esfacelamento de seu clã e tirar a qualquer custo do Palácio dos Leões o governador Flávio Dino (PC do B), eleito em 2014 depois de 40 anos de domínio quase ininterrupto do sarneyzismo no Estado.
“O que Sarney pensa é em voltar ao poder no Maranhão. Nem é tanto pelo poder em si, mas por uma maneira de dar a volta por cima, de no final não ser um homem derrotado, marginalizado”, disse o presidente da Academia Maranhense de Letras (AML), Benedito Buzar, um dos amigos mais próximos do ex-presidente. “Dino tem agido com uma agressividade terrível contra os Sarney”, completou.
Com 88 anos recém completados, Sarney mantém diariamente um espaço em sua agenda para receber os políticos locais. Três líderes de partidos da base de Dino disseram, sob anonimato, ter recebido propostas do ex-presidente para apoiar a pré-candidatura de Roseana Sarney (MDB) ao governo.
Apesar da atividade política intensa, o ex-presidente tem colhido fracassos na tentativa de minar a ampla aliança que dá sustentação a Dino. Articulações para trazer o DEM, PP, PRB até agora falharam. As manobras para filiar a ex-governadora ao DEM e o filho Zequinha (PV) ao PSD também fracassaram. “A falta de um cargo atrapalha”, disse Buzar.
Simbólico. A família nega que o patriarca esteja envolvido diretamente nas articulações. “Não tenho visto muito esforço dele neste sentido”, disse o neto Adriano Sarney, deputado estadual pelo PV. Para ele, o significado do retorno de Sarney para o Maranhão é mais simbólico do que prático. “Mas meu avô sempre diz que a política só tem a porta de entrada”, afirmou Adriano.
Na terça-feira, quando fez aniversário, o ex-presidente disse a amigos que pretende sair do luxuoso apartamento avaliado em R$ 4 milhões onde mora, no bairro Ponta da Praia, e voltar para a antiga casa da família na praia do Calhau. Sarney reclama que a vida em condomínio, com portarias e elevadores, dificulta os contatos políticos, ao contrário da casa avarandada do Calhau, onde o portão está sempre aberto.
Segundo amigos e aliados, há muitos anos Sarney não passava tanto tempo em São Luís.
Na quarta-feira foi para Nova York onde deve acompanhar as cirurgias no joelho da mulher, a ex-primeira-dama dona Marly, de 85 anos. O casal foi acompanhado de filhos e netos no jatinho particular do empresário Mauro Fecury, dono da Ceuma, uma das maiores universidades privadas do país.
O próximo passo, segundo amigos, é abandonar de vez Brasília, onde mantém uma casa, para se estabelecer apenas em São Luís. O que impede é a política. A ligação de Sarney com o poder federal é, hoje, mais do que nunca, uma das principais fontes de poder do clã.
Festa. Aniversário do ex-presidente: ele busca apoio para a candidatura da filha ao governo
SEIS DÉCADAS NA POLÍTICA
1930
José Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasce em Pinheiro (MA), filho do promotor Sarney de Araújo Costa e Kyola Ferreira
1942
Vai estudar no Liceu Maranhense, em São Luís
1944
Inicia a carreira política no movimento estudantil do Maranhão
1953
Se casa com dona Marly. No ano seguinte nasce Roseana, filha do casal que viria a ser quatro vezes governadora do Maranhão
1954
É eleito deputado federal pelo PSD. No ano seguinte assume uma vaga na Câmara e se filia à UDN
1965
É eleito governador do Maranhão pela Arena, partido que dava sustentação à ditadura militar
1970
Ganha a primeira eleição para senador
1978
Lança o livro de poesias Marimbondos de Fogo
1984
No rastro da campanha pelas Diretas Já lidera a criação da Frente Liberal. Se filia ao PMDB e é vice de Tancredo Neves
1985
É eleito vice-presidente da República pelo Colégio Eleitoral Com a morte de Tancredo, assume a presidência.
1990
Sem espaço no Maranhão após deixar o Planalto transfere o domicilio eleitoral para o Amapá e se elege senador
1995
É escolhido pela primeira vez para presidir o Senado
2002
Apoia a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva
2003
É novamente eleito presidente do Senado
2009
O Estado revela o escândalo dos atos secretos do Senado que beneficiavam senadores, seus parentes e funcionários da Casa
2014
Flavio Dino (PC do B) bate Edson Lobão Filho (PMDB), apoiado pelo ex-presidente, e assume o governo do Maranhão depois de quase 40 anos de poder do clã Sarney
2019
Transfere o domicilio eleitoral de volta para São Luís