O Estado de São Paulo, n. 45484, 30/04/2018. Política, p. A6

 

Pré-campanha de Bolsonaro se volta para o segmento

29/04/2018

 

 

Pré-candidato do PSL intensifica agenda em eventos religiosos ao mesmo tempo em que defende que todo cidadão deve andar armado

Movimentos recentes do deputado Jair Bolsonaro (RJ), pré-candidato do PSL à Presidência da República, mostram que ele tem intensificado sua aproximação com o eleitorado evangélico.

Na quinta-feira passada, Bolsonaro participou de dois encontros com evangélicos em Brasília e hoje tem presença confirmada no encerramento do 36.º Congresso Internacional de Missões dos Gideões da Última Hora, em Camboriú, em Santa Catarina.

O convite foi feito em seu gabinete, na Câmara, durante visita de pastores missionários do grupo, formado por diferentes denominações pentecostais. O deputado deve participar do encerramento ao lado da mulher, Michelle, fiel da Igreja Batista Atitude, no Rio, que o estimula a participar dos cultos. O deputado quer prestigiar o segmento, com o qual diz manter interlocução. “Gozo da simpatia deles”, disse ele ao Estado, na quinta-feira passada.

Bolsonaro é católico de formação. Na Câmara, adota discurso conservador e é defensor de bandeiras simpáticas aos evangélicos como a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a legalização do aborto e a descriminalização de drogas. O deputado também se diz a favor “da família e dos costumes” ao mesmo tempo em que afirma que todo cidadão deveria andar armado.

Batismo. Um marco da guinada de Bolsonaro ocorreu em maio de 2016. Enquanto o Senado votava o afastamento da então presidente Dilma Rousseff, o deputado viajou a Israel com os filhos parlamentares e passou por batismo no Rio Jordão. A cerimônia foi conduzida pelo pastor Everaldo, do PSC, então partido de Bolsonaro. Candidato a presidente em 2014, Everaldo controla a Assembleia de Deus Ministério Madureira, no Rio.

Depois da cerimônia em Israel, o deputado passou a se apresentar como “cristão” e destacar valores “judaico-cristãos”. Também adotou um bordão, com o qual costuma encerrar seus discursos e vídeos distribuídos em redes sociais – onde tem 5,385 milhões de seguidores: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. Ele também ampliou o trânsito com autoridades israelenses, que aumentaram a interlocução com os evangélicos, e tem se posicionado favoravelmente a Israel em questões de política internacional.

Bolsonaro recebe apoio de nomes influentes como o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o pastor e senador Magno Malta (PR-ES), um dos líderes da frente religiosa no Congresso. Malafaia celebrou seu casamento com a atual mulher. Malta foi cortejado pelo pré-candidato para ser vice em sua chapa.

Em visita a Roraima, no início do mês, Bolsonaro lançou como pré-candidato ao Senado por seu partido o pastor da Assembleia de Deus Isamar Ramalho. No discurso para uma plateia de fiéis, o pastor comparou Bolsonaro a personagens bíblicos e afirmou, apontando para o deputado, que “Deus tem uma pessoa certa para cada templo, e este é o homem para este”. Já Bolsonaro afirmou que “Deus não dá nenhuma cruz que não possa carregar”.

Na quinta-feira, Bolsonaro conversou reservadamente com o pastor Cláudio Duarte. Influente nas redes sociais, ele indicou apoio a Bolsonaro. “No que você precisar eu tenho aí um movimento na minha rede social”, disse. Antes do bate-papo, o deputado assistiu da primeira fila à palestra do pastor a um auditório lotado de mulheres na região central de Brasília.

Sua passagem foi discreta e ele se mostrou tímido diante do pastor – postura que o pré-candidato ao Planalto pretende manter nos encontros religiosos, bem diferente da que adota em discursos e nas redes sociais. 

Cristão-novo​. Deputado foi batizado em Israel em 2016 e vem se aproximando de lideranças evangélicas, como o senador e pastor Magno Malta (PR-ES)

Em nome de...

“Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.”

“Deus não dá nenhuma cruz que não possa carregar.”

“Gozo da simpatia deles (evangélicos).” - Jair Bolsonaro​, DEPUTADO PRÉ-CANDIDATO À PRESIDÊNCIA PELO PSL

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‘O estatismo não levou a lugar nenhum. O modelo fracassou’

Robson Rodovalho, Ricardo Galhardo e Paulo Beraldo

29/04/2018

 

 

Bispo diz que orientação de confederação é apoiar candidatos com visão de política econômica liberal

Presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), entidade que congrega as principais igrejas neopentecostais do País, e fundador da Sara Nossa Terra, comunidade evangélica com 1,2 milhão de fiéis, o bispo Robson Rodovalho afirma que a orientação da entidade é apoiar candidatos comprometidos com políticas econômicas liberais como o rigor fiscal e o Estado mínimo. Segundo ele, no entanto, para os evangélicos, as pautas morais religiosas como a questão de gênero, aborto e combate às drogas têm, no mínimo, o mesmo peso que as grandes questões nacionais como economia, saúde, educação e segurança. “Não adianta oferecer o paraíso econômico e o inferno do ponto de vista social”, disse ele.

 

O sr. foi procurado por pré-candidatos a presidente em busca de apoio eleitoral? Quais?

Fui procurado por alguns, não por todos, sempre perguntando sobre o que esperamos de um presidente, quais as possibilidades de um eventual apoio. Queremos debater, somos cidadãos, não somos cristãos alienados nem fora da realidade.

 

A confederação tem alguma orientação para estas eleições?

Tem, sim. Uma delas é procurar candidatos afinados com nossas bandeiras e valores não apenas do ponto de vista do desenvolvimento econômico. É claro que o estatismo não levou a lugar nenhum. Alguns Estados não têm dinheiro para pagar a folha de pagamento, rodar seu caixa. O modelo de gestão atual fracassou e a primeira providência, a nosso ver, seria trazer candidatos comprometidos com o liberalismo econômico e a livre-iniciativa.

 

Como é a negociação com os presidenciáveis para serem apoiados pela igreja?

Quem apoia não é a igreja. A igreja é uma instituição democrática que tem famílias que apoiam candidatos diversos. É natural ter pessoas que apoiem candidatos mais alinhados à esquerda ou à direita.

 

Que pautas devem ser defendidas pelos candidatos para conseguirem seu apoio?

O Brasil tem que ter capacidade de inverter esse discurso de dependência social para o de expectativa de produtividade e crescimento individual. Hoje a expectativa do brasileiro é depender de um Bolsa Família que, em essência, não é de todo ruim. Mas é incompleto. Procuramos candidatos que tenham essa visão e ao mesmo tempo se alinhem às nossa bandeiras e valores como família, vida e proteção aos princípios que estão na Bíblia.

 

Quais propostas o sr. repele?

Não cabem para nós propostas como as que temos vivido, que invertem a ordem social, criam um clima de conflito muito grande na sociedade. Hoje vivemos uma sociedade muito conflituosa, um País dividido e isso é resultado de militâncias que acirram a sociedade em visões radicais e também antinaturais. Então, não cabe trazer para a gente qualquer proposta que mude o conceito de família natural, homem e mulher, qualquer militância de gênero, doutrinar as crianças. Alguns desses aspectos para nós estão muito amadurecidos

 

Qual o peso de pautas como a questão de gênero, aborto, drogas no voto dos eleitores evangélicos? É maior do que temas como economia, segurança, educação, saúde?

Essas pautas de gênero, combate às drogas e aborto têm um voto muito pesado, tem muita importância para os evangélicos na hora de votar. Não sei se é maior do que a questão econômica. Mas pelo menos é igual. Não adianta oferecer o paraíso econômico e o inferno do ponto de vista social.

 

O sr. vai integrar a coordenação da pre-campanha de Flávio Rocha?

Sim. Eu estou dentro da campanha do Flávio Rocha porque ele é membro da nossa igreja e alinha muito com nossas proposituras. Nossa expectativa é de que o Flávio tenha oportunidade de apresentar sua identidade e submeter isso à sociedade brasileira. Depois iremos ver para onde vamos.

 

Apoio

Bispo Robson Rodovalho diz que já foi procurado por políticos do ponto de vista filosófico.