Correio braziliense, n. 20068, 01/05/2018. Brasil, p. 5

 

Efeito da recessão frustra trabalhador

Rosana Hessel

01/05/2018

 

 

SOCIEDADE » Perda do PIB nos últimos dois anos resulta em 13,7 milhões de desempregados, número que deve demorar para cair devido à lenta retomada da atividade. Centrais sindicais marcam protestos para hoje. Temer afirma que dia é de “reflexão”

Apesar de o país estar deixando para trás a maior recessão da história, que eliminou 7% do Produto Interno Bruto (PIB) no biênio 2016-2017, os brasileiros têm pouco a comemorar no Dia do Trabalho. A recuperação da economia está ocorrendo a passos mais lentos do que o esperado, e o número de desempregados aumentou em março, conforme dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Passou de 12,3 milhões, no último trimestre de 2017, para 13,7 milhões, nos primeiros três meses deste ano. Nesse mesmo período, o rendimento médio ficou estagnado em R$ 2,169 mil.

Especialistas afirmam que esse quadro não é animador. O emprego não deve voltar a crescer tão cedo, porque a expansão da economia está abaixo do necessário para que isso ocorra. “A recuperação está ocorrendo de forma gradual e ainda há uma ociosidade elevada da capacidade produtiva. Portanto, para o desemprego voltar a cair, será necessário que o país cresça, por quatro anos seguidos, em torno de 4%, algo que vai demorar vários anos ainda”, explicou o economista e especialista em mercado de trabalho Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB). A mediana das estimativas do mercado prevê alta de 2,75% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.

Outros problemas são antigos, e estruturais. A desigualdade entre gêneros segue grande. Segundo estudos de mercado, as mulheres chegam a ganhar quase metade do salário dos homens nas mesmas funções.

De acordo com Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o emprego formal vem diminuindo em ritmo contínuo. Nos últimos quatro anos, o total de pessoas com carteira assinada, encolheu em quatro milhões, totalizando 32,9 milhões de trabalhadores.

“Está havendo uma queda média de 500 mil vagas por trimestre. Em quatro anos, perdemos quatro milhões de vagas formais no meio dessa recessão dos anos de 2015 e 2016”, lamentou. A taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2018 ficou em 13,1%, dado superior aos 11,8% computados entre outubro e dezembro de 2017.

Outro dado preocupante destacado por Azeredo, além desses 13,7 milhões desocupados, são as 4,3 milhões de pessoas (a maioria pardos e negros) em situação de desalento, que deixaram de procurar emprego. Esses dois, somados aos jovens que não estudam nem trabalham, compõem um exército de 26 milhões de pessoas que estão subutilizadas.

As manifestações programadas pelas centrais sindicais para hoje em todos os estados brasileiros preveem protestos.  “Não temos o que comemorar. A palavra comemoração deixamos para outro dia”, afirmou a vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Carmen Foro. Os atos unificados terão como mote “Em Defesa dos Direitos e por Lula Livre”. A CUT e mais seis centrais — Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST, Uniao Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Intersindical — voltaram a unir forças e escolheram Curitiba para realizar a principal manifestação no país. O protesto está marcado para 14h, na Praça Santos Andrade, conhecida como Praça da Democracia. São esperadas mais de 20 mil pessoas no evento.

Em pronunciamento em cadeia nacional na noite de ontem, o presidente Michel Temer reconheceu o dia de hoje não é de festa. “O Dia do Trabalho é um dia de reflexão, não é um dia de festa. Nós temos que comemorar a nossa capacidade de trabalho”, afirmou ele, fazendo homenagens para várias categorias. “Enquanto alguns passam o dia criticando, a gente passa o dia trabalhando. E nessa data especial, o país agradece a quem faz, a quem produz e a quem realiza”, destacou Temer.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________

Bolsa família tem reajuste de 5,6%

Maiza Santos

01/05/2018

 

 

O presidente Michel Temer anunciou ontem, em pronunciamento na tevê, um reajuste de 5,67% nos benefícios do Bolsa Família. O último aumento foi em junho de 2016. Considerada a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o aumento real é de 1,1%. O programa de transferência de renda atende, atualmente, 14 milhões de famílias. Para participar, a renda mensal por pessoa deve ser de até R$ 170, quando há filhos de até 17 anos. Nos casos em que as famílias não tenham crianças ou jovens, o limite é de R$ 85.

Para Sérgio Firpo, economista do Insper, o reajuste é importante e veio tarde. “Já deveria ter sido dado lá atrás. O gasto por pessoa dos beneficiários é muito pequeno, só serve para aliviar a extrema pobreza. É necessário, pois é preciso proteger a camada mais jovem, se o Brasil pretende crescer. É um investimento em capital humano de gerações futuras”, pontua.

Em relação ao formato do programa, o especialista defende a criação de um sistema de transição para que as famílias não fiquem desprotegidas ao entrar no mercado de trabalho formal. “Tem que pensar em ações para qualificar as pessoas. Geralmente, elas têm baixa escolaridade, entram e saem do mercado de trabalho formal, enfrentam longos períodos de desemprego. O medo de perder esse benefício força as pessoas a ficarem no setor informal, sem garantia nenhuma”.

Com a decisão de dar aumento real aos beneficiários do Bolsa Família, os técnicos da área econômica terão agora de fazer os cálculos para acomodar o custo do reajuste dentro do orçamento deste ano. O principal obstáculo a um reajuste maior que a inflação era justamente o impacto sobre as despesas do governo, que já estão sob bloqueio devido à possibilidade de frustração de receitas com a privatização da Eletrobrás e também devido à limitação imposta pelo teto de gastos.

A parcela paga em todo o país varia conforme a renda, a composição da família e a cidade onde vive o beneficiário. Em média, as famílias recebem até R$ 178,45. Para continuar recebendo as parcelas, os beneficiários devem manter as crianças matriculadas nas escolas, com frequência às aulas de pelo menos 85%. Além disso, o cartão de vacinação de crianças até 7 anos deve ser atualizado.

O reajuste entra em vigor na folha do mês de julho. De acordo com o ministro do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, o impacto estimado para este ano é de R$ 684 milhões. O último reajuste foi anunciado em junho de 2016, logo após a posse do presidente Michel Temer, com aumento de 12,5%.