Correio braziliense, n. 20069, 02/05/2018. Política, p. 4

 

PT no meio da encruzilhada

Bernardo Bittar

02/05/2018

 

 

JUSTIÇA » Após a nova denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Lula e Gleisi Hoffmann, especialistas veem o partido em situação crítica

 

O PT vive uma situação delicada. Poucos dias após a divulgação de dois acordos de delação que devem respingar na legenda, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou a cúpula partidária e acusa a sigla de participar de desvios equivalentes a mais de R$ 1 bilhão. Sem nomes fortes para disputar o Planalto, correndo o risco de morrer antes das eleições e com possibilidade até de perder o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT enfrenta um momento crítico, dizem especialistas. Caciques já estão presos ou perto de ir para a cadeia, o que traz à tona uma dificuldade de sobrevivência impensável nos 13 anos da era petista no Planalto.

“O momento é crítico, muito sensível, sobretudo em ano eleitoral. A legenda é histórica, tem um eleitor muito mobilizado, mas os últimos acontecimentos colocaram os companheiros em uma encruzilhada. Se eles não promoverem alianças e reorganizarem a base, a situação pode se complicar ainda mais”, explica o professor de ciência política Marcelo Vieira, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), lembrando que a denúncia da PGR atinge, entre outros, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR).

“É claro que isso respinga nela. Agora, veja, temos um conflito interessante, que é o ex-ministro Antonio Palocci sendo acusado pela PGR de roubar com o PT, de um lado, e a Polícia Federal dizendo de outro, que o cara vai delatar todo mundo do partido”, avalia Vieira. Para o professor da Ufes, a dificuldade em substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que está preso e inelegível, condenado a 12 anos e um mês de prisão no caso do tríplex do Guarujá (SP) — é um dos maiores problemas, e mostra a fragilidade em que os petistas se encontram.

“Não tem mais nenhum nome forte. O partido apostou muito mal nos quadros de sucessão ao Lula. Quem era forte está preso. Dilma (Rousseff) foi um fracasso. (Fernando) Haddad mantém plataforma política, mas é um gestor malsucedido, sem adesão eleitoral nacional”, observa Marcelo Vieira, que não acredita mais no poder de Lula para eleger alguém de sua confiança. Segundo o especialista, transferências de votos não funcionam para o PT desde as eleições de 1989, quando Leonel Brizola cedeu votos a Lula.

Registro eleitoral

Para Joana Meireles, professora aposentada de direito eleitoral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), “o PT errou muito no cálculo político para promover a sobrevivência eleitoral sem Lula, ainda mais em uma eleição majoritária”. Sem o nome do ex-presidente nas urnas, o eleitorado que não acompanha a ideologia do PT, só votava nele por causa da estrela petista, vai migrar. “O Lula fazia com que o eleitorado mais amplo ficasse em torno dele. A gente não vê isso na senadora Gleisi, por exemplo, que vai deixar o Senado para fortalecer a Câmara. Isso é uma atitude desesperada, tentar aumentar a bancada na Casa Baixa como sendo a única opção era uma atitude inimaginável 10 anos atrás”, completou.

O PT corre ainda o risco de perder o registro partidário. O pedido foi feito no fim do ano passado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Juristas alegaram a desmoralização do partido, que corre risco real de ser cassado. E que poderá se agravar ainda mais, caso seja comprovada a transferência de US$ 1 milhão do ditador líbio Muamar Kadafi para a campanha de Lula, em 2002, conforme sinalizou o ex-ministro Antonio Palocci, em sua proposta de delação premiada.

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Vice de Ciro Gomes

02/05/2018

 

 

Apontado como uma das alternativas do PT para a disputa da Presidência da República, o ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner admitiu ontem que o partido pode aceitar ser vice de Ciro Gomes (PDT) e defendeu a inclusão de Joaquim Barbosa (PSB) no diálogo com os demais partidos de esquerda.

Wagner, no entanto, ressaltou que é favorável à estratégia petista de manter o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, até a última instância. Ele desautorizou a inclusão de seu nome entre os prováveis planos B do PT enquanto a candidatura do ex-presidente estiver colocada e admitiu quer a prisão de Lula dificulta a aceitação de outras alternativas pela cúpula petista. “Não coloco meu nome em hipótese alguma à disposição neste momento”, disse.

Ao chegar ao ato de 1º de Maio organizado pelas seis centrais sindicais na tarde de ontem (leia mais na página 6), em Curitiba, Wagner foi indagado por jornalistas sobre a possibilidade de o PT aceitar ser vice de Ciro e respondeu: “Pode. Sempre defendi que, após 16 anos, estava na hora de ceder. Sempre achei isso. Não conheço na democracia ninguém que fica 30 anos. Em geral fica 12, 16, 20 anos. Defendi isso quando o Eduardo Campos ainda era vivo. Estou à vontade neste território.”