Correio braziliense, n. 20089, 23/05/2018. Política, p. 2

 

Meirelles confirmado na disputa pelo Planalto

Rodolfo Costa

23/05/2018

 

 

ELEIÇÕES » Visto como mais viável nas urnas, MDB oficializa o nome do ex-ministro da Fazenda no lugar de Michel Temer na corrida presidencial. Desafio da legenda será unir o partido em torno da candidatura, principalmente nos estados do Nordeste

O MDB bateu o martelo e definiu ontem Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, como o nome do partido na disputa pela Presidência da República. A opção era dada como certa entre emedebistas como forma de unir a legenda em torno de uma opção mais viável em termos de recursos e viabilidade. Com a decisão, sai de cena o presidente Michel Temer, marcado pela alta impopularidade por ser alvo de investigações da Polícia Federal, e assume um presidenciável que possa bancar a própria campanha e que é menos reprovado internamente e pelo eleitorado.

A possibilidade de Meirelles custear a própria pré-candidatura foi um elemento decisivo para a escolha do partido. O movimento foi comandado pelo presidente nacional do MDB, senador Romero Jucá (RR), que trabalhou o nome do ex-ministro com deputados, senadores e presidentes de diretórios estaduais da legenda. A ideia é que, com o ex-ministro cobrindo a campanha, de até R$ 70 milhões, abre espaço para que os recursos do fundo partidário sejam distribuídos entre demais candidaturas.

O fortalecimento de Meirelles no partido vai além do poder financeiro. A análise é de que, se ele não conseguir trazer votos, ao menos não “atrapalhará”. Uma visão oposta à de Temer, que é tratado como um candidato ruim de se vincular à imagem, em decorrência das investigações em andamento. A relação entre o presidente e Meirelles está sendo trabalhada pelo partido nos mínimos detalhes, mas eles permanecerão com uma sintonia bem alinhada.

Temer disse que o aliado é o “melhor entre os melhores” e tem “todas as condições de estar à frente não só do nosso partido, mas da campanha eleitoral”. No entanto, após o discurso de Temer, não houve um gesto simbólico da “passada de bastão”. Sem quaisquer gestos clichês, mas tradicionais em anos eleitorais, de braços unidos e levantados entre ambos. Uma sucessão tímida, mas relevante para desassociar uma imagem da outra.

O MDB ainda esboça junto a Meirelles um discurso que faça essa desassociação. A ideia é alçá-lo não apenas como um defensor do legado governista, mas como o grande responsável por ter tirado o país da recessão. E a retórica do presidenciável está afiada para rebater as declarações de que o emprego ainda não decola. “Nós temos que olhar os dados econômicos de uma maneira analítica. Até abril, foram criados mais de 200 mil empregos formais. Isto que é relevante, pois significa que a economia está crescendo”, argumentou o ex-ministro.

A atuação de Temer na corrida eleitoral será focada em manter o desenvolvimento do país nos próximos meses. O objetivo é que, se concentrando em manter a recuperação do país, Meirelles ganhe de bandeja os benefícios. Diferentemente do que se imaginava, ele não assumirá um papel de coordenador, explicou Jucá. “Ele vai governar. É importante o resultado do governo. Tem que continuar mantendo (o que foi feito), mas vai colaborar da forma como puder”, disse.

Unificação

A viabilidade eleitoral de Meirelles não é um cenário impossível. Mas dependerá, sobretudo, de o partido usar os recursos, exposição pública, colocá-lo nos eventos e usar a estrutura da legenda para emplacá-lo de norte a sul junto aos diretórios estaduais, sustenta o analista político Murilo Aragão, sócio da Arko Advice. “Vai depender muito do desempenho nas pesquisas. Se ele conseguir emplacar entre 5% a 6% da intenção de votos nos próximos dois meses, é possível se fortalecer e até unir o centro em torno dele”, avaliou.

A unificação do centro não será uma tarefa fácil, e demandará, sobretudo, o apoio de todo o partido a Meirelles. Para isso, será preciso convencer caciques do Nordeste. A solução para isso, aposta o MDB, está no documento “Encontro para o Futuro”, uma espécie de continuidade do programa “Ponte para o Futuro”. O partido prepara estratégias que promovam o desenvolvimento econômico na região, com mais investimentos em energias limpas, como a eólica e solar.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Palanque com prefeitos

Bernardo Bittar

23/05/2018

 

 

Durante a XXI Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios — evento conhecido como Marcha dos Prefeitos —, que serve para pressionar o governo central por demandas estaduais — três presidenciáveis estiveram em Brasília para debater o assunto e, claro, usar o evento como palanque. Até amanhã, mais cinco devem comparecer. Propostas de soluções ambientais, econômicas e projetos de combate à corrupção foram respondidas em tom eleitoral.

Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos) e Ciro Gomes (PDT) discursaram aos prefeitos. Manuela D’Ávila foi convidada e confirmou presença, mas não compareceu. Ao saber da desistência de Temer na corrida pelo Planalto, Marina disse que “não dá para acreditar que quem criou os problemas de hoje poderá resolvê-los”, comentando sobre a candidatura de Henrique Meirelles (MDB).

Questionada sobre a saída de Temer da disputa eleitoral, Marina optou pela ironia. “Três por cento de popularidade, dentro da margem de erro, é possível que seja zero”, afirmou. Ela acredita que o fim da polarização entre esquerda e direita é uma saída para melhorar o cenário, e voltou a criticar a reforma política, que, em suas palavras, “foi encomendada”. A ex-ministra do Meio Ambiente também questiona os 10 segundos que terá para fazer campanha no horário eleitoral gratuito e compara seu orçamento de campanha com o dos grandes partidos, que deve ultrapassar R$ 500 milhões.

O senador Alvaro Dias disse que os políticos têm de pedir desculpas à população pela desigualdade e pelo subdesenvolvimento do país. “O sistema é corrupto. Este sistema fracassou. Temos que pedir perdão ao povo brasileiro. Nós não fomos competentes para explorar de forma capaz as potencialidades deste país. Temos que pedir perdão ao Brasil pelo estágio de subdesenvolvimento em que nos encontramos”, afirmou o candidato à Presidência da República.

Em discurso duro, Ciro acusou o Ministério Público e o Poder Judiciário de ultrapassarem as suas atribuições democráticas e quererem governar o país no lugar de todo mundo. “Hoje, (com o) Congresso Nacional desmoralizado, o poder federal desmoralizado e a autoridade política desmoralizada, há uma invasão absolutamente intolerável, que tem de ser posta fim a ela, de atribuições democráticas por poderes que não são votados”, afirmou, dirigindo-se ao MP.

Não foram apenas os presidenciáveis que tentaram deixar boa impressão aos prefeitos. Pela manhã, o presidente Michel Temer participou da abertura e emplacou logo de cara a assinatura de um decreto que possibilitará as Unidades de Pronto Atendimento (Upas) atenderem como Unidades Básicas de Saúde (UBS). Temer anunciou ainda que R$ 600 milhões seriam pagos aos municípios para investimento em educação. O recurso faz parte dos R$ 2 bilhões aprovados este ano para atender a uma demanda firmada com as prefeituras em 2017.

O governo não quer ficar para trás dos concorrentes. A agenda positiva com as prefeituras foi tratada horas antes do anúncio de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, como candidato do MDB. Tanto que Temer sinalizou discutir o reajuste dos valores de licitação, que permitirá os municípios resolverem questões burocráticas e realizarem compras em valores mais altos. (Com Rodolfo Costa)