Título: Brasil nega trégua ao FMI
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 22/04/2012, Economia, p. 20

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aplaudiu ontem o compromisso anunciado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de fazer reformas para ampliar o peso político dos emergentes no organismo. "É do jeito que nós queremos", disse. Mas também sublinhou que não revelará o tamanho da contribuição do Brasil em um futuro aporte de recursos ao Fundo, apesar de a mudança prometida na última sexta-feira ser a contrapartida exigida pelos países em desenvolvimento para transferir recursos.

Mantega fez as declarações antes de uma série de reuniões dos membros do FMI, em Washington, referindo-se à declaração final do encontro, que contém claro comprometimento com o pleito dos emergentes. O FMI tinha informado que levantou mais de US$ 430 bilhões junto a seus membros, sendo US$ 362 bilhões garantidos basicamente pelo Japão e países europeus. Mas Brasil, Rússia, Índia e China não divulgam valores exatos e se articulam para condicionar o aporte às reformas. A contribuição dos chamados Bric e de países asiáticos estaria dentro de um bolo de US$ 72 bilhões.

Para o ministro brasileiro, o número global de US$ 430 bilhões é um consenso, mas não os US$ 72 bilhões a serem anunciados por um grupo de países. "Isso é muito curioso. Deve ser matemática transcendental. Vai ver que (o FMI) tem uma bola de cristal", ironizou ele, que prometeu anunciar a cifra definitiva só poucos dias antes da reunião do G-20, grupo das principais economias emergentes e industrializadas, agendado para junho, no México. Ele lamentou que "alguns países tenham mais entusiasmo em pedir dinheiro do que em reformar o sistema de cotas".

A demora no anúncio, reconheceu Mantega, é uma estratégia de pressão porque, assim, as demandas dos emergentes "podem ser mais bem atendidas". Ele tem dito também que as reformas dentro do FMI ainda precisam ser aprovadas, até outubro, pelo Legislativo de um quinto dos países sócios do Fundo. O processo só estaria mais claro em janeiro de 2013.

Outro aspecto ressaltado por Mantega é que alguns emergentes ainda precisam negociar no ambiente político doméstico um eventual aporte ao FMI. "Para um país que em geral é mais pobre, colocar dinheiro que vai acabar beneficiando um país desenvolvido sempre causa dificuldades e precisa ser explicado", disse.

As afirmações de Mantega tentaram desmentir a falta de entrosamento dos responsáveis pelas Finanças dos Bric, revelada na sexta-feira quando um vice-ministro russo declarou que seu país contribuiria com "pelo menos US$ 10 bilhões" e em meio a boatos de que a China também já tinha informado ao FMI qual seria sua parcela no esforço. "A China não declarou nada, o Brasil também não e a Rússia tinha declarado um valor, mas voltou atrás", rebateu ele, também descartando uma repetição do aporte que os quatro países fizeram em 2009 (US$ 80 bilhões).

As demandas dos emergentes ainda podem ser mais bem atendidas" Guido Mantega, ministro da Fazenda