O Estado de São Paulo, n. 45458, 03/04/2018. Política, p. A6.

 

 

Sob pressão, Cármen pede 'serenidade'

Amanda Pupo e Rafael Moraes Moura

03/04/2018

 

 

Às vésperas do julgamento do habeas corpus em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, pediu ontem “serenidade para romper o quadro de violência”. Em pronunciamento oficial feito pela TV Justiça, ela disse que o Brasil vive tempos de “intolerância” e “intransigência contra pessoas e instituições”. A manifestação marca mais uma reação da ministra frente às pressões que a Corte vem sofrendo para rediscutir a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.

“Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições. Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade. Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social. Serenidade para se romper com o quadro de violência. Violência não é justiça. Violência é vingança e incivilidade”, afirmou.

Atípico, o gesto foi uma tentativa de acalmar os ânimos em meio a manifestações em torno do julgamento de amanhã, conforme apurou o Estado. O ato também foi visto como uma forma de tentar contrapor a repercussão negativa do adiamento do julgamento, interrompido no dia 22 por compromissos de ministros e do feriado de Páscoa. Naquele dia, o STF concedeu liminar que afasta a possibilidade de o petista, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ser preso até que o plenário finalize a análise do habeas corpus.

Ministros da Corte têm enfrentado episódios de constrangimento e relatado ameaças. Em janeiro, Gilmar Mendes foi hostilizado em Lisboa. O relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, teve sua segurança reforçada depois de dizer que sua família sofre ameaças.

O pronunciamento da presidente do Supremo vem também depois das hostilidades à caravana de Lula em passagem pelo Sul do País e de manifestações de militares da reserva cobrando uma posição da Corte em relação ao petista. Para o general de exército da reserva

Luiz Gonzaga Lessa, uma decisão contrária poderá induzir violência entre brasileiros.

Ontem pela manhã, Cármen se reuniu com o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, para tratar da segurança do julgamento de Lula. O encontrou durou cerca de 30 minutos e ocorreu no gabinete da presidência do STF. No pronunciamento, Cármen fez um apelo por manifestações pacíficas. “A liberdade democrática há de ser exercida sempre com respeito ao outro”, disse a ministra.