O Estado de São Paulo, n. 45459, 04/04/2018. Política, p. A10.

 

 

Sem garantia, Meirelles se filia ao MDB

Adriana Fernandes, Carla Araújo e Igor Gadelha

04/04/2018

 

 

Sem empolgação e com a presença de poucos caciques do MDB, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, assinou ontem sua filiação ao partido do presidente Michel Temer com o discurso de combate às medidas populistas dos governos do PT e de defesa do reforço dos programas sociais e do emprego. Fora do governo, o maior desafio de Meirelles agora será evitar o isolamento, longe dos holofotes que tem recebido pelas suas viagens no País na condição de ministro da Fazenda.

Lideranças regionais do MDB não garantiram palanque para ele nos próximos meses, período que será decisivo para melhorar a performance nas pesquisas de intenção de voto, que continua em torno de 1%.

Meirelles já está participando da elaboração da segunda fase do programa do MDB Ponte para o Futuro, que balizou a ação do governo Temer depois do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. Mas ainda não tem definido uma agenda de “campanha”.

Em seu discurso no ato de filiação do ministro, Temer elogiou Meirelles, dizendo que ele “está habilitado para ocupar qualquer cargo no País”.

 

Saída. Meirelles renunciará ao cargo na Fazenda nesta sextafeira para tentar ser cabeça de chapa na candidatura do MDB à Presidência da República, caso Temer desista de se candidatar à reeleição. Uma opção considerada de alto risco pelo próprio ministro, que não tem intenção de ser vice-presidente.

As chances de Meirelles aumentaram depois que a Operação Skala, deflagrada na semana passada pela Polícia Federal, prendeu amigos do presidente e reacendeu a possibilidade da apresentação de uma terceira denúncia contra Temer nas investigações que apuram supostas irregularidades no Decreto dos Portos.

Ao se filiar ao MDB, Meirelles, que estava no PSD, tangenciou as perguntas sobre o impacto da operação na sua candidatura e a possibilidade de uma posição de vice numa chapa com Temer. Em seu discurso, o ministro usou uma frase que era bastante utilizada pelo expresidente Lula de que o País só seria justo “quando o filho do operário tivesse as mesmas oportunidades de um filho de um médico”.

“E igualdade de oportunidades não é uma bandeira da esquerda ou da direita”, alfinetou Meirelles, que ressaltou que os governos petista deixaram a economia em “frangalhos”. “O governo anterior deixou um rastro de desemprego e inflação”, disse, ressaltando que esses problemas “são os filhos legítimos” do governo anterior. Henrique Meirelles

Meirelles foi presidente do Banco Central entre 2003 e 2010, exercendo o cargo nos dois mandatos de Lula.

 

Jingle. O MDB preparou um jingle e slogan para marcar a filiação de Meirelles ao partido. As duas peças publicitárias reforçam a união entre o ministro e Temer. “M de Michel, M de Meirelles, M de MDB”, diz o refrão do jingle.

Já o slogan, estampado em um grande banner, traz a frase “Nossa União nos Fortalece”. Pouco depois, o jingle virou piada nas redes sociais e a expressão “M de Michel” foi parar entre os assuntos mais citados por internautas em rede social.

Mesmo o governo Temer sendo alvo de críticas por não dar espaço a mulheres na Esplanada, Meirelles contou, na cerimônia de ontem, que, ao ser convidado para assumir o cargo de ministro, recebeu o pedido de trabalhar para baixar a inflação para “ajudar as donas de casa”. “Quando o presidente Temer me convidou, disse: ‘Não dá para donas de casa continuarem sofrendo desse jeito com inflação’”, afirmou, acrescentando que Temer teria destacado que a inflação “tira comida do prato” e se o governo conseguisse diminui-la já estaria satisfeito.

 

Candidatura. O presidente do MDB e líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), defendeu a candidatura do partido à Presidência, mas não deu detalhes da estratégia a partir de agora. Auxiliares do presidente Temer destacam que o evento de ontem foi importante para marcar que o MDB tem uma candidatura. Na avaliação de interlocutores marcar esse território neste momento é mais importante do que definir o nome do candidato.

Quem chamou atenção na cerimônia de filiação foi o deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, investigado no caso em que foram encontrados R$ 51 milhões num apartamento em Salvador.

 

Troca de partido

No ato de filiação do ministro da Fazenda, jingle fez referência à parceria com o presidente: ‘M de Michel, M de Meirelles e M de MDB’

 

Defesa do social

“Igualdade de oportunidades não é uma bandeira da esquerda ou da direita. (...) O governo anterior deixou um rastro de desemprego e inflação”

Henrqule Meirelles

MINISTRO DA FAZENDA