O Estado de São Paulo, n. 45465, 10/04/2018. Política, p. A8

 

Partidos tentam envolver Ciro em frente de esquerda

Ricardo Galhardo, Daiene Cardoso e Pedro Venceslau

10/04/2018

 

 

Pré-candidato do PDT pretende visitar Lula na prisão; ele condiciona sua adesão à articulação partidária à criação de uma ‘pauta concreta’

O pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, poderá visitar na prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado na Operação Lava Lato. Ele admitiu participar da articulação para a criação de uma frente de partidos de esquerda no País. Alvo de críticas por não ter comparecido ao ato político que antecedeu a prisão do petista, Ciro disse que sente “amargura e aflição” com o episódio.

Dirigentes do PCdoB, PSOL, PT e PSB que participam da criação de uma frente de esquerda com objetivo de contrapor o que consideram um avanço da direita trabalham para incluir Ciro nas articulações. Até agora, só o presidente do PDT, Carlos Lupi, tem participado das reuniões.

Ontem, em Porto Alegre, Ciro não descartou, mas condicionou sua participação ao estabelecimento de uma “pauta concreta”. “Não se pode fazer uma reunião para afirmar um adjetivo ou negar outros. É preciso mostrar que temos uma resposta melhor do que a direita”, afirmou ele.

O presidenciável do PDT é um potencial favorecido com a ausência de Lula na disputa presidencial. A expectativa no seu partido é que ele possa herdar votos de Lula no Nordeste.

Segundo Juliano Medeiros, presidente do PSOL, a ideia da frente partidária é atrair entidades representativas da sociedade não necessariamente ligadas à esquerda. “Vamos discutir o quanto os candidatos vão se envolver”, disse ele.

“Não podemos perder de vista a necessidade de um diálogo mais amplo com setores democráticos da sociedade. Trabalhamos para envolver mais o Ciro”, afirmou o líder do PCdoB na Câmara, Orlando Silva (SP). Segundo ele, o grupo deve lançar um manifesto no dia 16 com um programa mínimo comum.

‘Solidariedade’. Ciro e Lupi devem visitar o petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. “Compete agora a nós termos solidariedade ao ser humano, que, no meu modo de ver, está sendo condenado por algo que não tinha prova cabal”, declarou Lupi. Segundo ele, os pedetistas não podem ser criticados por não participar do evento político em São Bernardo do Campo.

O presidenciável passou os últimos dias nos Estados Unidos para participar de evento promovido pela Universidade de Harvard. O presidente da legenda estava no Pará no sábado, dia da prisão do ex-presidente.

“Eles esquecem toda a solidariedade que prestamos. Até poema eu fiz, coloquei na página do partido, o Ciro fez uma nota. A vida toda prestamos solidariedade. Por que não vai num dia, como eles queriam, não presta mais? Eu prefiro não considerar, prefiro achar que isso é do calor da emoção do momento difícil”, disse o dirigente pedetista.

Lupi negou que a ausência de Ciro no ato político do último sábado signifique um distanciamento dos petistas. “Como é que a porta pode estar fechada (para o Ciro)?”, disse.

Na capital gaúcha, onde participou de um debate entre précandidatos à Presidência, Ciro evitou falar sobre o ativo eleitoral de Lula, que deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ficar impedido de concorrer novamente ao Planalto. “O Brasil precisa construir uma liderança forte”, disse apenas ao ser questionado sobre o assunto.

“A gente tem de ter muito respeito, paciência, compreensão e sensibilidade com o que está acontecendo com o PT e especialmente com o Lula. Não é trivial. Eu mesmo sinto amargura, aflição”, afirmou o presidenciável do PDT. Ciro disse também que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve decidir o quanto antes a “ida e vinda” sobre a prisão após segunda instância, para que “todos possam ser privilegiados, inclusive e especialmente o expresidente Lula”. Apesar disso, ele fez uma ressalva ao discordar da expressão “preso político” usada pelos petistas para se referir a Lula. “Você pode considerar injusta a culpa do Lula, mas daí a extrapolar por esse caminho parece estranho”, disse Ciro. / COLABOROU TAÍS SEIBT, ESPECIAL PARA O ESTADO

 

Pré-candidato

Para Ciro Gomes (PDT), que participou do Fórum da Liberdade 2018, em Porto Alegre, ‘o Brasil precisa construir uma liderança forte’

 

Reação

“A gente tem de ter muito respeito, paciência, compreensão e sensibilidade com o que está acontecendo com o PT e especialmente com o Lula. Não é trivial. Eu mesmo sinto amargura, aflição.”

Ciro Gomes​, PRESIDENCIÁVEL DO PDT

 

PONTOS-CHAVE

Bloco quer diálogo com presidenciável

Lula

Ciro Gomes foi alvo de críticas por não ter ido ao ato político que antecedeu a apresentação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Polícia Federal.

 

Frente

Dirigentes do PCdoB, PSOL, PT e PSB que participam da criação de uma frente de esquerda para as eleições trabalham para incluir Ciro nas articulações.

 

2ª instância

Para Ciro, o STF deve decidir o quanto antes sobre a prisão em 2ª instância para que ‘todos possam ser privilegiados, inclusive e especialmente’ Lula.

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Polícia indicia ex-vereador do PT por agressão

Luiz Vassallo e Fausto Macedo

10/04/2018

 

 

A Polícia Civil de São Paulo indiciou ontem o ex-vereador do PT de Diadema Manoel Eduardo Marinho, o “Maninho”, e também seu filho, Leandro Marinho, por lesão corporal dolosa – quando existe a intenção de agredir outra pessoa – contra o empresário Carlos Alberto Bettoni, de 56 anos. Eles se envolveram em tumulto em frente ao Instituto Lula, em São Paulo, na quinta-feira passada.

O confronto ocorreu pouco depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Operação Lava Jato – deixar o local para seguir para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, no dia em que o juiz Sérgio Moro expediu o mandado de prisão.

“Maninho” e o filho foram flagrados em vídeo discutindo e empurrando Bettoni várias vezes até o empresário cair na rua e bater com a cabeça no parachoque de um caminhão. Bettoni ficou desacordado e sangrando, até ser socorrido. Ele sofreu traumatismo craniano e está internado no hospital São Camilo. Segundo o hospital, ele continua em observação na UTI, com o quadro estável e sem previsão de alta.

O caso é investigado pelo delegado Wilson Zampieri, do 17.º Distrito Policial. “Maninho” foi vereador pelo PT em Diadema por cinco mandatos. Ele tentou a prefeitura da cidade, mas não se elegeu. O político e o filho prestaram depoimento ontem à tarde.

Defesa. Procurada pelo Estado, a advogada Patrícia Cavalcanti, que defende os dois, afirmou que em nenhum momento houve intenção de dolo. “O senhor Manoel Eduardo e o Leandro não são pessoas dadas a essa situação, mas a ocasião que se vivia ali, eles saíam de uma reunião onde estava sendo definida a entrega do ex-presidente Lula”, disse ela.

Segundo a advogada, “eles saíram com os nervos já um pouco acalorados, se depararam com esse grupo, esse grupo começou a desferir xingamentos, ofensas, e foi um momento em que esse senhor (Carlos Alberto Bettoni), além de xingar, falou ‘volte aqui que eu vou dar na sua cara’”. Ela completou que se tratou de “uma reação”. “Foi esse o ocorrido, foi esse fato que desaguou na fatalidade. Em nenhum momento houve a intenção de dolo real”, disse ela, em referência ao episódio.

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‘Vou enfrentar esquerdistas outra vez’, diz Doria

10/04/2018

 

 

Pré-candidato ao governo, tucano afirma não ter medo de ‘enfrentamento’ e cita Márcio França (PSB)

O ex-prefeito João Doria afirmou, ontem, que será um “opositor ferrenho” para candidatos que defendam “causas esquerdistas” na disputa do Governo de São Paulo. “Vou enfrentar os esquerdistas outra vez. Não quero desmerecer ninguém, mas vou para o enfrentamento e não pensem que vou dar moleza para ninguém, nem para o Márcio França”, disse ele, citando o sucessor de Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2016, Doria venceu as eleições contra o então prefeito Fernando Haddad (PT).

A declaração foi dada no Summit Imobiliário Brasil 2018, evento promovido pelo Estado. Desde que tomou a decisão de disputar o Governo, o ex-prefeito tem se posicionado como contraponto ao campo da esquerda. Em entrevista ao Estado, em março, disse: “o PSB apoia a extrema esquerda; estou em outro campo”. A referência era ao partido do atual governador Márcio França, que assumiu o cargo de Alckmin e vai disputar a eleição.

O ex-prefeito afirmou que manterá a mesma postura, de defesa dessas ideias, e que vai levá-las também para a disputa do Governo de São Paulo. “Foi essa razão que me fez sair da prefeitura e aceitar, parece que foi quase uma imposição do PSDB, para disputar o Governo de São Paulo. Essa razão me fez sair da zona de conforto.”

Kassab. Doria recebeu ontem o apoio oficial do PSD à sua candidatura. O ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, fundador e presidente licenciado do partido, esteve presente no anúncio. Kassab, no entanto, não quis vincular o apoio a Doria a uma eventual aliança com o agora ex-governador paulista Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, apesar de afirmar que essa é uma tendência muito forte.

“São coisas distintas. A instância que vai definir o apoio presencial é outra. Aqui se discute São Paulo, mas posso afirmar que meu sentimento hoje é que a ampla maioria do partido quer a candidatura Geraldo Alckmin”, disse Kassab.

Sobre Doria, o ministro afirmou que tem dele o compromisso de que a aliança prevê que o PSD indique o vice. Depois da desistência do próprio Kassab, o posto na chapa deve ficar com a presidente nacional do PSD Mulher, Alda Marco Antonio, que foi vice de Kassab na Prefeitura.

Após deixar o cargo com apenas 15 meses de governo, na data máxima permitida pela lei eleitoral, Doria corre agora para fechar o maior número de alianças para ao menos equilibrar a disputa partidária com França, que, desde o início do ano, anunciou 12 partidos./ ALINE BRONZATI, CIRCE BONATELLI e ADRIANA FERRAZ

 

Moleza

“Vou enfrentar os esquerdistas outra vez. Não pensem que vou dar moleza para ninguém, nem para o Márcio França.”

João Doria (PSDB)​, PRÉ-CANDIDATO AO GOVERNO