Título: Dadá era informante do MP local
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2012, Política, p. 3
Promotores de Justiça do Distrito Federal que receberam em seus gabinetes o araponga Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, admitiram ontem que o espião do grupo de Carlinhos Cachoeira foi informante de "muitas" investigações do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, algumas delas ainda em curso na instituição. Em entrevista ontem, os promotores Wilton Queiroz de Lima e Libânio Alves Rodrigues — citados por Dadá em conversas telefônicas usadas para a Operação Monte Carlo — nominaram cinco investigações em que o araponga contribuiu com informações.
Na casa de Dadá, durante o cumprimento de um dos mandados de busca e apreensão da Monte Carlo, a Polícia Federal encontrou documentos sigilosos produzidos pelo MP local sobre jogatina no Entorno. Grampos telefônicos mostram o araponga informando o grupo de Cachoeira sobre investigações em curso na instituição. Os dois casos foram mostrados pelo Correio. Wilton e Libânio negaram ter repassado qualquer informação a Dadá.
A procuradora-geral de Justiça do DF, Eunice Pereira Carvalhido, disse confiar nos promotores. Ela não enxerga indícios de irregularidades nos encontros recorrentes dos dois com Dadá. Segundo a procuradora-geral, não há indícios de crimes no fato de documentos sigilosos terem sido encontrados na casa de Dadá e nos grampos em que integrantes do grupo de Cachoeira citam os promotores. Se houver indícios de ilegalidades, um processo será aberto na Corregedoria do MP do DF, segundo Eunice. "As informações que existiam eram de que ele era um sargento da reserva da Aeronáutica. Não existe nenhuma ligação com Cachoeira."
Promotor do Núcleo de Inteligência do MP do Distrito Federal e Territórios, Wilton Queiroz argumenta ser inviável combater organizações criminosas bem articuladas sem a colaboração de pessoas como Dadá, um dos arapongas mais lembrados em Brasília e conhecido por deter informações oficiais sobre a atuação de grupos criminosos. Wilton diz ter o hábito de gravar essas conversas. Parte desses áudios foi apresentada à procuradora-geral de Justiça como tentativa de comprovar que não fornecia informações privilegiadas a Dadá. "Conheço meus clientes. Eles podem me "vender" lá na frente, por isso sempre gravo." Libânio também negou ter vazado informações ao araponga e disse nunca ter tido qualquer contato com Cachoeira. "Eu considerava Dadá um informante oficial. Conheci ele dentro do Centro de Inteligência da Aeronáutica."
Documentos Wilton, Libânio e Eunice descartaram a possibilidade de os documentos encontrados na casa do araponga, referentes a investigações sobre jogos de azar em Valparaíso (GO) terem vazado do MP local. Segundo eles, todos os documentos — um relatório e três mídias eletrônicas — foram remetidos para uma única instituição: o Ministério Público de Goiás. O presidente da Associação dos Membros do MPDFT, promotor Antonio Marcos Dezan, divulgou ontem nota de apoio aos colegas. "Em nenhum momento, foi transmitida ao senhor Idalberto Matias qualquer informação ou documento de caráter sigiloso."