Valor econômico, v. 18, n. 4491, 26/04/2018. Brasil, p. A5.
Superávit nas contas externas supera em US$ 200 milhões projeções do BC
Alex Ribeiro/ Eduardo Campos
26/04/2018
O fraco desempenho da economia e a valorização recente do dólar não alteraram, pelo menos por enquanto, o cenário básico de trabalho do Banco Central (BC), que prevê alta moderada no déficit em conta corrente em 2018 - que, caso se confirme, marcará o fim do processo de ajuste nas contas externas ocorrido nos últimos três anos.
Os embarques de soja, que tradicionalmente fortalecem o saldo comercial nesta época do ano, e a redução no pagamento de juros da dívida externa ajudaram a garantir um superávit nas contas externas em março, de US$ 798 milhões, acima dos US$ 200 milhões previstos pelo BC. Para abril, é esperado novo superávit, de US$ 1,5 bilhão.
Para o BC, apesar desses dados, o déficit em transações correntes irá subir de 0,47% do PIB apurados em 2017 para 1,09% em 2018. No 12 meses até março, o saldo negativo acumulado é de US$ 8,337 bilhões, equivalentes a 0,41% do PIB. Nas contas do BC, a demanda externa terá impacto negativo de 0,2 ponto no PIB deste ano, que pela estimativas crescerá 2,6%.
Para o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, não se deve extrapolar esse dados mensais mais positivos para o resto do ano. A tendência de alta moderada no déficit externo será puxada sobretudo pela atividade econômica, que tende a ser mais forte do que a de 2017, mesmo que se confirmem as expectativas recentes mais pessimistas do mercado financeiro.
Nas últimas semanas, os analistas rebaixaram, de 2,89% para 2,75%, as projeções para a expansão do PIB, segundo a mediana das expectativas do boletim Focus, do BC. Em tese, quanto menor o crescimento da economia, menor a demanda de empresas e famílias por bens e serviços estrangeiros, o que tende a diminuir o déficit externo. "Pode-se discutir se é 3%, 2,8% ou 2,7%, mas o crescimento será maior do que 2017", disse Rocha. Por isso, diz ele, o déficit tende a crescer entre 2017 e 2018.
O déficit em conta corrente é um dos mais importantes indicadores de solvência externa. Ele inclui comércio exterior (importações menos exportações), serviços (turismo internacional, fretes, aluguel de equipamentos, entre outros) e transferências de renda (juros da divida e remessa de lucros e dividendos). Em 2014, o déficit chegou a 4,24% do PIB, mas a recessão e a desvalorização cambial de 2015 o trouxeram para perto de zero. O presidente do BC, Ilan Goldfajn, tem destacado que o baixo déficit externo fortalece o Brasil para eventuais turbulências ligadas ao processo de alta de juros nos Estados Unidos.
Entre 2016 e 2017, o real havia voltado a se fortalecer em relação ao dólar, mas nos últimos dias perdeu força, ultrapassando a barreira dos R$ 3,50, devido aos receios de aperto monetário mais forte nos EUA, à queda dos juros no Brasil e aos riscos no cenário eleitoral.
Rocha reconheceu que o cambio é importante fundamento para as transações correntes. Mas ponderou que nem todos os itens tem a mesma sensibilidade à cotação do dólar, e alguns demoram para ter efeito. As exportações físicas não devem ser tão significativamente afetadas, pelo menos no curto prazo, pois há contratos fechados anteriormente. No caso do gasto de turistas brasileiros no exterior, o impacto pode ser mais rápido.
Os superávits em março e abril são reflexo de sazonalidades. Nas exportações, os movimentos sazonais são reflexo da safra da soja. Rocha lembrou que em 2017 tivemos superávit de março a junho. Em 2016, ocorreram superávits em abril e maio. Olhando toda a série, os resultados são melhores nesse período do ano.
Segundo Rocha, o superávit de março deste ano foi inferior ao resultado superavitário de US$ 1,4 bilhão visto do ano passado. As principais razões para isso, foram o crescimento das importações, com alta de 7,4% sobre março do ano passado. A conta de serviços teve crescimento de 10,3%, e as despesas brutas com lucros e dividendos se elevaram 40% no comparativo anual.
"Todos esses sinais indicam um maior ritmo de atividade da economia, maior nível de consumo e parte disso é satisfeito via importações, serviços ou maior remessa de lucros ao exterior. O resultado parece consistente com a projeção do BC para 2018, de aumento do déficit sobre 2017", disse Rocha. A projeção para 2018 é de déficit em US$ 23,3 bilhões, ou 1,09% do PIB, contra 0,47% no fim de 2017.
O Investimento Direto no País (IDP) também surpreendeu para cima ao marcar US$ 6,5 bilhões no mês passado. O BC trabalhava com ingresso de US$ 4,2 bilhões. Segundo Rocha, essa diferença decorreu de uma operação de empréstimo intercompanhia, de quase US$ 1 bilhão, no fim do mês.
Os fluxos de IDP estão diminuindo sobre 2017, mas permanecem com montantes robustos, representando financiamento de longo prazo em magnitude muito superior ao déficit. No trimestre, o déficit foi de US$ 3,2 bilhões enquanto o IDP ficou em US$ 17,7 bilhões. No primeiro trimestre do ano passado o IDP tinha somado US$ 23,781 bilhões.
Para o mês de abril, o BC estima IDP de US$ 3 bilhões, contra US$ 5,5 bilhões um ano antes. A projeção leva em conta dados parciais de US$ 1,5 bilhão até o dia 23.