O Estado de São Paulo, n. 45462, 07/08/2018. Política, p. A14

 

Apontado como operador do PSDB, ex-diretor da Dersa é preso pela

07/04/2018

 

 

Segundo a Procuradoria, Paulo Vieira está por trás de ameaças a acusadas de esquema de desvio de recursos da estatal em gestões tucanas

A Polícia Federal prendeu ontem o ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A), Paulo Vieira de Souza, sob acusação de ameaça a uma mulher, também denunciada no processo que investiga desvio de R$ 7,7 milhões da estatal paulista entre 2009 e 2011, durante os governos do PSDB de José Serra e Geraldo Alckmin. Vieira de Souza é apontado por investigadores como antigo operador do PSDB – o partido nega (leia texto ao lado nesta página ).

A prisão preventiva foi decretada na segunda-feira pela 5.ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, mas, segundo a Procuradoria, apenas ontem a PF conseguiu se mobilizar para cumprir a ordem. Vieira de Souza foi levado para o Cadeião de Pinheiros, na zona oeste da capital, depois de ser submetido a exames no Instituto Médico Legal.

De acordo com o Ministério Público Federal em São Paulo, ao menos três ameaças foram recebidas pela ex-funcionária do departamento de assentamento da Dersa, Mercia Ferreira Gomea, e sua irmã, Márcia. “São ameaças de que ela iria sofrer represálias, que ela iria ‘cair’ junto. O objetivo (da prisão) não é só preservar provas, mas preservar a integridade física da ré”, disse a procuradora Thaméa Danelon, coordenadora interina da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo.

Segundo a procuradora, as pessoas que fizeram diretamente as ameaças não foram identificadas e também não existem registros em vídeo ou imagem dos momentos das coações. Thaméa garantiu, contudo, que o MPF chegou a elementos suficientes para comprovar a necessidade do pedido de prisão preventiva contra o ex-diretor.

A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão na residência de Vieira de Souza. Por ordem da juíza Maria Isabel do Prado, a 5.ª Vara da Justiça Federal de São Paulo também bloqueou quatro contas de Vieira de Souza, cujos saldos continham ao todo 35 milhões de francos suíços – o equivalente a R$ 113 milhões na cotação atual.

A força-tarefa acusa Vieira de Souza e outras quatro pessoas por desvios de recursos das obras do trecho sul do Rodoanel, o prolongamento da avenida Jacu Pêssego e a Nova Marginal Tietê, na região metropolitana de São Paulo. Segundo a Procuradoria, Vieira de Souza “desviou em proveito próprio e de terceiros, entre os anos de 2009 e 2011, o total de R$ 7,7 milhões (valores da época) em recursos e imóveis destinados ao reassentamento de pessoas desalojadas por grandes obras viárias realizadas pela empresa estatal paulista Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) na região metropolitana de São Paulo”.

Segundo a denúncia, o ex-diretor comandava o esquema, que envolvia também dois exocupantes de cargo em comissão na empresa, José Geraldo Casas Vilella, chefe do departamento de assentamento da Dersa, e Mercia Ferreira. Também é acusada de integrar o esquema uma irmã desta funcionária, Marcia Ferreira Gomes, e a psicanalista Tatiana Arana Souza Cremonini, filha de Souza.

Os cinco são acusados pelos crimes de formação de quadrilha, peculato e inserção de dados falsos em sistema público de informação. A denúncia relata em detalhes “três eventos criminosos” envolvendo os acusados e contou com provas obtidas por auditoria da própria Dersa.

O primeiro trata da inclusão de seis empregadas da família de Paulo e de sua filha Tatiana no programa de reassentamento do trecho sul do Rodoanel Mário Covas. Entre 2009 e 2012, todas elas foram agraciadas com apartamentos da CDHU no valor de R$ 62 mil na época, além de R$ 300 de auxílio mudança.

O segundo fato narrado trata dos desvios de apartamentos e indenizações, nos anos de 2009 e 2010, para parentes e pessoas ligadas à funcionária, que resultou no pagamento de indenizações no total de R$ 955 mil, em valores sem juros e correção. Contudo, foi apurado que os familiares e pessoas ligadas à ela não receberam qualquer indenização.

O terceiro fato narrado na denúncia aborda 1.773 pagamentos indevidos de indenizações irregulares para falsos desalojados pelo prolongamento da Jacu Pêssego, que foram cadastrados como se fossem moradores das áreas Vila Iracema, Jardim São Francisco e Jardim Oratório, causando um prejuízo de R$ 6,3 milhões em valores da época.

Se houver a condenação, e aplicada a pena conforme solicitado pelo MPF, as penas de Vieira de Souza e José Geraldo poderão variar de 15 a 81 anos, mais o agravante do crime continuado. Já Tatiana, filha de Paulo Vieira de Souza, pode receber uma pena entre 5 e 27 anos de prisão.

 

Patrimônio

Paulo Vieira de Souza tinha o equivalente a R$ 113 milhões na Suíça

 

Desvios

R$ 7,7 mi

teriam sido desviados pelo ex-diretor da Dersa, entre os anos de 2009 e 2011, segundo a Procuradoria. De acordo com a denúncia, Paulo Vieira Souza comandava o esquema, que ocorreu durante as gestões tucanas no governo do Estado.