Título: Dilma e Lula discutem crise
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2012, Política, p. 6
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontraram-se ontem em São Paulo para discutir uma estratégia de ação diante da CPI mista criada para investigar os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido). A ideia foi afinar o discurso entre o Palácio do Planalto, Lula e o PT, entes que, até então, não falavam a mesma língua.
Apesar de não ter havido uma repreensão por parte da presidente, Dilma não gostou da associação que o presidente nacional do PT, Rui Falcão, estabeleceu entre o caso Cachoeira-Demóstenes e o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). "Esse discurso é bom para o José Dirceu (ex-chefe da Casa Civil, apontado pela Procuradoria-Geral da República como o chefe do esquema), não para nós", definiu um assessor palaciano.
Foi a primeira conversa direta entre Dilma e Lula sobre o tema. A presidente foi informada dos desdobramentos da formação da CPI durante a viagem aos Estados Unidos no início da semana. Até então, não expressara qualquer sinal de inquietação com as investigações nem entusiasmo com os desdobramentos da crise, a exemplo do PT, que incentivou a criação da comissão de inquérito, vislumbrando expor a oposição e dividir os holofotes com o julgamento do mensalão.
O governo está preocupado com a composição da CPI, especialmente os nomes que serão indicados para os cargos de presidente e relator. A partir dessa escolha, se terá uma noção exata da extensão de eventuais estragos políticos que essa comissão poderá provocar. O governo toma como exemplo a CPI dos Correios, a que mais provocou estragos na imagem de um governo petista. A exemplo de hoje, aquela comissão também ficou sob o comando de PT e PMDB, dois partidos aliados do Planalto. Mas a presidência do senador Delcídio Amaral (PT-MS) e a relatoria do deputado Osmar Serraglio (PMDB-RS) foram consideradas extremamente "frouxas", gerando subsídios para o inquérito no STF.
Por outro lado, algumas pessoas cresceram na comissão, como os oposicionistas Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), Eduardo Paes (então no PSDB, hoje no PMDB), Gustavo Fruet (ex-PSDB, hoje no PDT) e a governista Ideli Salvatti, atual ministra de Relações Institucionais. "Se não houver um acompanhamento preciso dessas indicações, as coisas podem desandar", reconheceu um aliado do governo.
E não é apenas o Planalto que está indeciso quanto aos nomes que devem ser escolhidos. À exceção do PT — "que parece já saber de tudo e como deve agir nesse caso", ironizou um aliado de Dilma —, todos os outros partidos também estão inseguros. O Correio apurou que pelo menos três legendas enviaram sinais para o governo pedindo orientações quanto ao perfil dos nomes. Não recebeu resposta. "Ninguém sabe o teor completo desse inquérito. Tanto eles quanto nós ainda estamos em busca de informações e não há como tomar decisões conclusivas nesse instante", disse um interlocutor palaciano.
O receio principal é com o teor das investigações da Operação Vega, de 2009, que originou a primeira suspeita de ligação do senador Demóstenes com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. A inclusão da Vega no rol das investigações da CPI foi uma exigência da oposição. Se dependesse do PT, especialmente do líder do partido na Câmara, Jilmar Tatto (SP), o ponto central das investigações seria a Operação Monte Carlo, deflagrada em 29 de fevereiro deste ano.
Palanque Lula deve retomar hoje as atividades políticas públicas. Ao lado dos candidatos do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, e de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, o ex-presidente participará da inauguração de um Centro Educacional Unificado (CEU) na cidade do ABC paulista. O evento deve contar também com a presença da senadora Marta Suplicy (PT-SP). Será a primeira vez que ela participará de um ato político ao lado de Haddad.