O Estado de São Paulo, n. 45469, 14/04/2018. Política, p. A10

 

Maioria vê culpa de Lula: 95% quer que Lava Jato continue

Daniel Bramatti

14/04/2018

 

 

Pesquisa Ipsos mostra também que 50% dos entrevistados são a favor da prisão do petista e 46% são contra; foram ouvidas 1.200 pessoas

A maioria da população brasileira (57%) considera que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado na Operação Lava Jato, é culpado dos crimes atribuídos a ele. O País, porém, está rachado em relação à prisão do petista: 50% são a favor e 46% são contra. Os dados são de pesquisa do instituto Ipsos.

“Os resultados mostram que a Lava Jato continua com alto suporte da população e que a prisão de Lula não encerra esse anseio”, disse o diretor do Ipsos, Danilo Cersosimo. “Além disso, a polarização do País em torno da figura de Lula segue alta.”

Conforme o levantamento, a quase totalidade da população (95%) acha que as investigações da Lava Jato devem continuar após a prisão do ex-presidente. Mas há dúvidas sobre a abrangência das mesmas.

Para 52% dos entrevistados, não é correto afirmar que “a Lava Jato está investigando todos os políticos”. Outros 41% estão de acordo com essa avaliação. A percepção de que “a Lava Jato está investigando todos os partidos” atingiu o mínimo histórico da série de pesquisas Ipsos no fim de semana da prisão de Lula. Apenas 43% dos eleitores manifestaram concordância com a frase, e 47% disseram o contrário.

É a primeira vez, em dois anos, que aparece como minoritária a parcela da população que compartilha da avaliação de que todos os partidos são investigados. Em abril de 2016, 66% da população via a Lava Jato como empenhada em investigar todas as legendas – 23 pontos porcentuais a mais do que agora.

Na pesquisa, os entrevistadores do Ipsos leem uma série de frases e perguntam se há ou não concordância em relação a elas. O levantamento começou no sábado em que o ex-presidente foi preso e se estendeu até a segunda-feira passada. Foram ouvidas 1.200 pessoas. A margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos.

Nova divisão. O levantamento mostra que, mesmo com a convicção majoritária da culpa do petista, existe uma forte percepção de que “os poderosos querem tirar Lula da eleição”: 73% concordam com essa afirmação, e 23% discordam.

A maioria (55%) também concorda com a avaliação de que “a Lava Jato faz perseguição política contra Lula”. Outros 41% discordam. Em relação à afirmação de que “a Lava Jato está mostrando que Lula é mais corrupto que os outros políticos”, aparece uma nova divisão: 51% discordam, e 44% concordam.

 

Lula e a opinião pública

Pesquisa Ipsos revela como o eleitorado vê a prisão do ex-presidente e as investigações da Lava Jato

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Ciro e líderes do PDT solicitam visita a ex-presidente na PF

Daiene Cardoso e Julia Lindner

14/04/2018

 

 

Criticado por não estar presente em ato político antes de Lula ser preso, ex-ministro ensaia aproximação com o PT

Diante do mal-estar causado pela ausência de pedetistas no ato político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes da rendição à Polícia Federal, o PDT tentará um gesto de aproximação com o PT. O presidenciável Ciro Gomes, o presidente da sigla, Carlos Lupi, e o líder da bancada na Câmara, André Figueiredo, aguardam apenas a autorização da 12.ª Vara Federal de Curitiba para visitar o petista na prisão, em Curitiba. O pedido deve ser deliberado ainda hoje.

Com o movimento, o PDT tenta dirimir a repercussão negativa do distanciamento de Ciro no momento político mais delicado para os petistas. Até o momento, os dirigentes do partido têm se manifestado por meio de notas e entrevistas criticando a prisão do petista. “O PDT tem demonstrado a todo momento solidariedade. O PDT sempre foi parceiro dele”, disse Figueiredo, vice-presidente da sigla.

Desde que Lula foi preso, o PT não procurou o PDT de Ciro para discutir o cenário eleitoral. Sabendo que os petistas não têm condições de fazer qualquer movimentação sem a anuência de Lula, os pedetistas decidiram dar o primeiro passo em direção ao PT.

Os pedetistas negam, no entanto, a intenção de, durante a visita, pedir o apoio formal de Lula à candidatura de Ciro. Dizem que seria “antiético” tratar de palanque eleitoral na situação em que o ex-presidente se encontra. “Nós fizemos gestos (ao PT)a vida toda”, ponderou Lupi. A visita será na condição de “amigos” para prestar “solidariedade humana” ao ex-presidente.

O gesto de Ciro, entretanto, é visto com desconfiança no PT. A avaliação é de que ainda há uma resistência grande em relação ao nome do ex-ministro, o que já foi captada pelos pedetistas. A ala contrária a Ciro o chama de “traíra” e “oportunista” porque ele sinaliza que “quer voto do PT e de Lula, mas sem o Lula e sem o PT”.

A crítica se deve ao fato de Ciro não fazer defesas ostensivas do ex-presidente, para não perder votos na classe média, ao mesmo tempo em que evita confronto com o PT porque quer se colocar como candidato de esquerda. Petistas lembram que, em meio à “comoção” causada pela prisão de Lula, Ciro disse que ele não era “puxadinho” do PT.

Nos bastidores, a avaliação é de que Ciro poderia ter apoio do PT se receber a “bênção” de Lula. Até o momento, o único gesto do ex-presidente foi em direção a Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila, presentes no ato em São Bernardo do Campo no sábado passado.

 

Alianças

Ciro pode ter PT se receber ‘bênção’ de Lula

 

'Solidariedade'

“O PDT tem demonstrado solidariedade (a Lula) a todo momento. O PDT sempre foi parceiro dele.”

André Figueiredo​, VICE-PRESIDENTE DO PDT

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Prefeitura de Curitiba pede transferência de petista

Pedro Venceslau e Ricardo Brandt

14/04/2018

 

 

Procuradoria do município vê ‘risco grave de lesão da ordem e segurança públicas’ e de ‘transtorno aos moradores’ do local

A Procuradoria-Geral do Município de Curitiba solicitou à 12.ª Vara de Execuções Penais que transfira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado na Lava Jato, para “local seguro e adequado às circunstâncias do caso, restabelecendo-se a ordem, o direito de ir e vir e a segurança da população”.

O petista cumpre pena de 12 anos e 1 mês na sede da Polícia Federal na capital paranaense. De acordo com a prefeitura, manifestações no local têm causado “transtorno aos moradores”. No pedido, a procuradora Vanessa Volpi afirma que, “considerando o clamor social das manifestações a favor e contra a prisão do ex-presidente, inclusive com risco grave de lesão a ordem e segurança públicas, e ainda, o transtorno aos moradores da região”, o município obteve liminar para que fosse impedida a passagem de manifestantes

nas ruas que dão acesso ao prédio da PF. Ela relata que, no entanto, manifestantes pró-Lula montaram acampamento, “em flagrante descumprimento da ordem judicial”.

O Sindicato dos Delegados de Polícia Federal já havia pedido a remoção de Lula por questão de “segurança”.