Título: Receita critica pressa do Serpro
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2012, Política, p. 7
O corpo técnico da Receita Federal, cliente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), confirmou reservadamente ao Correio que tomou conhecimento da intenção da presidência da empresa pública de colocar definitivamente em produção um equipamento da multinacional Oracle, ainda em período de teste sob regime de comodato (quando é emprestado sem ônus). A informação, com base em documento interno do Serpro, foi divulgada ontem pelo Correio. A alegação dos técnicos da Receita, inclusive, é de que, mesmo sendo um produto bastante aguardado, a ordem causou estranheza por ignorar o trabalho de um ano e meio dos funcionários do Serpro para formatação de termo de referência que balizaria a licitação. A ordem fere o contrato de comodato e atropela o processo licitatório.
O projeto em questão é considerado a menina dos olhos do Ministério da Fazenda. De acordo com informações do mercado, o valor pode chegar a R$ 100 milhões. É um dos maiores contratos públicos do ano na área de tecnologia da informação. Trata-se de um supercomputador com capacidade para fazer o cruzamento de todos os dados obtidos pela Receita.
A ordem da presidência do Serpro foi emitida, segundo ata de reunião obtida pelo Correio, em 27 de março. No documento, a informação é direta: "Reforcei que a premissa de ter o ambiente DW em produção no equipamento Exadata em comodato era determinação da presidência do Serpro". O contrato de comodato número 48.270, assinado pelo presidente do Serpro, Marcos Mazoni, com a Oracle do Brasil há dois meses, determina que "os equipamentos ora cedidos serão utilizados pelo Serpro apenas para fins de teste, demonstração e outros fins que não forem de produção".
Contrariamente ao que atesta a ata de reunião, o Serpro, inicialmente, negou que houvesse qualquer determinação para colocar o equipamento em produção. Ontem, em nota oficial, a empresa comunicou que a ata "determinava apenas a criação de ambiente paralelo ao de produção, para que possam ser mensurados com exatidão todos os custos operacionais de migração de dados e de serviços para um possível novo ambiente".
Lentidão O Serpro atestou que realizou, em 2011, testes em máquinas das empresas IBM, Teradata e Oracle. Informações obtidas pelo Correio e não confirmadas pelo Serpro apontam que o equipamento Oracle teria sido avaliado como o mais lento nos testes. "Em razão de não obter os resultados conclusivos necessários, o Serpro determinou nova avaliação. A empresa continua sem nenhum compromisso de realizar contrato com qualquer um dos possíveis fornecedores envolvidos", comunicou.
No fim da nota, o Serpro assegura que, "após finalizada a etapa de testes, incluindo os outros fornecedores, a equipe técnica da empresa elaborará relatório final que confirme ou não a evolução do ambiente para os clientes". A empresa garantiu que "só realizará licitação para a compra de equipamentos após execução de todos os testes, elaboração de relatório conclusivo, apresentação da solução aos clientes e por meio de contrato". A Oracle não quis se pronunciar sobre o assunto.