Correio braziliense, n. 20097, 31/05/2018. Economia, p. 8]

 

Retomada segue lenta e PIB cresce 0,4%

Simone Kafruni

31/05/2018

 

 

CONJUNTURA » Alta do primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2017 foi puxada pela agropecuária. Na comparação com o mesmo período do ano passado, expansão ficou em 1,2%. Greve de caminhoneiros reduz previsões de crescimento para 2018

Rio de Janeiro — A economia brasileira patina e o crescimento de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2018, ainda que acima das expectativas do mercado, mostra que a recuperação do país continua lenta e gradual. A alta foi o quinto resultado positivo, após oito quedas consecutivas, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No segundo trimestre deste ano, contudo, a atividade econômica deve sentir um baque, resultado da greve dos caminhoneiros.

Os dados de 2018 foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também revisou o desempenho do PIB nos trimestres anteriores. A coordenadora das Contas Nacionais da instituição, Rebeca Palis, alertou para os efeitos da crise dos combustíveis. “Todos os indicadores devem sofrer impacto, desde preços até o PIB. Alguns setores tiveram paralisação de produção. O segmento de perecíveis será bastante afetado, assim como o de transporte de cargas. E teremos efeito em cadeia”, projetou. “Mas ainda não há como mensurar isso.”

Para o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira, ex-ministro do Planejamento, é cedo para avaliar os efeitos da greve dos caminhoneiros no PIB. “Foram poucos dias. Ainda não há números, mas não dá para dizer que não haverá impacto”, reconheceu.

No primeiro trimestre do ano, na comparação com o último de 2017, a agropecuária cresceu 1,4%, enquanto indústria e serviços tiveram variação positiva de 0,1%. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,6 trilhão e retornou ao nível do primeiro semestre de 2011. “Voltamos a patamares pré-crise”, disse Rebeca. O último dado positivo antes da recessão foi o quarto trimestre de 2014. “Depois daí, só tivemos queda até o primeiro trimestre de 2017, quando começamos a ter taxas positivas novamente. Estamos com índices baixos, mas positivos”, ressaltou.

Revisão

O ritmo da economia vem subindo numa média de 0,4%, apontou o IBGE, que revisou dados de 2017 divulgados anteriormente. O crescimento do primeiro trimestre do ano passado foi revisto de 1,3% para 1,1%. O dado do segundo trimestre permaneceu positivo em 0,6%. Já nos últimos períodos, houve melhora: a alta do PIB passou de 0,2% para 0,3% no terceiro trimestre, e de 0,1% para 0,2% no último.

De acordo com André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, o índice de 0,4% do primeiro trimestre veio acima da projeção do mercado. “Nossa estimativa era de variação zero. O resultado positivo se calcou, novamente, no comportamento robusto da agricultura, enquanto indústria e serviços permaneceram fracos”, comentou.

Apesar do resultado do primeiro trimestre ter ficado acima da expectativa, a greve dos caminhoneiros fez analistas cortarem a previsão de alta do PIB em 2018. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, reduziu a projeção de 2,5% para 1,9%. “Não descartamos nova redução. A greve está cedendo, mas ainda terá rescaldo relevante na economia. Teremos um segundo trimestre fraco”, disse. A agência de classificação de risco Austin Rating prevê queda de 0,7% no trimestre em curso.

Pelo lado da despesa, o consumo das famílias e o investimento ajudaram o resultado positivo, com expansão de 0,5% e de 0,6% respectivamente. Do lado negativo, os gastos do governo recuaram 0,4%, o que contribuiu, por exemplo, para que a construção civil, que está no vermelho há 16 trimestres seguidos, caísse 0,6% na comparação com o último trimestre de 2017. Outra contribuição negativa veio do comércio exterior, segundo Cláudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, porque as importações (2,5%) cresceram mais do que as exportações (1,3%).

Impostos

Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o PIB teve alta de 1,2%. Pela ótica da produção, a agropecuária caiu 2,6%, a indústria cresceu 1,6% e os serviços tiveram expansão de 1,5%. Cláudia ressaltou que o crescimento do PIB teve grande colaboração dos impostos porque, enquanto o valor adicionado subiu 0,9%, os tributos cresceram 2,9%.

“Para chegar ao preço do consumidor final, o imposto é pesado. A indústria de transformação, que tem mais impostos embutidos que os serviços, teve alta de 4%. Ali tem IPI (Imposto sobre Produtos Importados) e ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Como são impostos líquidos sobre produtos e consumo, houve um crescimento acima da média da economia”, argumentou.

Pela ótica da despesa, os investimentos tiveram o segundo trimestre consecutivo de alta: 3,5% em relação ao mesmo período do ano passado. E o consumo das famílias cresceu 2,8%.

“Para avaliar este desempenho é preciso ver o conjunto macroeconômico. No primeiro trimestre, a inflação está bem mais baixa e os juros, menores”, explicou a gerente do IBGE. “Se for olhar pelo indicador de renda e emprego, ainda é ruim. Mas as operações de crédito estão positivas, as famílias se endividaram para comprar bens de consumo, que foram os que mais cresceram. Se tivesse emprego e renda, em vez de 2,8%, o indicador de consumo teria sido muito maior”, acrescentou.

Outro fator que contribuiu, segundo Cláudia, foi a Páscoa. “Neste ano, o feriado caiu no primeiro trimestre, enquanto, no ano passado, foi em abril. O segmento de supermercados ficou mais aquecido”, justificou. O setor que mais cresceu foi justamente o comércio, tanto atacadista quanto varejista, com alta de 4,5%, reflexo do aumento do consumo das famílias.

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Resultado deixa país na lanterna

Rosana Hessel 

31/05/2018

 

 

Apesar da alta de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) registrada no primeiro trimestre de 2018 em relação ao mesmo período de 2018, o Brasil continua na lanterna de crescimento global. Conforme levantamento feito pela Austin Rating com 43 países que já divulgaram resultados de janeiro a março, o PIB brasileiro ficou na 40ª colocação, empatado com o Reino Unido, em 41º lugar.

Apenas Japão e Noruega registraram crescimentos menores: 0,9% e 0,3%, respectivamente, na mesma base de comparação. A lista foi liderada por Filipinas, cujo PIB saltou 6,8% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo intervalo de 2017. Foi a mesma taxa registrada pela China que ficou na segunda colocação do ranking. O terceiro lugar ficou com a República Dominicana, que teve expansão de 6,4% no mesmo período.

“Normalmente, país desenvolvido cresce menos que emergentes. Reino Unido e Japão estão no lugar certo. O Brasil é que não está”, avaliou Alex Agostini, economista-chefe da Austin, acrescentando que o baixo crescimento da economia britânica também está relacionado com o processo de saída do país da União Europeia.

De acordo com Agostini, o desempenho do Brasil foi o pior entre os países emergentes até o momento nessa base de comparação. “Não há dúvida de que a principal razão de o Brasil continuar na lanterna são os problemas internos”, resumiu o economista, que diminuiu de 2,8% para 2,3% a previsão de crescimento do PIB brasileiro neste ano, ainda assim, porque não quis reduzir muito. “A nossa matriz de cálculos está dando 1,9%”, revelou.

O Chile foi o país latino-americano mais bem colocado, em 14º, com avanço de 4,2% no trimestre. Na sequência, o Peru, que ficou na 22ª colocação, com alta de 3,2%. O PIB da Colômbia, em 33º, cresceu 2,2% e o do México, em 38º, subiu 1,3%.

A taxa de expansão da economia brasileira continua também abaixo da média do crescimento global, de 3,4%, assim como da média de expansão dos países do Brics (grupo de emergentes integrado por Brasil, Rússia, Índia, China), de 3,1%. O Brasil também cresce abaixo da média dos países da Zona do Euro (2,5%), de acordo com o estudo da Austin.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, destacou que o crescimento de 1,2% no PIB do primeiro trimestre é um dado preocupante. Nos últimos três meses de 2017, o avanço foi bem maior, de 2,9%, e tinha sido superior à alta de 2,3% do terceiro trimestre. “Houve uma desaceleração considerável em relação aos trimestres anteriores, e os acontecimentos de maio não sinalizam melhora neste trimestre, pelo contrário”, disse.