Correio braziliense, n. 20097, 31/05/2018. Economia, p. 10

 

Salvação vem do campo

Hamilton Ferrari, Antonio Temóteo e Simone Kafruni

31/05/2018

 

 

CONJUNTURA » Produção agrícola empurra o PIB para cima. Setor teve expansão de 1,4% no primeiro trimestre ante os últimos três meses de 2017. Já o segmento de serviços cresceu apenas 0,1%, frustrando a expectativa dos analista

Assim como ocorreu ao longo de 2017, a agricultura foi fundamental para garantir a alta do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano. A expansão do setor foi de 1,4%, ante os últimos três meses do ano passado. Em contrapartida, os serviços frustram as expectativas, registrando um leve crescimento do 0,1%. De acordo com analistas, o elevado nível de desemprego ainda impõe barreiras à economia.

O economista-chefe do Conselho Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, afirmou que o setor perdeu o fôlego até apresentar praticamente estabilidade. “O ritmo vem minguando. Nas análises trimestrais, desde o segundo semestre de 2017, caiu de 0,7%, foi para 0,6%, depois 0,1% e agora ficou 0,1%”, disse. “Ou seja, decepcionante”, completou.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2017, as vendas dos serviços subiram 1,5% até março. “O setor foi o último a entrar na crise econômica. Ingressou no primeiro trimestre de 2015 e os dados comprovam, agora, que será o último a sair”, explicou Bentes. O economista-chefe declarou que a expectativa é de que o crescimento seja de 1,4% em 2018. “Ou seja, para recuperar os 4,6% perdidos desde o início da recessão ainda tem bastante estrada pela frente”, apontou. “Nós não conseguimos enxergar a luz no fim do túnel, mesmo com inflação baixa”, acrescentou.

Os analistas defendem que isso ocorre porque a taxa de investimentos está baixíssima, em 16% do PIB, prejudicando um crescimento mais expressivo. Além disso, o consumo das famílias aumentou, mas ainda não está em nível satisfatório. Na contramão, o campo continua mostrando força. De acordo com Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, as safras foram recordes para várias culturas no ano passado e, mesmo com a perda de produtividade, há um desempenho positivo na agricultura. “A soja não está caindo, por exemplo, cresce 0,5%, só que a área plantada aumentou”, destacou.

No comparativo entre o primeiro trimestre de 2018 e mesmo período de 2017, contudo, a agropecuária teve uma queda de 2,6%. “Houve perda de produtividade da soja, a quantidade produzida cresceu 0,6%, mas a área aumentou 2,6%. Também houve perda de produtividade em todas as principais culturas com impacto no primeiro trimestre do ano: milho (-13%); arroz (-6,8%) e fumo (-5,8). “O arroz perdeu 57% da colheita, e o milho, um terço”, disse Claudia.

Exportações

Os dados positivos da agricultura refletem na exportação. Ontem, o Banco Central (BC) divulgou que o setor externo teve um superavit de US$ 620 milhões em março. A balança comercial registrou saldo positivo de US$ 5,493 bilhões.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ressaltou que o crescimento das exportações era previsto, diante da quebra de safra de grãos na Argentina e do aumento do preço de outras commodities. Ele destacou que o encarecimento do petróleo e do minério de ferro puxaram as vendas para outros países. Por outro lado, o executivo se disse surpreso com a queda das importações.