Correio braziliense, n. 20095, 29/05/2018. Política, p. 3

 

Dirigente denuncia infiltração

Otávio Augusto

29/05/2018

 

 

CRISE DOS COMBUSTÍVEIS » Presidente da Abcam diz que grupo "que quer derrubar o governo" se aproveita da greve dos caminhoneiros e age para manter os protestos

O acordo assinado pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) e o governo federal, no domingo, não encerrou totalmente as paralisações, e o brasileiro pode esperar mais uma semana de incertezas. O presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes, garante que não são os caminhoneiros oficiais que continuam com o movimento, mas um “grupo intervencionista”. “São pessoas que estão infiltradas no movimento. É um grupo que quer derrubar o governo. Estão usando o caminhoneiro como bode expiatório. São radicais que não usam a força, mas amedrontam”, afirmou.

Segundo Lopes, o governo foi alertado no último domingo sobre a dificuldade de debelar o movimento. A Polícia Federal está ajudando na identificação dos infiltrados. Outra dificuldade é a descentralização das lideranças, que se dividem entre associações, sindicatos e cooperativas estaduais. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e o Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros Autônomos, que nem sequer participou das negociações, não consideram o movimento como debelado.

Até o fim do ano, a situação deve voltar a ser debatida. É que a categoria quer que o governo encontre meios para que a redução do valor do óleo diesel seja permanente. “As medidas estancam a sangria, mas o problema precisa de ações de longo prazo. Até o governo admite isso”, disse um sindicalista que pediu para não ser identificado.

Apesar do pedido da Abcam, que representa 700 mil dos 2 milhões de caminhoneiros, para que os profissionais encerrem a greve, ainda há bloqueios em pelo menos oito estados, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco e Bahia ainda têm pontos de interrupção no tráfego e caminhões parados. O Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) também recomendou aos caminhoneiros que liberem as estradas.

A União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam) pediu aos filiados, porém, que a greve continue até o preço do diesel abaixar nas bombas, um modo de pressionar donos de postos de combustíveis a baixar os preços. Além da redução do valor do diesel, o Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros Autônomos quer o limite de pontuação da carteira, em casos de infração de trânsito, aumente de 50 para 100 pontos, a redução do preço do botijão de gás para R$ 60, o cancelamento de multas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a criação de uma tabela de frete. Eles dizem que continuarão a reivindicar estes pontos com o governo e não descartam a mobilização dos profissionais.

O Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sinaceg) considerou que as medidas anunciadas pelo governo atendem às reivindicações dos caminhoneiros. “Esperamos que a normalidade seja restabelecida nas rodovias brasileiras”, destacou a entidade, em comunicado. “Não temos conhecimento da participação de nossos associados em piquetes ou obstruções nas estradas.”

A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) ressaltou que espera uma rápida normalização do tráfego de ônibus nas cidades.