Correio braziliense, n. 20095, 29/05/2018. Economia, p. 7

 

Gasolina pode ficar ainda mais cara no DF

Bruno Santa Rita

29/05/2018

 

 

CRISE DOS COMBUSTÍVEIS » Sindicombustíveis explica que atraso na chegada de álcool anidro para mistura faz com que preço do litro suba até R$ 0,20. Manifestações em frente à Distribuidora da Petrobras atrasam entrega em postos, e filas se espalham por toda a cidade

As cinco reduções de preços anunciadas pela Petrobras para a gasolina, depois do início da greve dos caminhoneiros, de pouco serviram para o consumidor, que viu dia a dia o preço subir nas bombas, quando conseguiu combustível para abastecer. E a tendência, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do DF (Sindicombustíveis -DF), é que o valor suba ainda mais nos próximos dias, devido à falta de álcool anidro.

De acordo com o sindicato, a gasolina vendida nos postos tem em sua composição 27% de álcool, que é mais barato. Como os caminhões não estão chegando ao DF para que a mistura seja feita nessa proporção, o produto passou a ser vendido com adição de apenas 18%. Com isso, o combustível fica mais caro.

O diretor do Sindicombustíveis, Daniel Costa, explica que a gasolina A (pura) vem de São Paulo para Brasília por duto subterrâneo, já o álcool anidro, depende das rodovias para chegar aos locais. “Só vem por via terrestre. Os caminhões estão retidos nas rodovias”, afirmou. Ele admite a falta de álcool para a mistura, o encarecimento do produto por isso, mas tranquiliza a população de que não vai faltar gasolina. Apesar de garantir que, assim que a situação do álcool anidro for normalizada, a percentagem da mistura retornará a 27%, não consegue especificar quando ocorrerá queda nos preços, mesmo a Petrobras tendo baixado o valor nas distribuidoras. Só calcula o aumento, causado pela mistura menor de álcool anidro. A mudança causará elevação do preço entre R$ 0,18 a R$ 0,20, dependendo de cada empresa que vende o produto.

Ontem, o abastecimento nos postos não estava normalizado e havia muitos estabelecimentos sem gasolina ou etanol para vender. As filas se espalharam por toda a cidade. O Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados do DF (Sinpospetro-DF) estimou que somente 30% dos estabelecimentos na capital tinham produto para vender.  Em pesquisa feita pelo Correio em postos da Asa Sul, Asa Norte, EPTG e SIG, o valor variava de R$ 4,69 até R$ 4,99. Ontem, novas manifestações em frente da Distribuidora da Petrobras, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), atrasaram as escoltas que levariam combustível aos postos.

Segundo a sócia da área de defesa da concorrência do L.O Baptista Advogados, Patricia Agra, o aumento é normal e esperado nessa situação. “Preços subirem por falta de produto é normal”, afirma. A preocupação da advogada, no entanto, é a respeito da possibilidade de alguns empresários fazerem aumentos abusivos embasados na crise que afeta o país. “É difícil dizer qual é o preço justo”, comenta. Ela defende que o Procon e o Cade precisam estar presentes nas ruas para evitar a combinação de preços, o que é caracterizado como cartel.

Sem saída

O técnico em secretariado Romildo da Silva, 46 anos, se queixa dos preços abusivos. “Cheguei a pagar R$ 8 no litro em Águas Lindas. Era isso, ou eu não teria como chegar ao trabalho”, lamentou. Ontem, mesmo contrariado, ficou mais de uma hora para abastecer em um posto do Sudoeste, onde o litro da gasolina estava sendo comercializado a R$ 5. “Não tive saída, infelizmente. Eu estava acostumado a pagar menos de R$ 4,50, e ficava no máximo 10 minutos no posto. Espero que os preços voltem ao normal quando tudo acabar”, comentou.

O Procon informou que a formulação dos preços da gasolina é um processo complexo que leva em conta outros fatores além da porcentagem de álcool anidro presente na composição. Segundo assessoria de imprensa, o órgão está nas ruas com mais intensidade desde quinta-feira (24/5) a fim de checar a existência de aumentos injustificáveis. (Colaboraram Augusto Fernandes, Sarah Peres e Walder Galvão, especiais para o Correio)

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Prejuízo diário de R$ 50 milhões

Renato Souza e Anna Russi

29/05/2018

 

 

A falta de querosene de aviação (QAV) nos aeroportos provoca um prejuízo diário de mais de R$ 50 milhões às companhias aéreas Avianca, Azul, Gol e Latam. Segundo informação divulgada pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), os custos extras envolvem cancelamento de voos, pousos técnicos para abastecimento e atendimento a passageiros que deixaram de embarcar.

Segundo a Abear, foram mais de 270 voos cancelados e outro alterados nos vários aeroportos do país na semana passada. Apesar de a maior parte da malha aérea permanecer em operação, a situação de cancelamentos e mudanças de horários dos voos não tem previsão de se normalizar, em consequência da não reposição ou total ausência de combustível em aeroportos menores espalhados pelo país.

Dos 54 aeroportos administrados pela estatal Infraero, 10 sofrem com falta de combustível, além do  Brasília e o de Guarulhos (SP), gerenciados por concessionárias privadas. Ontem, com a chegada 25 caminhões carregados de QAV, escoltados pelo Exército, as reservas do terminal brasilense alcançaram 55%. Até o dia anterior, quando haviam chegado apenas 10 caminhões, o aeroporto operava somente com 18% da capacidade total de combustível.

Ainda assim, a quantidade de insumo não é suficiente para a normalização das operações aéreas no aeroporto, que, ontem, até às 18h, registrava 15 atrasos e 12 cancelamentos. De acordo com a Inframerica, o reabastecimento garante um dia de operação contingenciada. “A sustentabilidade da operação somente será possível caso o transporte do suprimento até o terminal seja contínuo”, informou a Inframerica, responsável pela administração do terminal.

Antes de ser usado no abastecimento de aeronaves, o combustível que chega ao Aeroporto de Brasília passa por análise para testar sua qualidade. Após os testes, o querosene ainda passa por um período de decantação para ficar apto ao abastecimento. Segundo a Inframerica, o processo leva alguma horas e é realizado com rigor para garantir a segurança das operações aéreas. * Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

Restrição

Um acordo entre a Inframerica e as empresas aéreas que operam no Aeroporto Juscelino Kubitschek determina que o abastecimento continua restrito. De acordo com a concessionária, muitos aviões que chegam à capital têm capacidade para decolar novamente sem abastecer, o que prolonga o querosene dos reservatórios. “A concessionária segue orientando os passageiros para que busquem informações com as companhias aéreas antes de se deslocarem para o Aeroporto de Brasília”, informa nota distribuída pela Inframerica.

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Paralisação programada

Deborah Fortuna

29/05/2018

 

 

O governo até tentou, mas ainda não houve acordo com os petroleiros. Ontem, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, buscou negociar com os profissionais para desmobilizar a greve, mas a paralisação prevista para amanhã ainda está de pé. A categoria promete cruzar os braços por 72h. Caso não haja uma resposta positiva, então, a orientação é de que o movimento dure por tempo indeterminado.

Em nota, a estatal afirmou que “foi notificada pelas entidades sindicais sobre paralisação nos dias 30/5,31/5 e 1º/6. A companhia tomará as medidas necessárias para garantir a continuidade das operações”. A ideia dos petroleiros é “fechar a torneira”. Ou seja, a saída do combustível deve parar. A categoria reivindica o fim do processo de privatização da Petrobras, redução dos preços de combustíveis, do diesel e gás de cozinha.

“Tem a possibilidade de a greve ter um impacto alto. Mas, a gente espera não ter que fazer força e que haja uma negociação rápida”, afirmou o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) Vinícius Camargo. Além disso, para o diretor, a categoria está mais unida e favorável ao ato dessa vez.

Em nota divulgada ontem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) repudiou novos atos. “Não é hora para movimentos oportunistas. Novas paralisações, neste momento, são inaceitáveis”, diz o texto, publicado dois dias antes da paralisação dos petroleiros. “A prioridade deve ser o reabastecimento imediato e aceleração da discussão sobre os problemas estruturais do país”, concluiu.