Título: Clientes da Unimed sofrem em Brasília
Autor: Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2012, Economia, p. 17
Ter um plano de saúde deixou de ser privilégio, pelo menos para os que exibem os cartões da Unimed Brasília. A dificuldade para conseguir marcar uma consulta pode demorar três meses. O duro teste de paciência é vivido por clientes que pagam o plano em dia e já estudam trocar de operadora, sem mesmo esperar o leilão da carteira, que respeitaria prazos de carência, preços e condições.
E se os clientes reclamam, os médicos credenciados também engrossam a fila dos descontentes. Eles se queixam que nem sempre a Unimed repassa a remuneração e, quando ocorre, é muito baixa. A operadora acumula dívidas também com hospitais. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que o edital de licitação da carteira com 8.558 beneficiários ainda está sendo preparado, sem prazo de conclusão.
A decepção do técnico de informática Rêne Guimarães Batista, 36 anos, com a Unimed Brasília se concretizou na semana passada quando sua avó, Maria Aparecida Guimarães, 87 anos, precisou ser atendida na emergência do Hospital Santa Helena, em Brasília. Sem conseguir atendimento, pois o hospital não aceitava mais o plano, ele precisou brigar durante dois dias para internar a parente no Hospital Planalto, administrado pela Unimed. "O serviço está muito ruim. Fiquei com medo de perder minha avó", contou.
O plano de Renê cobre mais três pessoas, além da avó: a mãe Cleusa, 59, o pai, José Carlos, 62, e a filha Milena, 4. O valor da mensalidade chega a R$ 1.730. "A gente paga muito caro e a Unimed não repassa para os médicos. Eles estão deixando de atender os pacientes", lamentou. Renê disse que pretende transferir a família para outra operadora de saúde. "Vou mudar de plano. Não quero ter que passar por esse aborrecimento novamente."
O analista de comunicação Francisco Marques, 48 anos, decidiu cancelar o seu plano, pois não quer mais enfrentar problemas toda vez que precisa marcar uma simples ecografia. "Tentei registrar uma reclamação na ouvidoria da Unimed e eles nem sequer atendem o telefone", relatou. Ele também se queixou da falta de opção a que os clientes da Unimed estão submetidos. "Existem poucos hospitais e clínicas que aceitam o plano. O cliente fica à mercê deles."
Reembolso Além de Marques, a administradora Claudjane Corrêa também sofre com o péssimo atendimento nos hospitais credenciados da Unimed Brasília. Ela contou que, mesmo pagando R$ 730 mensais, quando precisou de um ortopedista de emergência, não encontrou nenhum na rede credenciada. "Cheguei ao único hospital que aceita o plano e nada", disse. Para solucionar o problema, Claudjane recorreu a uma clínica particular e antes de ser medicada teve que deixar um cheque calção de R$ 904 — o que é proibido. Ela exigiu que a operadora lhe reembolsasse o prejuízo, o que levou mais oito dias. "Liguei direto na auditoria, ameacei ir ao Procon, mas consegui resolver", lembrou.
A aposentada Maria da Paz Gonçalves, 68 anos, é outra a enfrentar problema. Ela precisa operar de catarata e só para marcar a consulta com o oftalmologista levou quase um mês. A demora fez com que desistisse. Ela vai arcar com R$ 1,4 mil para não perder a visão. Procurada pelo Correio, a Unimed Brasília não se manifestou.
Prejuízo geral A situação da Unimed Brasília está contaminando o atendimento aos clientes da rede em todo o país. Temerosos de que o problema possa implicar recusa no atendimento, muitos buscam outros planos. A Agência Nacional de Saúde (ANS) não tem prazo para o leilão da carteira dos 8.558 clientes do DF. Quem tem plano nacional da operadora também não é atendido na capital do país.