Correio braziliense, n. 20096, 30/05/2018. Política, p. 2

 

Ofensiva para acalmar os ânimos

Alessandra Azevedo e Gabriela Vinhal

30/05/2018

 

 

CRISE DOS COMBUSTÍVEIS » Acuados com a manutenção da greve dos caminhoneiros, Temer, Eunício e Rodrigo Maia discutem estratégias para evitar que o movimento ganhe contornos políticos e seja usado a favor de uma intervenção militar. Líderes da categoria pedem o fim de bloqueios

Nem redução no preço do diesel nem mudança na política de preços da Petrobras. Os discursos de caminhoneiros que continuam em greve, mesmo após o governo ter garantido comprometer as contas públicas para ceder em praticamente todas as reivindicações da categoria, têm rapidamente migrado para tons políticos e ameaças de intervenção militar que acenderam a luz de alerta no Palácio do Planalto. Enquanto as principais entidades representantes dos caminhoneiros pedem o fim da greve por já estarem satisfeitas com o que foi oferecido pelo presidente Michel Temer, lideranças difusas e com objetivos incertos resistem a desbloquear as rodovias. Preocupados, os poderes Legislativo e Executivo se uniram para tentar apagar o incêndio. A pouco mais de quatro meses das eleições, o importante é fechar todas as brechas que possam ser ocupadas por discursos a favor de uma intervenção militar.

Com o objetivo de demonstrar a força das instituições democráticas, Temer se encontrou ontem com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Terminaram a reunião com uma nota conjunta, na qual ressaltam a importância de “evitar que, tendo alcançado seus objetivos, esse movimento venha a ser usado com objetivos políticos”. Asseguraram ainda que “os poderes Executivo e Legislativo estão unidos na defesa dos interesses nacionais” e assumiram, mais uma vez, “o compromisso de aprovar e colocar em prática, no menor tempo possível, todos os itens do acordo”. A lista inclui demandas essenciais da categoria, como redução a zero da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e o PIS-Cofins para o diesel por dois meses e a garantia de reajustes mensais no preço do combustível.

Promessa

O acordo com o governo é reconhecido pelas lideranças que iniciaram a greve. Presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes afirmou ontem que “o verdadeiro caminhoneiro” apoiou a negociação. “Não sei quem são aqueles que vinham de máscara para quebrar este país em eventos passados, só que agora eles estão sem máscaras e estão começando a aparecer.” “O que venho pedir aqui é uma ação rápida para acabar com essas infiltrações, acabar com essa pouca vergonha que está no meio do caminhoneiro”, declarou, no plenário da Câmara.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, o movimento não tem motivo para continuar, pois o governo já “cumpriu exatamente aquilo que tínhamos proposto”. “Recebemos a informação de que existem caminhoneiros com vontade de terminar a greve, mas não estão conseguindo deixar os locais de manifestação”, disse, após uma reunião com representantes do governo do Paraná e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Curitiba.

Para reforçar que todos os itens prometidos serão executados, Eunício pautou ontem mesmo o projeto de lei que trata da reoneração da folha de pagamento, que incluía a demanda de redução a zero do PIS-Cofins para o diesel. O texto foi rapidamente aprovado por senadores que também estão atentos às movimentações externas (leia mais na página 4). Líder do MDB no Senado, Simone Tebet (MS) afirmou que “todos estão preocupados com uma possível ameaça à democracia”. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), líder do partido na Casa, definiu o momento como de “instabilidade absoluta”. “A crise é séria. Por isso, é importante que todos se unam”, alertou.

A mesma percepção foi observada nas tribunas e corredores da Câmara. Ontem, ao chegar na Casa, Maia afirmou que é preciso “reafirmar a democracia” e lembrou ter considerado precipitado o emprego das Forças Armadas no desbloqueio das rodovias, na semana passada. Pessoas próximas ao presidente da Câmara afirmam que há, de fato, uma preocupação com o cenário, que levou à reunião na segunda-feira com outros deputados, de direita e esquerda, para discutir o assunto. Um dos governistas afirmou que o movimento, agora, é composto por “pessoas de extrema direita que estão querendo emplacar uma pauta que não tem nada a ver com as demandas dos caminhoneiros”. Segundo ele, o objetivo é que não haja eleições.

O assunto foi levado à tribuna por parlamentares de todos os espectros políticos. “Temos que defender nossa democracia e ir contra os fascistas que estão se juntando às greves para pedir intervenção militar. Esses não têm memória e não têm história”, disse o deputado Marcon (PT-RS), enquanto um grupo de quase 100 pessoas carregava uma faixa pela intervenção militar, em frente ao Congresso.

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Ministro descarta ditadura

Rodolfo Costa

30/05/2018

 

 

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Sérgio Etchegoyen, rechaça a possibilidade de uma intervenção militar no país. Etchegoyen qualifica o tema como “assunto do século passado”. “Vivemos no século 21”, afirmou.

Etchegoyen é general da reserva do Exército e, ainda, tem muito respeito e trânsito entre militares. E assegura que outros oficiais pensam como ele sobre a intervenção. “O farol que eu uso para me conduzir é muito mais potente do que o retrovisor. Não vejo nenhum militar ou integrante das Forças Armadas pensando nisso”, afirmou.

Para o ministro, os pedidos de  intervenção são sinais de erros nas políticas de governos anteriores, mas ele prega que tudo seja solucionado com diálogo. “(A intervenção) é um assunto do século passado. Uma pergunta que, do ponto de vista pessoal, não vejo mais nenhum sentido de perspectivas do passado político, dada a maturidade do povo brasileiro. Mas ainda existem algumas pessoas que acham que essa alternativa é possível. Era importante termos ideia e saber o porquê. Para saber onde nós, que fazemos política, erramos”, ponderou.

O ministro diz que entende a defesa que alguns fazem das Forças Armadas. São instituições com “credibilidade de mais de 80%” e que auxiliam a vida da população nos locais mais distantes do país, mas fez  críticas a quem entende que os militares devam ter uma atuação além das vias constitucionais. “Se isso inspira em alguém o sentimento além de suas funções constitucionais, talvez essas pessoas voltassem mais à mediocridade do que ao sucesso”, criticou.