O Estado de São Paulo, n. 45473, 18/04/2018. Política, p. A6.
'Decisão judicial se respeita e lei é para todos', diz Alckmin
Renan Truffi e Julia Lindner
18/04/2018
O presidente do PSDB e précandidato ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, disse ontem que a decisão do Supremo Tribunal Federal de tornar réu o senador Aécio Neves (MG) “precisa ser respeitada” e ressaltou que a “lei é para todos”. “Não existe Justiça verde, amarela, azul, vermelha, existe Justiça. Decisão judicial se respeita e a lei é para todos, não tem distinção. Claro (que vejo com tristeza), mas ele (Aécio) vai ter a oportunidade de se defender”, disse o tucano em evento.
A declaração de Alckmin deu o tom da postura do PSDB em relação ao envolvimento de um dos seus principais quadros em ação que apura suspeita de corrupção e obstrução da Justiça. Senadores tucanos e até deputados do grupo mineiro procuraram dissociar o caso de Aécio, que já foi presidente do PSDB, da conduta geral do partido.
Parlamentares do grupo ligado a Alckmin defendem nos bastidores que Aécio desista de disputar cargo nas eleições deste ano para evitar desgastes à campanha presidencial e à do senador Antonio Anastasia (PSDBMG) ao governo de Minas. Aécio estuda concorrer à reeleição.
“Para o conjunto do partido, é melhor (que Aécio não seja candidato). Mas é uma decisão de foro íntimo”, disse ao Estadão/Broadcast o deputado Lobbe Neto (PSDB-SP). Para o deputado João Gualberto (PSDBBA), o desgaste depende do cargo ao qual Aécio seria candidato. “Se ele for a senador, é uma coisa, se for para deputado federal, é outra”, afirmou.
Aliados de Aécio dizem que ele ainda não decidiu o que fazer. “Ele está focado na defesa. A questão da candidatura só vai ser colocada em junho e a decisão será dele”, declarou o deputado Marcus Pestana (MG), secretário-geral do PSDB.
Descolamento. Antes mesmo do início do julgamento no STF, a narrativa na sede do partido era de que o fato discutido na Corte é de caráter “pessoal”, “particular”, sem relação com o partido. “Temos que separar o público do privado, o partido trata de questões de interesse público. Esse assunto é particular do Aécio, o que nos deixa em situação de dificuldade dada a relação que temos com ele”, afirmou o senador Roberto Rocha (PSDB-MA).
Aliado de primeiro linha de Aécio, o presidente do PSDB de Minas, o deputado Domingos Sávio, endossou o ponto de vista. “Era previsível (o resultado do julgamento), mas não é que seja uma coisa natural. Agora é a oportunidade dele se defender. A coisa do Aécio está dissociada da política”, afirmou. “Aécio queria o melhor para Minas Gerais e já conseguiu isso, agora ele vai cuidar da defesa.”
Vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que a decisão do STF foi um “amadurecimento das instituições e da democracia”. Para o senador, o partido sempre defendeu a independência das investigações e vê com naturalidade as decisões do Judiciário.
“Estamos construindo um Brasil onde a lei e a Justiça devem servir para todos. Portanto, é preciso acatar a decisão”, disse ele, ponderando que a investigação não pode ser confundida com a condenação prévia./ COLABOROU IGOR GADELHA
AÉCIO NO SUPREMO
• O senador tucano, que virou réu ontem, ainda é investigado em oito inquéritos em tramitação na Corte; ele nega irregularidades
Ação penal e investigações
DELAÇÃO DA J&F
CASO
Gravação de Joesley Batista 1
CRIMES INVESTIGADOS
• Corrupção
• Obstrução da Justiça
O QUE DIZ
Segundo a denúncia, baseada em de Joesley passiva delação da J&F e acolhida ontem Batista 1 pela Primeira Turma do Supremo, Aécio cobrou e recebeu propina de R$ 2 milhões repassada pelo grupo empresarial, e tentou obstruir investigações da Justiça
SITUAÇÃO
RÉU
CASO
Gravação de Joesley Batista 2
CRIMES INVESTIGADOS
• Lavagem de dinheiro
O QUE DIZ
Também aberta com base na delação do Grupo J&F, investigação apura lavagem de dinheiro por parte do senador no episódio dos RS 2 milhões
SITUAÇÃO
INVESTIGADO
DELAÇÃO DA ODEBRECHT
CASO
Campanha de 2010
CRIMES INVESTIGADOS
• Corrupção passiva
• Lavagem de dinheiro
O QUE DIZ
Segundo delação da Odebrecht, em 2010, a pedido de Aécio, foram repassados R$ 5,4 milhões em "vantagens indevidas" à campanha de Antonio Anastasia ao governo de Minas
SITUAÇÃO
INVESTIGADO
CASO
Campanha de 2014
CRIMES INVESTIGADOS
• Corrupção passiva
• Corrupção ativa
• Lavagem de dinheiro
O QUE DIZ
Delatores da Odebrecht relataram repasse de caixa 2, a pedido de Aécio, para a campanha presidencial do tucano em 2014
SITUAÇÃO
INVESTIGADO
CASO
Campanha de 2014
CRIMES INVESTIGADOS
• Corrupção passiva
• Corrupção ativa
• Lavagem de dinheiro
O QUE DIZ
Segundo delatores da Odebrecht, Aécio requereu naquele ano vantagens indevidas, a titulo de repasses eleitorais, para si e aliados
SITUAÇÃO
INVESTIGADO
CASO
Cidade Administrativa
CRIMES INVESTIGADOS
• Corrupção
• Formação de cartel
• Fraude a licitações
O QUE DIZ
Investigação apura irregularidades na construção da Cidade Administrativa, sede do governo mineiro construída na gestão de Aécio
SITUAÇÃO
INVESTIGADO
CASO
Usinas hidrelétricas
CRIMES INVESTIGADOS
• Corrupção ativa,
• Corrupção passiva
• Lavagem de dinheiro
O QUE DIZ
Também baseado na colaboração da Odebrecht, inquérito apura propina para que Aécio favorecesse a empreiteira nas obras das usinas do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau
SITUAÇÃO
INVESTIGADO
DELAÇÃO DE DELCÍDIO AMARAL
CASO
CPI mista dos Correios
CRIMES INVESTIGADOS
• Gestão fraudulenta de instituição financeira
• Falsidade ideológica
• Corrupção passiva qualificada
• Lavagem cie dinheiro
O QUE DIZ
Investigação apura se Aécio atuou para "maquiar" dados da CPI mista dos Correios, em 2005, para esconder informações da comissão
SITUAÇÃO
INVESTIGADO
CASO
Fumas
CRIMES INVESTIGADOS
• Corrupção passiva
• Lavagem de dinheiro
O QUE DIZ
Inquérito apura suspeita de pagamento de propina em um esquema de desvio cie recursos na empresa do setor elétrico
SITUAÇÃO
INVESTIGADO