Título: Dilma assiste a fracasso para integrar Cuba à OEA
Autor: Filizola, Paula
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2012, Política, p. 5

Volta da ilha à entidade divide latino-americanos, Estados Unidos e Canadá. Sem a garantia da presença do país caribenho no próximo encontro, nações recusam assinar declaração final

A falta de consenso sobre a participação de Cuba nas próximas reuniões da Organização dos Estados Americanos (OEA) inviabilizou a assinatura de uma declaração conjunta entre os 31 líderes presentes na 6ª Cúpula das Américas, em Cartagena das Índias, Colômbia. O impasse, aliado ao cancelamento de uma reunião com o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, forçou um retorno antecipado da presidente Dilma Rousseff ao Brasil. O clima de tensão também fez a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, voltar para casa, devido à falta de posicionamento dos Estados Unidos sobre a questão das Malvinas.

O tema central do impasse entre os países acabou sendo a presença de Cuba na OEA. O governo brasileiro é um dos que apoia a volta da ilha comunista aos debates do organismo mundial — o país foi excluído em 1962. Durante o evento em Cartagena, Dilma afirmou que os países latino-americanos não deveriam organizar outras cúpulas sem a presença cubana. O assessor presidencial para Assuntos Internacionais do Brasil, Marco Aurélio Garcia, disse que os presidentes não assinaram a declaração final devido à decisão dos Estados Unidos e do Canadá de vetar a proposta de convite a Cuba para as próximas cúpulas e de não apoiar a reivindicação argentina de soberania sobre as ilhas Malvinas, sob controle da Grã-Bretanha.

Para o presidente da Colômbia, é necessário uma mudança de postura. Ele disse ainda que o encontro do fim de semana pode ser o último do gênero, que os líderes não chegaram a um consenso sobre o tema. "O isolamento, o embargo, a indiferença, olhar para o outro lado vêm sendo ineficazes", disse Manuel Santos. Os ministros do Exterior de Venezuela, Argentina e Uruguai apontaram que seus países só iriam assinar a declaração caso os EUA e o Canadá permitissem a futura participação de autoridades cubanas. Já os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Nicarágua, Daniel Ortega, preferiram boicotar o evento.

Exclusão

A Bolívia está entre os países que insistiram para que a 6ª Cúpula seja a última, a menos que Cuba seja convidada para os eventos no futuro. "Aqui todos os países da América Latina e do Caribe querem que Cuba esteja presente, mas os Estados Unidos não aceitam. É como uma ditadura. De que tipo de integração estamos falando se excluirmos Cuba?", questionou o presidente boliviano Evo Morales. Venezuela, Equador, Nicarágua e algumas nações caribenhas também afirmaram que não participarão de cúpulas futuras se Cuba continuar excluída.

A falta de consenso sobre o apoio norte-americano na disputa com o Reino Unido pelas Ilhas Malvinas também causou desconforto entre os líderes mundiais. Ainda pela manhã, logo após a foto oficial da 6ª Cúpula das Américas, a presidente argentina Cristina Kirchner deixou Cartagena antes do fim do evento em protesto.

É como uma ditadura. De que tipo de integração estamos falando se excluirmos Cuba?"

Evo Morales, presidente da Bolívia